Liberdade de imprensa ameaçada, enquanto companhias de mídia sofrem influência da China
Após assistirem uma série de incursões preocupantes à liberdade de imprensa em Taiwan nos últimos anos, o país enfrenta agora outro momento crítico: se a NTDTV, uma emissora de televisão independente detestada pelo regime de Pequim, será capaz de renovar seu contrato de satélite. Como nos casos anteriores, taiwaneses tentam pressionar o governo para garantir que tenham a liberdade de imprensa reconhecida nas leis do país.
No início deste ano, Taiwan foi salva de ter mais de 50% de seus ativos de mídia caindo nas mãos de Tsai Eng-Meng, um bilionário da indústria alimentícia com laços de amizade com o regime comunista da República Popular da China (RPC). Tsai fazia parte de um consórcio de investidores que pretendia abocanhar os ativos de mídia, incluindo o popular e extravagante Apple Daily de Jimmy Lai, um empresário de mídia anticomunista de Hong Kong. Lai sentiu-se forçado a vender após os reguladores de Taiwan dificultarem bastante os negócios na pequena ilha, supostamente para agradar os titereiros através do estreito.
Em 2009, Tsai havia se tornado um protagonista com a compra de três empresas de mídia de Taiwan que agora formam a base de seu império pró-Pequim: o China Times, a China Television e a Chung Tien Television. “Todos agimos segundo diretrizes e reportamos bem e frequentemente sobre a prosperidade da pátria”, disse Tsai em 2009, após a aquisição, numa reunião com oficiais da RPC. O China Times é um dos três maiores jornais na China, enquanto a China TV é a maior emissora; a Chung Tien TV é uma grande rede de cabo.
A polêmica em torno da NTDTV diz respeita a se a emissora será capaz de renovar seu contrato com a Chunghwa Telecom, a maior empresa de telecomunicações de Taiwan. A Chunghwa está envolvida numa joint venture na RPC com a China Central de Televisão (CCTV), uma mídia porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC), além de outros interesses no continente. O governo de Taiwan não tem mais participação majoritária na Chunghwa, mas todos em Taiwan sabem que o presidente Ma Ying-jeou e seus reguladores podem renovar o contrato (o atual termina em agosto) se assim desejarem.
“O PCC usa empresários taiwaneses para comprar os meios de comunicação e, em seguida, envolve-se em atividades que prejudicam a opinião pública”, escreveu Yu Ying-shih, um estudioso do instituto de pesquisa ‘Academica Sinica’, numa carta aberta. “É chegado um momento crítico e incrível. Precisamos lutar e a hora é agora.”
Em entrevista ao Liberty Times, ele disse, “Estou com medo, porque o PCC está por trás disso e eles têm um plano para o que estão fazendo.” Quando proprietários de mídia taiwaneses ganham concessões para fazer grandes volumes de dinheiro na China continental, “sua cobertura da mídia muda visivelmente”, disse ele.
Além da mídia China Times de Tsai, outro grande jornal de Taiwan, o United Daily News, é conhecido por sua postura pró-Pequim e pró-unificação entre a China e Taiwan.
Grande esperança está sendo colocada na NTDTV, porque ela é uma das poucas vozes independentes restantes e disposta a denunciar sem medo a corrupção e as maquinações políticas ou as questões de direitos humanos na China. Por isso, intelectuais em Taiwan têm sido particularmente francos em apoiar a NTDTV.
Yang Ishu, da Universidade Nacional de Artes de Taiwan, comentou em 3 de maio que, “Num ambiente de mídia que está ficando vermelho [ou seja, pró-Pequim], a NTDTV se tornou um canal extremamente importante para o povo taiwanês enxergar a verdade. Por favor, vamos apoiar juntos e proteger uma mídia que é corajosa o suficiente para dizer a verdade.”
A necessidade de apoiar a NTDTV é ainda mais premente devido ao tratamento que o PCC oferece às vozes taiwanesas que ele discorda.
Frank Hsieh, o ex-líder do Partido Democrático Progressista (PDP), por exemplo, teve sua conta no Sina Weibo excluída em 24 horas após se registrar em fevereiro. O serviço de microblogue Sina Weibo, um equivalente aproximado do Twitter, é muito popular na China e o silenciamento severo de Hsieh gerou preocupação na China e em Taiwan.
Outro membro do PDP, o legislador Lee Kun-Tse, que lidera o Comitê de Transporte do Legislativo, disse, “Nos últimos anos, a NTDTV se tornou uma importante fonte de notícias para o povo chinês. Não podemos deixá-la desaparecer.”
Ele acrescentou que a Comissão Nacional de Comunicações, sob o governo Ma deve “intervir de forma proativa e investigar os fatos”. E continuou, “Não queremos que a imagem de Taiwan seja prejudicada novamente ou que nossa liberdade de imprensa seja pisoteada de novo. Não toleraremos que isso aconteça outra vez.”
Enquanto isso, outras forças em Taiwan tentam levar mídias pró-PCC para Taiwan, mesmo com a NTDTV sendo ativamente bloqueada pelo regime da RPC.
Em 29 de abril, Chiang Ping-k’un, ex-chefe da Fundação de Intercâmbio do Estreito de Taiwan, uma organização semioficial que conduz a diplomacia com a China, propôs trazer a Phoenix Television e a CCTV International News, mídias pró-RPC e uma porta-voz do regime, respectivamente, para “lidar com o caos da mídia” em Taiwan.
Sentimentos sobre tais assuntos são profundos em Taiwan. Ch’eng Jui-che, um estudante de graduação no Departamento de Comunicação da Universidade Nacional de Taiwan, escreveu num comentário ao Liberty Times, um jornal pró-independência, “Consideramos normal em Taiwan que o PCC e o governo não estejam envolvidos na mídia, na verdade, a mídia tem o dever de expor os excessos do Estado e esse é o valor central de uma instituição de mídia.”
“Então, eu pergunto: Quando se trata do tipo de ideologia ‘patriótica’ difundida pela ‘International News’ da CCTV, uma mídia que reporta os fatos de cabeça para baixo, se isso realmente vier para Taiwan, isso não seria prejudicar o povo de Taiwan? E, ainda mais sério, eles minarão a segurança de nossa nação!”
Amy Wu, da Universidade Ming Chuan, comentou online em 10 de maio, “Por favor, valorizem e façam seu melhor para apoiar uma mídia rara e disposta a falar a verdade.”
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