A pirataria estava em declínio por quase dois séculos, com sua classe quase exterminada desde meados de 1800. Porém, em meio ao ressurgimento da pirataria no início do século 20, políticas globais podem impedir que esforços antipirataria alcancem o que foi realizado há quase dois séculos.
Parte do problema é que “a economia e a política mundial de combate à pirataria estão interligadas com variações regionais”, que diferem de uma região marítima a outra. Este é um dos pontos principais num próximo relatório que poderia oferecer um ponto de partida para acabar com a pirataria marítima contemporânea.
No momento, as nações do mundo tentam combater a pirataria usando métodos semelhantes aos empregados em 1700; métodos que podem ser neutralizados pela globalização.
A solução, no entanto, pode residir no Golfo de Bengala, um corpo d’água partilhado pela Índia, Bangladesh e Sri Lanka. A pirataria na região não é tratada “como uma ameaça a segurança marítima ou como um perigo para a destruição da cadeia global de suprimentos”, disse Swadesh Rana, assessora do projeto One Earth Future (OEF), uma organização internacional não governamental. “Eles veem isso como um incômodo, um assalto no mar.”
Rana passou mais de um mês se reunindo com oficiais de segurança marinha nos países ao longo do Golfo de Bengala, pesquisando o que será um estudo pioneiro sobre as causas e soluções para a pirataria. Apesar de seu relatório ainda não ter sido publicado oficialmente, ela compartilhou alguns de seus achados com o Epoch Times por telefone. O estudo é parte do ‘Oceanos além da pirataria’, o projeto oficial da OEF.
“Eu não estava preparada para o que vi”, disse Rana. “Se existe um corpo d’água no mundo atual que promete se tornar um oceano além da pirataria, esse é o Golfo de Bengala.”
Idade de ouro da pirataria
A pirataria moderna e as medidas de combate à pirataria são melhores compreendidas se olharmos para trás na idade de ouro da pirataria, que durou de 1690 a 1725.
Foi uma época atormentada por homens cujos nomes viverão na infâmia, Barba Negra, Henry Morgan, Capitão Kidd e outros; uma época em que os senhores piratas dominavam as águas de fortalezas no Caribe, Madagascar e na costa da África Ocidental.
A razão de homens recorrerem à vida de pirataria, conforme detalhada nos relatos históricos, não esta longe das razões apresentadas hodiernamente. Dois relatos históricos foram citados no livro “Entre o diabo e o profundo mar azul” de Marcus Rediker.
Antes de sua execução por pirataria em 1724, Edward Teach culpou o mau tratamento a bordo dos navios como sua justificativa, proferindo sua famosa frase, “Eu desejaria que os capitães de navio não usassem seus homens com tanta severidade, como muitos deles fazem, o que acaba nos expondo a grandes tentações.”
William Fly fez uma declaração antes de seu enforcamento em 1726, anunciando com raiva, “Eu não posso culpar a mim mesmo, não posso me culpar de qualquer assassinato – nosso capitão e seu segundo nos usaram barbaramente. Nós, homens pobres, não podemos ter justiça. Nada foi dito sobre nossos comandantes, que eles nunca mais nos abusem tanto ou nos usem como cães.”
Para os piratas de hoje, abuso e pobres condições de vida são argumentos chave para suas ações, pescadores marginalizados impelidos para uma vida de crime. Os piratas na Somália citaram abusos globais da indústria pesqueira como uma causa para suas ações. Explicações similares existem entre pescadores transformados em piratas no Golfo de Bengala.
De acordo com Rana, pescadores no Golfo de Bengala realmente vivem em condições difíceis. Seus barcos são tipicamente pequenos (3×5 pés) e 80% deles nem sequer possuem barcos próprios. Se não forem capazes de pagar o aluguel dos barcos, eles ficam sem meios de se alimentar e a sua família.
Uma solução para a pirataria
A pirataria chegou a um fim brutal nos anos de 1800, com golpes esmagadores das marinhas globais que anunciaram guerra contra eles. Na Ásia, os piratas enfrentaram a marinha japonesa sob o Xogunato Tokugawa e a marinha chinesa com os enormes navios da Dinastia Qing. Em outros lugares, eles enfrentaram as marinhas de outros países, como a Grã-Bretanha.
A solução hoje para a pirataria não é muito diferente, com as marinhas do mundo encurralando o Golfo de Aden. No entanto, existem várias lacunas na abordagem atual. Por exemplo, isso é ineficaz em partes do mundo que são inacessíveis a navios de grande porte ou com complicações geopolíticas – particularmente na Indonésia e no Golfo de Bengala. Esta abordagem também só pode parar a pirataria APÓS ela acontecer.
Rana compartilhou sua esperança de que seu próximo estudo possa ajudar a “deslocar o debate sobre a pirataria da gestão de riscos para a mitigação de riscos” e acabar com o problema pela raiz visando “reduzir o número de piratas”. A solução, diz ela, “deve ser diferente não apenas de costa a costa, mais de porto para porto”.
Rana notou que o Golfo de Bengala pode atuar como um programa piloto para deslocar a gestão de riscos (lutas, prisões e perseguição de piratas) para a mitigação de riscos (que poderia impedir indivíduos de se tornarem piratas). “Comparando o Golfo de Aden com o Chifre da África, o Estreito de Malaca e, mais recentemente, a costa oeste da península indiana; o risco atual da pirataria marítima no Golfo de Bengala é menos significante, mais gerenciável e bastante mitigável se colocado num contexto específico”, afirma o rascunho não publicado do relatório.
Uma resposta ao problema, segundo Rana, poderia estar nos pescadores. “Um ponto crítico de partida seria reconhecer a comunidade pesqueira como uma grande parte interessada em se opor a pirataria no Golfo de Bengala”, afirma o relatório. Uma vez que o primeiro relatório seja publicado, Rana planeja fazer um estudo de acompanhamento sobre os pescadores na região, alguns dos quais representam ambos os problemas e soluções para a pirataria na região.
Grande parte dos esforços atuais antipirataria no Golfo de Bengala inclui o envolvimento ativo das comunidades costeiras, mas, como Rana afirma no relatório, o potencial dessas comunidades de se oporem a pirataria “permanece longe de ser plenamente utilizado”.
Isto “representa uma abordagem não militar” para gerir a pirataria, além de gerar empregos, segundo o relatório. E acrescenta, “Como partes interessadas em se opor à pirataria, os pescadores do golfo estariam mais preparados para salvaguardar sua segurança pessoal e profissional em águas próximas de suas casas.”