Vou resumir em oito pontos por que a Palestina precisa se livrar do Hamas, mas só os palestinos podem fazer isso, não Israel por meio da guerra.
A guerra entre Israel e o Hamas, como toda a guerra, é injustificável e condenável. Mas, além disso, ela também é um erro estratégico para Israel porque:
1 – Os efetivos do Hamas não são compostos por soldados e sim por militantes. Esses militantes não usam uniformes. Estão misturados à população, em todas as ruas e em muitas casas, prédios públicos, escolas, hospitais, mesquitas, entidades e inclusive lojas comerciais. A rigor eles fazem parte da população civil.
2 – Os túneis cavados pelo Hamas para infiltrar jihadistas em território israelense fazem parte de um sistema complexo e são difíceis de ser encontrados com todas as suas ramificações. Suas entradas estão escondidas em edifícios públicos e privados. A rigor, para encontrá-los seria necessário fazer buscas de casa em casa, prédio por prédio (o que é inviável em centenas de milhares de construções). Ademais, não é possível identificar facilmente um civil como militante do Hamas (a não ser com a ajuda da população local, que não será obtida pelos motivos que serão expostos mais adiante).
3 – Lançadores de foguetes do Hamas também estão situados em áreas civis. Boa parte dos foguetes estão estocados em escolas (inclusive escolas da ONU, com a leniência, com a cumplicidade tácita e às vezes até com a cooperação dos funcionários), hospitais e mesquitas.
4 – Para a estratégia do Hamas é melhor que haja um grande número de baixas entre a população palestina do que entre o exército de Israel. O Hamas sabe que não pode vencer militarmente Israel, então sua ação é terrorista (lançando projéteis a esmo, para aterrorizar a população civil de Israel ou infiltrando jihadistas através dos túneis para perpetrar outros atentados, como assassinatos, sequestros, explosões de homens-bomba etc. em território israelense). Esta é a razão do Hamas usar os palestinos, de preferência mulheres e crianças, como escudos humanos. Para o Hamas trata-se, fundamentalmente, de uma guerra de propaganda.
5 – O objetivo do Hamas não é libertar a Faixa de Gaza (ou todo território que definem como Palestina) de Israel. O Hamas é a Irmandade Muçulmana, que se alia a outros grupos do jihadismo sunita para implementar uma estratégia global (antiglobalização) de construção de um Estado islâmico unificado (uma espécie de califado), abarcando vários países (inclusive fora do Oriente Médio). A destruição de Israel é apenas parte do objetivo de livrar a grande pátria islâmica dos estrangeiros e dos infiéis (kafir).
6 – O Hamas usa o terror também contra a população palestina, inclusive impedindo que as pessoas se defendam dos ataques do exército israelense para aumentar a contagem de mortos. Atuando como um Estado bandido, o Hamas prende e tortura palestinos, obriga os pais a entregarem seus filhos para serem usados como combatentes da organização, invade casas e destrói móveis de palestinos. Por fim, usa as residências de civis palestinos para bombardear as tropas de Israel e em seguida as abandona para que sejam destruídas. Aí então têm mais material para alimentar a propaganda de que alvos civis estão sendo atacados deliberadamente por Israel.
7 – Nunca se vê os combatentes do Hamas porque os jornalistas presentes na Faixa de Gaza não podem fotografar ou filmar quase nada do que veem (se o fizerem serão mortos pelo Hamas). É impossível o lançamento de mais de 2 mil foguetes, muitos em área urbana, não ser visto por alguém, mas há muitos poucos filmes registrando isso.
8 – Atacar militarmente a Faixa de Gaza nessas circunstâncias é apenas adiar (e provavelmente aumentar) o problema. Mesmo que o exército israelense consiga, numa campanha como a atual, com incursão por terra, destruir dezenas de túneis, outros serão construídos. E mesmo que se destruísse todos os lançadores de mísseis e projéteis (o que é praticamente impossível), esse material seria logo reposto de algum modo com a ajuda dos financiadores árabes do jihadismo sunita (da Arábia Saudita e de outros países). Novas incursões militares de Israel na Faixa de Gaza só vão servir como pretexto para insuflar a atuação do Hamas e o recrutamento de palestinos para sua causa.
Só os palestinos – num longo e árduo processo de resistência contra a violação e o sequestro de sua população pelo Hamas, sobretudo por meio de desobediência civil e política – podem livrar a Palestina do Hamas.
Augusto de Franco é escritor, palestrante e consultor
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