Soluções sustentáveis duvidosas na conferência da Rio+20

14/06/2012 21:02 Atualizado: 14/06/2012 21:02

Crianças ajudam com plantio no Parque Ecológico situado na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, dia 4 de junho. Pesquisas mundiais antes da Rio+20 mostram que a maioria dos cidadãos e especialistas são favoráveis a uma economia verde e querem que seu país desempenhe um papel de liderança em compromissos internacionais na conferência. (Christophe Simon/AFP/Getty Images)Na próxima semana a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20, no Rio de Janeiro, destina-se a pavimentar o caminho para um futuro sustentável pela construção de uma economia verde global e o melhoramento da coordenação internacional sobre questões de sustentabilidade.

Pesquisas recentes mostram um consenso crescente entre os consumidores e pessoas que adotam a sustentabilidade, concordando que este é o único caminho a seguir. No entanto, os analistas não são otimistas, vendo sinais de que os políticos, preocupados com a crise financeira, não estarão prontos para realizar compromissos substantivos.

 Na quarta-feira (13) o Secretário-Geral da Rio+20, Sha Zukang, realizou uma coletiva de imprensa com Luiz Alberto Figueiredo, do Ministério das Relações Exteriores, para marcar o início da terceira e última sessão do comitê preparatório antes do evento principal de 20-22 de junho.

Embora admitindo que ainda haja questões não resolvidas, Sha expressou otimismo de que o comitê deve ser capaz de “discutir a adoção de um documento focado, que contenha ações concretas”.

No entanto, ele também observou que o ritmo das negociações deve “acelerar drasticamente”, confirmando as suspeitas, possivelmente, de que grandes discordâncias existam ainda entre os países participantes. “O tempo é precioso”, enfatizou Sha.

Segundo a edição de 13 de junho do “Boletim Rede do Terceiro Mundo na Rio +20”, durante a última rodada de negociações no início deste mês, uma pequena parte do texto foi finalizada e os governos e os grupos discutiam a definição da economia verde, um dos dois pilares principais da conferência, entre outras opções de palavras que ameaçam diluir o documento final.

Entretanto, Sha Zukang destacou no resumo que esta conferência é diferente, pois não está focada em novos tratados, mas em ações concretas e num resultado transformador. Além de governos, inúmeros comprometimentos voluntários serão feitos por organizações não governamentais e compilados durante a conferência, disse Sha.

Chris Coulter, presidente da GlobeScan, uma consultoria de opinião pública com foco na sustentabilidade, acredita que o sistema de governo mundial está chegando ao seu limite quando se trata de gerir problemas complexos como o desenvolvimento sustentável.

“Essas questões estão todas ligadas, por isso, enquanto o instinto é dividi-las em questões distintas a fazer progressos, o verdadeiro desafio é enfrentá-las em conjunto, que é muito difícil de fazer num formato de conferência”, disse Coulter.

Robert Costanza, professor de sustentabilidade da Universidade Estadual de Portland, também acha que mudanças maiores são necessárias. Num editorial que escreveu recentemente para a Al-Jazeera, ele expôs suas esperanças pela Rio +20 se tornar um “ponto de inflexão” na história, mas reconheceu que isso exigiria uma mudança global da visão de mundo, em que o atual modelo econômico de “crescimento a qualquer custo” seja substituído.

“Precisamos de um novo modelo que se centre mais diretamente no bem-estar humano sustentável”, disse ao Epoch Times. “Não é um sacrifício de nosso bem-estar mudar para este novo modelo; o sacrifício é não mudar.”

Costanza mencionou o índice do governo do Butão de “felicidade nacional bruta”, onde o bem-estar e felicidade são vistos como parte integrante de uma abordagem holística para o desenvolvimento. Alguém poderia pensar que este é um conceito um tanto peculiar de um pequeno reino nas montanhas, mas Costanza diz que esses tipos de ideias estão ganhando mais tração.

“Existem, obviamente, visões muito diferentes entre líderes mundiais sobre estas questões, mas há um consenso crescente de que o modelo atual está falido e nós precisamos de uma abordagem totalmente nova”, disse ele.

Um aspecto da mudança da mentalidade global pode ser afastar-se da ideia de que o foco na sustentabilidade e numa economia verde exige necessariamente sacrifício econômico, algo que é difícil de fazer durante um período de crise econômica.

Madeira extraída ilegalmente da floresta tropical amazônica é transportada perto da reserva da indígena de Arariboia, dia 10 de junho. Dados de pesquisas mostram que 74 % dos brasileiros querem que seu governo assuma um papel de liderança na Rio+20. (Mario Tama/Getty Images)

Uma pesquisa recente do Projeto de Regeneração, uma colaboração entre os grupos de pesquisa GlobeScan e SustainAbility, mostra que a maioria dos cidadãos e especialistas acredita que uma economia verde realmente impulsionará o emprego e o crescimento econômico.

De 17 mil consumidores de 17 países e 1.600 especialistas em desenvolvimento sustentável de 117 países pesquisados, a maioria foi a favor de uma economia verde em comparação com a economia tradicional em quase todos os pontos, mesmo quando se trata de criar um crescimento econômico em curto prazo. Um resultado interessante foi que os consumidores nos mercados emergentes, que são muitas vezes vistos como mais susceptíveis a favorecer o crescimento econômico sobre as preocupações ambientais, foram, na verdade, os mais favoráveis a uma economia verde.

Em outra pesquisa do mesmo porte do Projeto de Regeneração, a National Geographic publicou na quarta-feira que 55% dos consumidores disseram que querem que seu país desempenhe “um papel de liderança em assumir compromissos internacionais ambiciosos” na Rio +20. Notavelmente, os dois países principais foram o México e o Brasil com 80 e 74%, respectivamente. No mundo, apenas 1 em 20 disse que seu país não deve concordar com os compromissos internacionais.

No entanto, quase 8 em cada 10 especialistas convidados temiam que seria necessária uma grande catástrofe para que os governos do mundo tomassem uma ação decisiva, 7 dos 10 identificaram falta de vontade política como o maior obstáculo ao processo de avanço ao desenvolvimento sustentável.