Socialismo tupiniquim

28/11/2014 10:30 Atualizado: 28/11/2014 12:21

O Brasil pode ainda não ser uma União Soviética ou uma Cuba, mas ele já está preparadíssimo. Possui vários dos aspectos sociais e políticos chave de uma sociedade plenamente socialista (até mesmo a farsa eleitoral é bem parecida) e muitos sujeitos dispostos a comprar essa ideia de tirania coletiva e responsabilidade individual mínima. Porém, como bem disse Olavo de Carvalho, os demais países do Foro de São Paulo ainda precisam do nosso dinheiro para construírem seus paraísos socialistas.

Há quem acredite que o povo brasileiro ainda vive num pleno regime democrático e que dizer que já estamos num regime socialista é atestar a própria loucura. Seria mesmo loucura? Talvez a resposta a algumas perguntas possam ajudar a entrever uma conclusão.

1. O que é fomentado hoje nos meios educacionais e midiáticos? Ajudar o próximo e melhorar seu entorno ou deixar que o governo faça isso por você?

2. Temos instituições civis fortes o bastante para impedir a degradação civilizacional do país?

3. Nossa imprensa é livre?

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Quanto a primeira: ambos os meios impelem o povo a optar pela força dos números. E quase a totalidade dele aceita muitas vezes por falta de opção. Incitam nesse mesmo povo a prontidão para usar o aparelho estatal em proveito do próprio grupo; o brasileiro em geral acabou se convencendo de que seu grupo imediato tem “direito de impor e dar força de lei aos seus problemas do dia a dia”. Pensando assim, a praça mal cuidada não é culpa da vizinhança desleixada, é culpa da prefeitura municipal que ainda não cresceu suficientemente seu aparato para estar onipresente; O problema do alastramento da criminalidade não tem parte da culpa em quem sugeriu que deveríamos abdicar da autodefesa, é somente culpa do Estado que ainda não criou um Estado policial onipresente; O caos burocrático não é culpa de um Estado cada vez maior, muito pelo contrário, é justamente por ainda não ter crescido o suficiente que não funciona, e assim por diante. Enfim, exemplos não faltam para ilustrar o quanto o indivíduo é degradado em prol de um comportamento grupal (ou comunal, nas palavras do lógico russo Aleksandr Zinoviev em seu livro A realidade do comunismo cuja abordagem sociológica da União Soviética tem muito a nos ensinar).

Quanto a segunda: Nossas instituições (políticas e civis) em sua grande maioria hoje servem para três coisas:

1. Avançar as agendas marxistas de degradação moral e mental (gayzismo, abortismo, feminismo, etc.);

2. Ridicularizar o povo — especialmente a classe média — e dizer que suas opiniões representam o que há de pior no pensamento humano (i.e. quando não age conforme a questão anterior), pois seu pensamento vai contra a agenda politicamente correta;

3. Subverter o pensamento brasileiro (por força de um consenso fabricado) e destruir qualquer rastro de sanidade que resta na sociedade.

Segundo Zinoviev, quando não há instituições fortes num país (igrejas, escolas, universidades, imprensa verdadeiramente livre e liberdade real de opinião) para barrar a avalanche das forças bárbaras, o que se tem como resultado é o florescimento de hipocrisia, violência, corrupção, má administração, irresponsabilidade, escassez de mão-de-obra, trapaças, grosseria, ociosidade, desinformação, falta de caráter e um sistema de privilégio para uma “privilegentsia” (os camaradas e integrantes do Partido). Tal era a situação soviética e tal é a nossa na falta de instituições fortes. Ainda de acordo com o lógico e escritor dissidente, nesse cenário “as nulidades são exaltadas e as personalidades significantes são aviltadas. Cidadãos moralmente superiores são sujeitos a perseguição e os mais talentosos e ativos são puxados para baixo até o nível do medíocre e do incompetente”. Para se chegar a esse ponto, é preciso que não só as autoridades façam isso, mas que também colegas, vizinhos e colegas de trabalho colaborem nesse empreendimento. Todos num esforço prometeico de aviltamento cujo resultado final é o império do tédio, a estagnação moral e a depressão generalizada. Segundo Zinoviev, esse tipo de situação pode durar séculos.

Quanto a terceira: Sim e não. Sim, porque a imprensa ainda pode falar o que quer sem que ninguém vá para o paredón ou para o gulag. Não, porque o poder estatal é um dos maiores anunciantes do país e, portanto, influi diretamente na linha editorial dos seus anunciados ao exigir uma abordagem favorável, sob pena de cancelarem contratos multimilionários: imagine o que é para um grande veículo perder o filão de Caixa, Banco do Brasil, Petrobras, etc. Outro fato que pede uma resposta negativa é a ocupação da imprensa brasileira por milhares de militantes esquerdistas, que por sua vez permitem a existência de no máximo dois ou três articulistas “de direita” com o fim de dar a esse cenário o nome de “jogo democrático”. Há também mais um “não” à frente, pois em decorrência da questão econômica dos anunciantes e do aparelhamento ideológico, a grande mídia virou um aparato de desinformação, isto é, um aparato que usa da confiabilidade que goza perante o consumidor para transmitir como verdadeiras notícias francamente falsas e, assim, alterar em prol de uma agenda específica as decisões que os próprios consumidores tomam no dia a dia. Em suma, a imprensa é parcialmente livre em pequenos veículos e em boa parte mentirosa e dissimulada nos veículos médios e grandes. É possível até mesmo noticiar verdadeiramente um fato e usá-lo para encobrir outro muito mais relevante que poderia prejudicar alguma parte interessada.

Conclusão

O Brasil pode ainda não ser uma União Soviética ou uma Cuba, mas ele já está preparadíssimo. Possui vários dos aspectos sociais e políticos chave de uma sociedade plenamente socialista (até mesmo a farsa eleitoral é bem parecida) e muitos sujeitos dispostos a comprar essa ideia de tirania coletiva e responsabilidade individual mínima. Porém, como bem disse Olavo de Carvalho, os demais países do Foro de São Paulo ainda precisam do nosso dinheiro para construírem seus paraísos socialistas.

Vivemos então num socialismo à brasileira. Coisa que só dá aqui mesmo.

Leonildo Trombela Junior é jornalista e tradutor