Novas revelações parecem ir além do propósito original de Snowden de proteger a privacidade
O ex-contratado da inteligência norte-americana Edward Snowden expôs uma série de supostos detalhes sobre as atividades dos Estados Unidos de coleta de inteligência em redes de computadores, principalmente dirigidas contra a República Popular da China (RPC), segundo uma série recente de artigos do Diário da Manhã do Sul da China.
A informação divulgada inclui a suposta penetração na rede de computadores da Universidade Tsinghua, uma das mais importantes da China, bem como nos sistemas de computador da Pacnet, uma grande rede de fibra óptica que vincula a Ásia-Pacífico aos EUA, e a espionagem de milhões de mensagens de texto de telefones celulares domésticos chineses.
As recentes declarações de Snowden ao Diário da Manhã diferem bastante da razão original que ele deu para expor as informações confidenciais sobre operações de vigilância do governo dos EUA. “Eu não quero viver num mundo onde não há privacidade e, portanto, não há espaço para exploração intelectual e criatividade”, disse ele numa de suas primeiras entrevistas ao jornal The Guardian do Reino Unido.
Na época, ele tinha exposto informações apenas sobre a captura pela Agência de Segurança Nacional (NSA) de registros de chamadas telefônicas e outros metadados de comunicação, inclusive de grandes empresas de internet norte-americanas. “Para ele, é uma questão de princípios”, informou o Guardian em 9 de junho.
Ele também disse: “Eu avalio cuidadosamente cada documento que divulgo para garantir que seja legitimamente de interesse público… Há todo o tipo de documentos que teriam grande impacto e que eu não revelei, porque prejudicar pessoas não é meu objetivo.”
Mas agora ele está sendo acusado de revelar informações operacionais sobre as atividades de inteligência cibernética dos EUA contra um adversário em potencial, a China – qual o interesse público nisso ainda não está claro – o que complica sua narrativa original.
“A primeira coisa que Snowden disse foi que ele estava expondo atividades de vigilância dos EUA para proteger a privacidade dos cidadãos, mas agora o que ele tem exposto é de alcance muito grande”, disse Chen Pokong, analista de Nova York de assuntos contemporâneos chineses. “Isso afeta claramente a segurança nacional dos EUA.”
Chen Pokong disse que, embora a veracidade das alegações já feitas de Snowden ainda não possa ser verificada – uma afirmação anterior de que a rede da Universidade Chinesa de Hong Kong foi penetrada por hackers dos EUA foi posteriormente negada pela escola – mas pelas brevíssimas descrições oferecidas por Snowden, elas pareciam ser de interesse legítimo da segurança dos EUA.
“Sabemos como o Partido Comunista Chinês (PCC) costuma associar universidades com órgãos militares para realizar treinamento e operações de rede”, disse Chen Pokong. Ele listou uma série de casos conhecidos, inclusive em Shandong e Shanghai. Um testemunho de 2011, perante o Congresso, de Richard D. Fisher Jr., pesquisador das atividades militares chinesas, identificou a Universidade Tsinghua como um “centro fundamental da RPC para informação e pesquisa de ciberguerra”.
Diante desse cenário, Chen Pokong pensa que seria “compreensível” os EUA realizarem atividades de reconhecimento e inteligência em sua rede.
Além dos detalhes das novas divulgações de Snowden – os artigos do Diário da Manhã apresentaram poucos detalhes – as revelações estão tendo o efeito inevitável de colocar Snowden e seus motivos mais uma vez sob escrutínio difícil.
Em 20 de maio, Snowden embarcou num voo do Havaí, onde trabalhava para o contratante Booz Allen Hamilton da inteligência dos EUA, para Hong Kong, uma região semiautônoma da República Popular da China. Exatamente quando uma reunião importante entre o presidente norte-americano Barack Obama e o líder chinês Xi Jinping estava em andamento no deserto californiano – muito discutida porque seria a primeira vez que os EUA abordariam o PCC francamente sobre a espionagem industrial de longa data de segredos corporativos norte-americanos – Snowden começou a vazar documentos sobre operações de vigilância da NSA.
No dia seguinte após a conclusão das reuniões, ele apareceu pessoalmente no Guardian alegando responsabilidade. “O momento foi muito peculiar”, disse Chen. “A ocasião foi perfeita para o lado chinês refutar as acusações de ciberespionagem dos EUA e contra-atacar os EUA para se proteger.”
Outros observadores, como John Bolton, um membro sênior do American Enterprise Institute de Washington DC, observou que as divulgações de Snowden tiveram o efeito de inverter a narrativa cibernética nos EUA e criar uma “equivalência moral” entre as atividades dos dois países.
As divulgações recentes vão além do simples significado retórico, disse Chen. “A possibilidade de que Snowden foi instigado pelo PCC para desertar não pode ser descartada”, disse ele. “Esse ponto é um mistério, mas a possibilidade existe.”
Num comentário franco, a Xinhua, a mídia estatal porta-voz do regime chinês, disse: “O drama em torno de Snowden também tende a apoiar a posição da China sobre a questão da cibersegurança.”
Chen Ponkong recordou a tentativa de deserção de Wang Lijun, o chefe de polícia da cidade de Chongqing, em 2012 para um consulado norte-americano e a fuga do advogado chinês cego Chen Guangcheng para a embaixada dos EUA em Pequim. E agora Snowden, que fugiu para Hong Kong. “Esse tipo de coisa costumava acorrer durante a Guerra Fria”, comentou Chen.
Logo após o artigo do Diário da Manhã, o Apple Daily, uma mídia chinesa de Hong Kong, informou que Snowden tinha sido contatado e colocado sob a custódia da polícia de Hong Kong; a unidade antiterrorista havia colocado-o num local seguro, “onde ele seria mantido até que deixasse Hong Kong em segurança”.
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