O ano que vem será difícil, leitor, para a economia brasileira. Há economistas, inclusive interlocutores do governo, que nomeiam a combinação de rebaixamento do rating brasileiro pelas agências de classificação de risco com o início do fim dos estímulos do banco central norte-americano de: Tempestade Perfeita. Ainda que a ocorrência de tais eventos seja pouco provável no primeiro semestre, é difícil não temer sua realização. Afinal, a situação fiscal brasileira, ao contrário do que pode pensar, por exemplo, o banco central brasileiro, não dá sinais de que melhorará em 2014. E isso pode, sim, suscitar uma reavaliação por parte das agências de classificação. Ademais, o FED uma hora ou outra reavaliará o programa de compra de títulos de mais longo prazo de maturação, haja visto o custo fiscal imposto por essa iniciativa. Provável ou não sua dupla ocorrência no ano que vem, o fato concreto é que já começaremos 2014 intranquilos, com o cenário macroeconômico sujeito a fortes trovoadas.
As perspectivas para 2014 e a busca pela credibilidade perdida por parte do banco central brasileiro é o tema que exploramos na Carta de Conjuntura desse mês no GECE/UFF. Fizemos uma breve análise das principais variáveis macroeconômicas nos últimos anos, incluindo nível de atividade, inflação, balanço de pagamentos e desemprego. Após isso, estimamos os efeitos de uma desvalorização do câmbio sobre os preços domésticos – conhecido na literatura como pass-through. O problema norte-americano e a ainda cambaleante situação do mercado de trabalho é analisada em seguida. Por fim, concluimos a carta examinando o que deve preocupar a autoridade monetária se o objetivo for de fato recuperar a credibilidade.
Os tempos, afinal, são mesmo difíceis, o mar é revolto, como cita Ben Bernanke, o até então presidente do Federal Reserve. Não se deve, entretanto, confundir tempos difíceis com licença para cometer todo o tipo de atrocidades. Não foi isso, por exemplo, que fizeram Chile, Peru e Colômbia, países que apresentam situação macroeconômica muito melhor do que a brasileira – inclusive em termos de crescimento. Se em 2013 nosso crescimento per-capita será em torno da nulidade (descontado os efeitos estatísticos), para 2014 não se espera nada de melhor. Em síntese, a nova matriz macroeconômica, inventada ao sabor de visita a um passado inglório para o desenvolvimento brasileiro, não vai mostrando resultados muito saborosos – como já era sabido, ex-ante, por quem se deu o trabalho de ler o livro-texto.
Espero com a carta contribuir com o entendimento do leitor sobre os desafios que estarão em cena no próximo ano, com ênfase no campo que temos maior afinidade, a política monetária. A carta pode ser lida na íntegra aqui.
Vítor Wilher é escritor e economista, com formação mista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É membro do Instituto Millenium e colabora com a Fundação Konrad Adenauer no Brasil.