A atmosfera em Taiwan ficou mais tensa após o bruto despejo de estudantes do prédio executivo do governo na madrugada de 24 de março. Cenas de violência irromperam enquanto alguns policiais atacaram com seus cassetetes os estudantes desarmados. No dia seguinte, o povo de Taiwan se conscientizava do ocorrido.
Os confrontos ocorreram em grande parte diante do Executivo Yuan, em Taipei, capital de Taiwan, quando a polícia de choque tentou dispersar os estudantes que protestavam contra um acordo comercial com a China continental.
Mais de cem pessoas ficaram feridas no confronto e 61 manifestantes foram presos, segundo a NextTV de Taiwan.
A forte indignação pública foi desencadeada pelo uso de canhões de água em milhares de manifestantes em torno de 4h30. Quando dia raiava, mais manifestantes da capital e de todo o país apareceram para mostrar seu apoio.
“Isso é a violência brutal do Estado diante dos meus olhos… Isso não é aceitável para qualquer um de nós”, disse Lin Fei-fan, uma líder ativista estudantil, no Legislativo em 24 de março. O vídeo de sua fala para a câmera foi publicado no website do Apple Daily, um jornal popular na ilha.
“O governo de Ma Ying-jeou deve assumir a responsabilidade política pela dispersão violenta dos estudantes… Eles não perguntam por que os estudantes ocupararam o Parlamento e o Executivo Yuan, por que tomamos medidas, porque estamos com raiva e o que esperamos no futuro. Em vez disso, sua resposta ao apelo do povo é reprimir com a polícia de choque usando cassetetes, escudos e canhões de água.”
Lin pediu ao governo que respondesse aos apelos dos alunos.
O presidente Ma Ying-jeou, do Partido Nacionalista no poder, que foi reeleito em 2012, fez um discurso em 23 de março, indicando que o governo concorda com uma revisão cláusula por cláusula do disputado acordo de comércio com a China. Ele pediu que os estudantes que ainda ocupam o Legislativo saiam em breve.
A resposta foi dificilmente considerada satisfatória para os manifestantes, que agora exigem a rescisão completa do pacto e que o presidente Ma peça desculpas por tentar aprová-lo sem seguir os procedimentos de revisão combinados.
Eles alegam que isso dizimará a economia de Taiwan, permitindo que a China continental, governada pelo Partido Comunista Chinês, influencie Taiwan indevidamente. “Estamos muito desapontados”, disse um manifestante à oficial Agência Central de Notícias, após a conferência de imprensa de Ma. Líderes estudantis disseram que não deixarão o Legislativo até que o acordo seja cancelado.
Wang Jin-pyng, o presidente do Legislativo Yuan, que os estudantes mantêm ocupado, é um adversário político de Ma Ying-jeou, e tomou a decisão de permitir que os estudantes invadissem as câmaras, e cabe a ele se a polícia os removerá violentamente.
O acordo de comércio entre o governo de Taiwan e a China Continental foi assinado em junho passado em Shnaghai numa reunião de alto nível entre os dois lados. Os partidos da oposição e grupos civis imediatamente abordaram preocupações sobre o pacto, chamado de Acordo de Comércio e Serviço pelo Estreito, porque foi concebido sem a participação do Parlamento ou do público em geral.
O pacto recebeuo apelido hostil de “projeto caixa preta”, em referência a sua falta de transparência. Em 17 de março, Chang Ching-chung, um legislador dos nacionalistas no poder, anunciou abruptamente a conclusão da revisão do acordo comercial antes dela sequer ter começado. Isto levou os estudantes a ocuparem a Assembleia Legislativa no dia seguinte.
Mais pessoas se juntaram aos protestos desde a repressão em 24 de março, incluindo familiares dos manifestantes, segundo a NextTV. Um grande número de pais e avós irritados e preocupados saíram às ruas na segunda-feira, condenando a violenta repressão do governo sobre seus filhos e netos. “Nossos filhos não são inimigos!”, “Isso ainda é Taiwan?”, clamaram os parentes segundo resportagens de Taiwan.
Além da ocupação do Legislativo, outros protestos foram organizados por estudantes e cidadãos de toda a Taiwan e na capital de Taipei na segunda-feira. A maioria deles pediu à polícia que libertasse os manifestantes detidos e paresse a violência.