Sudão do Sul segue o exemplo
O Sudão tem intensificado o assédio a jornalistas, a censura e as prisões de opositores políticos relacionados com os conflitos na fronteira com o Sudão do Sul, disse o Human Rights Watch (HRW) num novo relatório.
“O Sudão está reprimindo os direitos civis e políticos em face do conflito e da oposição”, disse Daniel Bekele, diretor do HRW para a África, num comunicado. “Mas bloquear críticas e silenciar a dissidência não resolverá os problemas do Sudão.”
A última rodada de confrontos entre os países vizinhos acorreu em 9 de maio, quando o Sudão do Sul acusou o Sudão de bombardear seus estados fronteiriços do Alto Nilo, Unity, e Bahr el-Ghazal Ocidental. Isso aconteceu apenas uma semana após o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovar uma resolução em 2 de maio ameaçando sanções, caso os dois lados não seguissem um roteiro da União Africana estipulando um cessar-fogo e um retorno às negociações dentro de duas semanas.
O HRW foi informado por grupos de jornalista no Sudão que oficiais da segurança na capital de Cartum têm assediado e ameaçado jornalistas e membros da oposição política, e mais de 15 jornalistas foram proibidos de trabalhar nos últimos meses. Em 13 de maio, por exemplo, o Serviço de Segurança e Inteligência Nacional (SSIN) censurou um artigo de opinião no jornal Al-Sahafa chamado, “A solução não está com o regime do Ingaz [o partido governante]”.
Questionar as alegações de que o Sudão venceu a batalha pelo campo de petróleo de Heglig em abril também se tornou um tabu. Em 15 de abril, agentes da segurança convocaram Hassan Ishaq, um jornalista que escreve para o diário Al-Jareeda, e avisaram-lhe para não escrever sobre o conflito de Heglig.
Enquanto Cartum está tentando suprimir vozes espalhando informações sobre o conflito com o Sul, o governo do outro lado da fronteira sufoca a mídia por outros motivos. “Apesar de ser certamente melhor do que no Norte, onde os jornalistas são rotineiramente presos e jornais suspensos, as condições são sem dúvida um desafio para jornalistas no Sudão do Sul”, escreveu Tom Rhodes, consultor da África Oriental do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, num e-mail de Juba.
De acordo com Rhodes, há uma incompreensão fundamental dentro do governo, especialmente da segurança, e jornalistas com reportagens críticas simplesmente não são aceitos pelas autoridades. Por exemplo, a polícia prendeu Ayak Dhieu Apar, um apresentador da estação de rádio Rumbek 98, na última segunda-feira, por realizar um programa de discussão que criticou o desempenho da polícia em Rumbek, no estado de Lakes. Rhodes explicou que a polícia correu para a estação e prendeu o repórter por difamação.
Surpreendente, o conflito fronteiriço não afetou a liberdade de imprensa como seria de se esperar, disse Rhodes, em parte porque existe uma “carência terrível” de repórteres na região de fronteira. “Há um vácuo no tempo da informação sobre a Heglig.”
Na quinta-feira, o Conselho de Segurança exigiu que o Sudão retirasse suas forças incondicionalmente da área disputada de Abyei rica em petróleo. Cartum respondeu dizendo que só faria isso depois que uma junta militar observadora fosse criada para a área. No mesmo dia, um mediador da União Africana, o ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki, foi designado para chegar à capital sudanesa e fazer avançar as negociações de paz até agora sem sucesso. Também se espera que Mbeki visite a capital de Juba do Sudão do Sul.
O Sudão do Sul se separou do Sudão em julho passado, mas muitas questões pendentes entre os dois países não foram resolvidas, principalmente como compartilhar as receitas de petróleo e a demarcação da fronteira, onde estão as mais ricas reservas de petróleo.