O aumento no número de estudantes universitários, combinado com uma economia em desaceleração, tem resultado numa baixíssima taxa de emprego para graduados chineses.
Numa conferência de imprensa em 25 de julho, um porta-voz do Ministério de Recursos Humanos e Segurança Social disse que apenas 560 mil dos 7,27 milhões de graduados universitários, ou 7,7%, assinaram contratos de trabalho no primeiro semestre do ano.
O ano de 2014 teve 300 mil graduados a mais do que em 2013 e um milhão a mais do que em 2010, um novo recorde no número de diplomados. Segundo reportagens da mídia chinesa, o ano passado foi considerado o mais difícil para os recém-formados conseguirem emprego na China, mas este ano está sendo pior.
Muitos recém-formados optam por não procurar emprego logo após a formatura devido às dificuldades de se conseguir um trabalho. Um estudante chinês de Gestão Econômica de sobrenome Bo disse ao jornal China Times que embora ele e muitos colegas tenham decidido cursar a faculdade, “há muitos recém-formados agora e, mesmo que você se gradue numa universidade de elite, o mercado de trabalho não é promissor”.
“O alto número recorde de graduados e anos sucessivos de queda no mercado de trabalho devem despertar as consciências e estimular a autorreflexão de departamentos competentes e faculdades”, disse um estudioso anônimo do sistema de educação da China ao China Times.
O estudioso indicou que o aumento do número de matriculados universitários nos últimos anos e a industrialização da educação têm criado um grave desequilíbrio entre o número de graduados, a qualidade de sua formação e as necessidades da sociedade.
Muitos dos recém-formados também buscam posições mais altas do que suas capacidades, o que leva à rejeição de suas candidaturas de emprego, disse o estudioso.
A taxa de emprego de 7,7% é extremamente baixa quando comparada com uma medida diferente, a “taxa de emprego inicial”. Em 2013, a taxa de emprego inicial foi em torno de 70%. No entanto, há problemas na forma como a taxa de emprego inicial é calculada. Essa taxa inclui aqueles que continuam sua especialização, que estudam no exterior ou que são autônomos.
O número de estudantes universitários que decidem estudar no exterior tem aumentado nos últimos anos, e mais de 1,7 milhão de alunos se candidataram para universidades estrangeiras e mais de 500 mil vão para o estrangeiro a estudo, segundo dados oficiais do Ministério da Educação da China.
Uma série de governos provinciais e municipais publicaram recentemente números positivos de taxas de emprego inicial, com alguns alcançando até 80-90%. No entanto, especialistas apontam que muitas lacunas e fraudes são usadas para dar uma boa aparência aos dados, segundo a agência de notícias estatal Xinhua.
Contratos falsos de trabalho são comuns na China. Algumas universidades e faculdades exigem um contrato de trabalho como uma condição que influencia se um estudante poderá se graduar sem problemas.
“Minha escola nos informou que, se não tivermos contratos de trabalho, teremos de apresentar uma defesa pública [para se graduar]”, disse um estudante chinês do último ano na província de Hunan à Xinhua. “Estamos com medo de que uma defesa pública seja mais rigorosa e, se não conseguirmos, não poderemos nos formar.”
O estudante indicou que alguns dos alunos de sua escola roubam carimbos de empresa e alguns falsificam contratos de trabalho. “A universidade não se importa se o contrato é real ou não, contanto que haja um carimbo nele”, disse o estudante.
Ser um trabalhador autônomo e ter estudado no exterior também é fácil de falsificar, o que importa é que os alunos apresentem a papelada, segundo a Xinhua.
“Uma taxa de emprego falsa e o lucro obtido por faculdades e universidades estão intimamente relacionados”, disse Li Bin, professor de sociologia na Universidade do Centro-Sul da China, à Xinhua. “A alta taxa de emprego significa uma melhor classificação na avaliação da universidade e isso pode atrair mais alunos.”
O professor Li disse que na China de hoje uma elevada taxa de emprego é prioridade para a maioria dos estudantes na hora de escolher onde estudar, desta forma muitas universidades falsificam as taxas de emprego para inflar sua reputação.