Policiais em Hong Kong testarão o uso de pequenas câmeras usadas junto ao corpo. Segundo a polícia, as câmeras são uma tentativa de reduzir a criminalidade, enquanto grupos de direitos humanos argumentam que esta nova tecnologia invadirá a privacidade dos cidadãos de Hong Kong.
Um número desconhecido de policiais usarão pequenas câmeras durante um período experimental de três meses, informou Diário da Manhã do Sul China no início desta semana. Os dispositivos serão colocados em unidades da polícia tática e nas unidades de emergência Oeste Kowloon.
Cada câmera custa HK$ 6.800 (US$ 875), tem o tamanho de um maço de cigarros e fica presa no uniforme da polícia. As autoridades esperam que as câmeras detenham o crime, mantenham a polícia na linha durante protestos ou em períodos de instabilidade civil e ajudem a coletar provas.
Alguns policiais dos Estados Unidos e do Reino Unido já utilizam câmeras semelhantes e um pequeno ensaio começou na Austrália, apesar das preocupações com a privacidade.
Se o esquema for considerado um sucesso, a força policial de Hong Kong comprará cerca de 7 mil dos pequenos dispositivos.
No entanto, grupos de direitos humanos expressaram preocupação sobre o ensaio.
Law Yuk-kai, chefe do Monitor de Direitos Humanos de Hong Kong, disse que filmar aleatoriamente o público viola o “direito constitucional à privacidade” das pessoas em Hong Kong e ameaça a liberdade pessoal, informou a AFP. Law Yuk-kai disse que a polícia poderia usar câmeras para monitorar protestos de ativistas políticos contra o regime da China continental, porque atualmente não há leis a respeito do uso das pequenas câmeras.
“Isso criará um clima de medo e transformará a cidade num estado policial com o Big Brother nos observando o tempo todo”, disse Law Yuk-kai à agência de notícias.
Ao mesmo tempo, as câmeras também irão dissuadir as pessoas de participar em protestos pró-democracia, disse o ativista Richard Tsoi, vice-presidente da ‘Aliança de Hong Kong em Apoio aos Movimentos Patrióticos e Democráticos na China’, no artigo. “As pessoas têm medo de serem filmadas […] Elas não sabem como o filme será usado e como será preservado.”
Hong Kong é considerada uma zona semiautônoma que, ao contrário da China continental, tem importantes garantias de liberdade pessoal, incluindo direitos à liberdade de expressão, reunião e consciência. Num exemplo, cerca de 180 mil moradores participaram de uma vigília à luz de velas no início de junho para marcar o massacre de 1989 na Praça da Paz Celestial (Tiananmen).
Uma fonte não identificada com conhecimento do plano das câmeras disse ao Morning Post que os dispositivos só seriam usados quando “considerados necessários” e durante grandes incidentes.
No entanto, o legislador James To Kun-sun advertiu que “incidentes que se beneficiariam de imagens de vídeo são poucos e raros e não justificam vigilância deste tipo”, segundo o jornal.
“[Adotar isso] é uma grande mudança política. Até a polícia admitiu que 99% dos protestos em Hong Kong são completamente pacíficos, então, com que frequência precisaremos ‘monitorar’ situações?”, questionou ele, sugerindo que ao invés disso a polícia deveria “levar uma câmera de vídeo normal em protestos”.