Até agora, a reação do Ocidente à anexação da Criméia pela Rússia tem sido bastante cavalheiresca. Congelar alguns ativos por aqui, restringir a viagem de uma dúzia de pessoas acolá, e, claro, fazer o Visa e o MasterCard pararem de prestar serviços para alguns bancos russos.
Putin disse então que a Rússia explorará lançar seus próprios cartões de crédito, semelhante ao JCB do Japão e ao UnionPay da China. Boa tentativa. Enquanto essas duas empresas têm boa tração em seus mercados de origem, elas são pequenas diante do plástico americano.
Segundo pesquisa da Nilson, o MasterCard processou mais de US$ 8 trilhões em transações de cartão de crédito mundialmente em 2011. O Visa ficou em segundo lugar com US$3 trilhões e o UnionPay em terceiro com pouco mais de US$ 2 trilhões. O motivo: MasterCard e Visa são aceitos em todos os lugares do mundo, onde os outros dois (UnionPay e JCB) são praticamente apenas locais.
De qualquer maneira, a proibição de alguns bancos russos de processar o Visa ou o Master por hora ou a Rússia lançar suas próprias alternativas não mudará muita coisa no grande esquema. No entanto, a direção em que este conflito está pendendo é interessante.
Pagamentos internacionais entre bancos são processadas por meio da ‘Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Globais’ (SWIFT), uma pequena cooperativa de propriedade dos membros e pouco conhecida que é baseada na Bélgica.
Se você já enviou uma transferência bancária internacional, você provavelmente usou um chamado Código Identificador de Negócio (ou ‘BIC’, na sigla em inglês). Ele faz parte do sistema SWIFT para processar pagamentos.
Apesar de sua existência opaca, esta organização tem o poder de cortar completamente os bancos de sua rede, impedindo-os de receber e fazer pagamentos em moeda estrangeira – uma sentença de morte financeira. A boa notícia: até agora, o Ocidente tem controle quase completo sobre isso e teoricamente poderia usar esta opção nuclear para exercer poder.
Como? A SWIFT diz que é de propriedade dos membros, o que significa que bancos estrangeiros também têm um papel. Mas se olharmos para o local de sua sede (Bélgica) e a composição de seu conselho (quatro belgas, três americanos, dois holandeses e um espanhol), torna-se bastante claro que os russos e os chineses não têm muito a dizer.
Por que não usá-lo?
Bem, se este poder está nas mãos do Ocidente, por que nenhum líder ocidental ameaçou usá-lo antes? Porque isso é equivalente à bomba nuclear dos mercados financeiros. Você só quer usá-lo se não houver alternativa.
E enquanto o Ocidente e a Rússia têm armas nucleares na vida real, até agora só o Ocidente controla esta arma financeira de destruição em massa. O plano de cartão de crédito de Putin pode muito bem ser apenas o primeiro passo de penetrar também nesta arena.