Locais de difícil acesso desafiam a chegada de ajuda humanitária em pontos críticos
Milhares de pessoas continuam desaparecidas em Uttarakhand, estado do norte da Índia, após inundações devastadoras ocorridas no mês de junho. A ajuda humanitária luta para chegar às áreas atingidas pelo desastre. A força das inundações chegou a derrubar prédios inteiros e desabrigar um grande número de trabalhadores.
“Neste momento, estamos trabalhando em atender às necessidades básicas específicas”, disse Anshu Gupta, fundador e diretor da organização não-governamental Goonj”. Devido à falta de acessibilidade, as chuvas e os terrenos difíceis, a ajuda está chegando a lugares limitados e em pequenas quantidades. Por isso vai demorar mais tempo para atendermos todas as áreas atingidas”.
Goonj montou um acampamento base na cidade de Rishikesh e um sub-campo em Guptkashi, duas das regiões mais afetadas pelas enxurradas. De acordo com Gupta, doações de toda a Índia chegaram por meio de caminhões até Rishikesh. Apesar dos donativos, a ajuda humanitária precisa de itens específicos. Segundo Gupta, muitas doações têm sido feitas sem que a real demanda seja considerada. A ajuda sem os conhecimentos geográfico e cultural tem limitado a atuação dos voluntários.
“Há uma série de áreas que receberam donativos que precisam de complemento para se tornarem efetivos. É o caso do arroz, que precisa de panelas e dos comprimidos de purificação de água, que estão sem baldes para realizar o processo”, afirma o diretor. “As pessoas estão emocionalmente envolvidas com grandes esforços e com boas intenções, mas quando chegam aqui, enxergam que as realidades são diferentes”.
Gupta revela que a ideia inicial de sua organização era utilizar mulas como meio de transporte até às regiões de difícil acesso, onde a chegada de caminhões é inviável.
“Pensamos em usar correntes humanas e mulas, mas logo percebemos que milhares desses animais, que são a principal fonte de sustento para centenas de pessoas, também foram levados com a água”, disse Gupta.
O exército indiano, que lidera as operações de resgate, conta com o apoio de um médico veterinário e dois paramédicos para prestar socorro aos animais afetados pela enchente, como pôneis e mulas, alguns dos principais meios de transporte no terreno irregular do Himalaia.
Outra forma possível de locomoção na região são veículos de pequeno porte, como jipes. Apesar do escasso número de automóveis nas equipes, os grupos realizam um trabalho ostensivo nas áreas de acesso crítico.
A organização de Gupta também conta com a ajuda da comunidade esportiva praticante de rafting e de outras modalidades de esportes de aventura, atividades que tornam Uttrakhand um popular destino turístico. O conhecimento intenso das terras da região facilita o trabalho do grupo de voluntários. “Eles estão muito familiarizados com o terreno, que proporciona momentos de tomadas de decisão e exige habilidades e uma forte conexão emocional com as aldeias”, disse ele.
Até dia 9 de julho, o Ministério das Ferrovias do país transportará gratuitamente material de ajuda humanitária, como alimentos, medicamentos, roupas e materiais de construção a partir de qualquer estação na Índia com destino a Uttarakhand.
Até o momento, cerca de 3.700 vítimas continuam desaparecidas após as inundações. Logo após os desastres, Estados e empresas indianas doaram 30 milhões de dólares para grupos de resgate. As autoridades indianas têm prometido gastar 165 milhões de dólares para auxiliar o trabalho de campo humanitário. De acordo com um comunicado de imprensa do gabinete do primeiro-ministro, foram liberados dos cofres públicos 24 milhões de dólares para ajuda na catástrofe.
Segundo Gupta, o desafio para os trabalhadores humanitários é enorme, já que muitos deles também perderam suas ferramentas de trabalho. Não há estimativa para o alcance de todas as regiões afetadas e com a aproximação do inverno, a ajuda se transforma em uma realidade cada vez mais difícil, fator que gera preocupação do governo e das agências de ajuda humanitária.
“Nosso trabalho de assistência vai continuar para os próximos dois meses. O inverno vai atingir em breve o Estado, o que será um desastre para as vítimas das enchentes”, conclui Gupta.
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