TORONTO – Seis de agosto de 2012 marcou uma nova etapa no esforço para eliminar as armas nucleares.
Dois sobreviventes do bombardeio atômico de Hiroshima, Setsuko Thurlow, membra da Ordem do Canadá, e Joe Ohori, aproveitaram as comemorações do 67º aniversário da tragédia para dar um alerta sobre a ameaça representada pelas armas nucleares.
Thurlow, juntamente com 600 outros membros da Ordem do Canadá, assinaram um apelo ao governo federal para apoiar a eliminação internacional de armas nucleares.
A iniciativa, liderada por Murray Thomson, outro membro da Ordem do Canadá, também incentiva o governo a apoiar o plano de ‘Cinco Pontos para o Desarmamento Nuclear’ do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Este plano inclui uma convenção para proibir todas as armas nucleares.
Thurlow disse que a humanidade deve aprender a lição do desastre de 1945 que viu Hiroshima e Nagasaki serem arrasadas por bombas atômicas. É uma lição que Thurlow, que perdeu oito familiares em Hiroshima, passou décadas tentando ensinar. Cerca de 140 mil pessoas morreram apenas em Hiroshima.
A Câmara dos Comuns do Canadá aprovou uma moção por unanimidade em 2010, que apelou ao governo que trabalhasse com Ban Ki-Moon para negociar a convenção da ONU pelo desarmamento, mas o movimento não foi atendido.
Os cidadãos do Canadá não estão sozinhos em seu apelo por mudança. Do outro lado do planeta, mais de 750 membros da Ordem da Austrália também apelaram ao governo que agisse formando o grupo ‘Australianos por uma Convenção de Armas Nucleares’.
“Para a humanidade continuar, temos que fazer uma escolha, não podemos ser indiferentes”, disse Thurlow. “Se não tomarmos uma decisão, então, somos parte do problema.”
Esse problema é agravado pela evolução assustadora das armas nucleares, que têm crescido exponencialmente e são mais poderosas do que as que caíram no Japão.
Atualmente, cinco Estados com armas nucleares, Rússia, França, China, Reino Unido e Estados Unidos, possuem cerca de 20 mil armas nucleares. Quantidades menores estão nas mãos da Índia, Paquistão e Coreia do Norte. Acredita-se que Israel também tenha armas nucleares.
Embora o Canadá não possua qualquer arma nuclear, Thurlow observou que, como membro da OTAN, o Canadá está por trás de uma política que define a vontade de usar armas nucleares defensivamente.
Thurlow chama esse fato e o movimento parlamentar de 2010 para abolir as armas nucleares de uma “grande contradição”. “O Canadá tem de ser mais honesto com a comunidade internacional”, disse ela.
Devido a sua capacidade destrutiva, armas nucleares não devem ser consideradas de forma alguma como parte do sistema de defesa de um país, argumenta ela. “[Armas nucleares] têm imenso poder destrutivo; não é apenas a destruição causada por uma bomba, um canhão ou algo assim”, disse ela com lágrimas nos olhos.
Pior, armas nucleares são instáveis e não há margem para erro técnico ou humano, para não mencionar a possibilidade de caírem nas mãos de terroristas. “O governo canadense deve assumir uma posição mais firme sobre esta questão”, disse ela, criticando a relativa indiferença do governo.
O Canadá não tem feito qualquer esforço notável recente para pressionar Estados nucleares a abolirem tais armas, disse ela. “Isso me entristece como cidadã deste maravilhoso país.” “Nós temos o potencial”, acrescentou ela.
Embora mais de 5 mil cidades e 151 países ao redor do mundo já tenham declarado seu apoio à abolição do armamento nuclear, não há sinal de progresso entre as cinco grandes potências nucleares.
O negócio da bomba
Thomson, que era coordenador do projeto de desarmamento nuclear dos membros da Ordem do Canadá, disse que a preocupação tem sido crescente. Ele cita estudos que apontam para uma possibilidade crescente de destruição nuclear.
Parte do problema é que aqueles que fazem e possuem armas nucleares acreditam que elas são necessárias ou tem investimentos significativos no negócio de armamento nuclear. “Há várias pessoas fazendo muito dinheiro na produção de armas nucleares e em salvaguardá-las. Há bilhões de dólares envolvidos nisso, é uma grande indústria agora”, disse Thomson.
Joe Ohori, outro sobrevivente de Hiroshima, tinha apenas 14 anos quando a bomba atômica atingiu a cidade. Um japonês nascido em Vancouver, Ohori estava estudando em Hiroshima com seu irmão. Depois do atentado, ele retornou ao Canadá, para grande alívio de seus pais.
Por muitos anos, Ohori não achou que “agitar alguns cartazes” ou “gritar alguns slogans” convenceria os governos a agirem. “Eu sou um Joe um pouco velho”, disse ele sorrindo. Até poucos anos atrás, ele não falou publicamente sobre o que aconteceu em Hiroshima.
Ohori disse que, mesmo que nenhum dos principais Estados nucleares use armas nucleares, “um terceiro ou quarto país pode usar [as armas nucleares], então, temos de parar isso”, disse ele.
Thurlow e Ohori espalharam sua mensagem com uma série de cartazes e arte exibidas na prefeitura de Toronto entre 6 e 9 de agosto para comemorar os trágicos atentados na exibição de arte ‘Pôster e Sobrevivente de Hiroshima e Nagasaki’.