Taiwanês acusado de conspirar para dizer a verdade na China

30/06/2012 03:00 Atualizado: 30/06/2012 03:00

A mãe, a esposa e a filha de Zhong apelam no gabinete presidencial de Taiwan em 27 de junho. (Zhong Yuan/The Epoch Times)Praticante do Falun Gong preso por tentar interferir com transmissões de TV

Um engenheiro de Taiwan, que fez uma rápida viagem de três dias através do estreito para o Sul da China agora enfrenta a possibilidade de uma prisão prolongada e tortura. Seu alegado crime: Querer contornar a rígida censura que controla as transmissões de TV da China.

Zhong Dingbang foi apanhado no aeroporto de Ganzhou na província de Jiangxi em 18 de junho enquanto se preparava para embarcar no avião de volta para casa. Ele agora é acusado de tentar interferir na rede de difusão da China, segundo a mídia estatal Xinhua. Esta é uma acusação grave que no passado resultou na severa tortura e morte de indivíduos acusados sob custódia das forças de segurança.

A notícia da Xinhua diz que “sua cooperação foi requisitada numa investigação relacionada”. Ele foi colocado em vigilância domiciliar naquela noite, disse a Xinhua. Em seguida, oficiais da segurança estatal convocaram parentes de Zhong no continente, que transmitiram a notícia para sua esposa em Taiwan. A Xinhua alega que, desde 2003, Zhong tem “coletado documentos secretos” e enviado equipamento para a China continental que pode ser utilizado para “realizar transmissões”, bem como “incitar os residentes chineses” a participarem das mesmas atividades.

Zhou Yongkang, o combatido chefe maior de segurança pública chinesa, deu a ordem para agentes da segurança doméstica prenderem Zhong, segundo uma fonte familiarizada com o assunto. A Segurança Doméstica é um departamento da Secretaria de Segurança Pública que é especializada em rastrear e perseguir dissidentes.

Zhong é um adepto da prática espiritual do Falun Gong; no passado, os praticantes inseriram várias vezes programação (do chinês, “chabo”) relativa à perseguição ao Falun Gong em transmissões da China continental. A família de Zhong em Taiwan não confirmou nem negou que Zhong possa estar envolvido na tentativa de transmitir informação sobre o Falun Gong nas redes de TV da China.

Erping Zhang, o porta-voz do Centro de Informação do Falun Dafa, questionou a alegação. “Ele estava lá numa viagem de três dias. Eu não acho que ele estava fazendo aquilo na viagem”, disse Zhang em entrevista por telefone. “A Xinhua é a mesma porta-voz do Estado que disse que ninguém morreu na Praça da Paz Celestial [Tiananmen] e que a [epidemia de] SARS não existia. É uma máquina de propaganda. Sua credibilidade é zero.”

Mas, no entanto, Zhang não pensa que haveria nada de errado em Zhong realmente tentar inserir transmissões do Falun Gong em redes de TV. “A China é uma sociedade fechada. A Constituição garante o direito das pessoas à liberdade de informação e expressão, mas o Partido Comunista Chinês (PCC) viola a Constituição censurando a informação. Estamos falando de um regime desonesto em que o Partido Comunista ignora totalmente a lei e a Constituição que eles mesmos escreveram”, disse ele.

Nestas circunstâncias, “qualquer um trazendo informação para uma sociedade censurada está trazendo luz às trevas. É admirável.” Ele acrescentou que “não é uma questão legal, é uma questão moral” e, se Zhong tentava mostrar aos cidadãos chineses os fatos da perseguição ao Falun Gong, ele estava no direito de fazê-lo, disse Zhang.

Conteúdos típicos de transmissões inseridas incluem o documentário “Fogo Falso”, que revela que um incidente ocorrido em janeiro de 2001, em que cinco pessoas se puseram em chamas na Praça Tiananmen, é uma farsa. Na época, o aparato de mídia do PCC foi inundado de alegações afirmando que as autoimolações eram de praticantes do Falun Gong que tentavam cometer suicídio. A mensagem da propaganda do PCC desde que a perseguição começou em 1999 visava o suposto perigo do Falun Gong, reivindicações que os praticantes do Falun Gong têm desmascarado.

Enquanto o público chinês ficou em grande parte indiferente ao que parecia antiga propaganda atacando o Falun Gong, o vídeo da autoimolação abalou seriamente o público, virando a opinião popular contra a prática por um tempo. Porém, havia inúmeras incoerências na história e agora é amplamente compreendido fora da China que foi uma tentativa terrível de desacreditar a prática.

Dentro da China, praticantes do Falun Gong continuam a espalhar informações desmascarando a farsa de 2001. A primeira vez isso foi feito inserindo um vídeo numa transmissão de TV do continente em 5 de março de 2002, em Changchun, no nordeste da China. Após a transmissão de 50 minutos, a cidade foi colocada sob lei marcial e praticantes do Falun Gong sofreram um reino de terror enquanto oficiais procuravam erradicar os responsáveis pela transmissão não autorizada.

Liu Chengjun liderou a pequena equipe responsável pela transmissão. Quando a polícia o encontrou eles atiraram nele duas vezes na perna antes de levá-lo em custódia, segundo um relato detalhado de suas horas finais de liberdade no Minghui, um website do Falun Gong mantido por voluntários.

Depois que Liu foi levado em custódia, ele foi torturado num ‘banco do tigre’ por 52 dias, segundo o Minghui. O ‘banco do tigre’ é uma espécie de prancha de metal de tortura, em que a pessoa fica sentada na posição vertical com os braços amarrados atrás das costas e com as pernas esticadas para frente amarradas na altura dos joelhos à prancha. Tijolos são colocados sob os pés dobrando os joelhos para cima e causando dor excruciante. A polícia pode então usar bastões elétricos e cigarros para torturar as vítimas, que relatam perder os sentidos devido à agonia.

Liu morreu das lesões de torturas no dia seguinte ao Natal de 2003.

A extrema violência com que as pessoas acusadas de inserir transmissões são tratadas é uma indicação da insegurança do PCC a respeito de sua propaganda anti-Falun Gong, segundo Charles Lee. Lee é um praticante do Falun Gong e cidadão dos EUA que passou três anos numa prisão chinesa por tentar transmitir informações sobre a perseguição ao Falun Gong na China.

Lee disse numa entrevista por telefone, “Não há liberdade de imprensa na China e as pessoas sofrem lavagem cerebral desde o início de suas vidas. Quando o regime começou a perseguição ao Falun Gong em 1999, foi também por meio de campanhas de propaganda. […] As pessoas não tinham como saber a verdade. Então, inserir transmissões permite as pessoas saberem a verdade. Programas de vídeo têm um monte de informações.”

Lee continuou, “Depois que as pessoas sabem a verdade, o PCC já não seria capaz de perseguir ninguém. Verdade é poder e é por isso que o PCC tem muito medo de qualquer atividade que revele a verdade, incluindo a inserção de transmissões. Eles têm medo da verdade.”

No caso de Zhong, as acusações podem ser um pretexto, a verdadeira razão para a prisão pode ser simplesmente que ele pratica o Falun Gong. Em Taiwan, sua esposa e filha estão cientes das alegações da Xinhua, mas apenas querem seu marido e pai de volta. Na tarde de 27 de junho, a mãe, a esposa e a filha de Zhong foram ao gabinete do presidente de Taiwan submeter um relato completo da prisão de Zhong e pedir ao presidente Ma Ying-jeou para trazer Zhong de volta. Um representante disse que Ma ouviu a notícia e responderia rapidamente.