Suicídios de idosos assola zonas rurais na China

15/10/2015 10:04 Atualizado: 16/10/2015 21:06

Devido às rigorosas leis de residência da China, que não permitem a livre circulação dos cidadãos, muitos trabalhadores rurais, que somam centenas de milhões de pessoas, ficam sem escolha a não ser deixar seus pais e filhos para trás, e migrarem ilegalmente para as cidades em busca de emprego.

Recentes suicídios de quatro adolescentes – deixados para trás – na zona rural da província de Guangxi, chocaram a população chinesa. Entretanto, o desespero diário de idosos abandonados que sofrem de doenças, fome, depressão entre outros males, não é uma tragédia menor.

O pesquisador Liu Yanwu estuda suicídios entre os idosos, um fenômeno que ele diz ter “chegado a um ponto aterrorizante” nos últimos seis anos. A estatal “China Youth Daily” publicou uma reportagem sobre suas pesquisas.

Mortes não naturais

Antes de beber uma garrafa de pesticidas, Lin Muwen, 69, realizou pessoalmente a tradicional cerimônia de queimar “dinheiro para recebê-lo na próxima vida”, com medo de que outros do vilarejo, mais tarde, alegassem às autoridades que seus filhos não poderiam ser invocados para realizar o costume após sua morte. “Desta forma, ele partiu com um pouco de dignidade”, disse um morador.

Muitos aldeões relataram à Liu que naquela região “nenhum dos idosos morreu devido a causas naturais”.

Em 2008, Liu e um grupo de pesquisadores conduziram uma pesquisa de campo no condado de Jingshan, província de Hubei, e segundo estimativas conservadoras, 30 por cento dos idosos da região cometeram suicídio. Durante um período de 400 dias, Liu conduziu uma investigação por 40 vilarejos em 11 províncias. As taxas de suicídio por parte de pessoas da terceira idade está aumentando exponencialmente desde 1990, disse ele ao “China Youth Daily”.

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De acordo com Liu, suicídio se tornou uma prática comum entre os idosos de áreas rurais carentes, especialmente daqueles que estão doentes.

Na matéria publicada pelo “China Youth Daily”, é citada uma pesquisa da Universidade de Hong Kong, que afirma que a taxa de suicídio na China caiu pela metade desde o ano 2000.

“A taxa de suicídio na China tem diminuído”, disse Liu ao periódico chinês. Entretanto, a taxa nacional de suicídios entre idosos continua a aumentar como o “único caminho para aguentar a dor de envelhecer na sociedade moderna”.

Triste realidade econômica

A pesquisa de Liu contrasta com a recente lei de 2013 onde o regime chinês ordena que os filhos visitem seus pais idosos. O foco da lei é tentar restaurar a antiga tradição moral herdada de Confúcio da fidelidade parental.

Desde a década de 1990, um programa de TV chamado “Os 10 Filhos e Filhas Mais Virtuosos” tem selecionado nas províncias chinesas os filhos mais leais, para realizarem uma competição nacional.

Mas não é apenas a falta de tradição que está levando tantos idosos chineses ao suicídio. O lado obscuro do rápido crescimento econômico da China faz com que centenas de milhões de trabalhadores migrem do campo para as cidades em busca de trabalho nas indústrias.

Em muitos casos, estes trabalhadores ganham somente o suficiente para se alimentarem e se vestirem, impossibilitando ajudar financeiramente seus familiares, tanto jovens como idosos. Além disso, existe o infame sistema “hukou”, uma lei draconiana que confina as famílias chinesas de origem rural em suas terras. Crianças oriundas de regiões rurais trazidas para as cidades são impedidas de frequentar as escolas públicas; idosos não podem desfrutar do sistema de saúde.

De acordo com moradores entrevistados pelo pesquisador Liu, a decisão de tirar a própria vida se resume à situação econômica da família. Caso um idoso tenha uma doença que não pode ser tratada com sua própria renda, ele escolherá a prosperidade de sua família acima de sua própria vida.

Não só o Partido Comunista Chinês (PCC) proíbe que seus membros tenham uma religião, como também critica os valores universais que valorizam a vida. O PCC ordena que seus membros sigam somente o marxismo e o materialismo e, portanto, a questão do suicídio não é considerado um pecado, contrariando as leis divinas presentes nas religiões e os caminhos espirituais de todo o mundo.