O sistema de saúde socialista

09/12/2013 14:23 Atualizado: 09/12/2013 14:23

Nota do tradutor: usei o termo “nacionalizado” para descrever o novo sistema de saúde dos EUA, porque, até o surgimento do ObamaCare, o cidadão americano não era obrigado a se inscrever em nenhum plano de saúde; agora, tornou-se uma imposição estatal.

Um pesadelo romeno de 20 anos: o fim do sistema de saúde socialista

Na minha outra vida na Romênia comunista, dirigi uma grande organização de inteligência que, entre outras tarefas, tinha como obrigação manter vivo um sistema de saúde nacionalizado que foi responsável por, no fim das contas, falir o país e gerar um sentimento de desprezo por parte da população. Aquele sistema, bastante parecido com o Affordable Health Care for America Act, era um pesadelo burocrático. E ainda continua sendo para os países do antigo império soviético.

Um relatório da União Europeia sobre o “Sistema de Saúde em Transição” da Romênia pós-comunista afirmou que este sistema “devastou o país”, cuja taxa de mortalidade infantil (20,2 por mil habitantes) estava entre as mais altas da Europa e cuja taxa de mortalidade era 70% mais alta do que a média europeia. [i] A revista médica mais lida no mundo, The Lancet, informou que, mesmo vinte anos após o colapso da União Soviética, “a expectativa de vida ao nascer é de 66 anos na Rússia, 16 anos menor do que a do Japão e 14 menos do que a média da União Europeia”. [ii]

A minha experiência me faz acreditar que a recente decisão da Suprema Corte americana de manter vivo o Affordable Health Care for America Act constituiu um muito necessário chacoalhão para acordar o nosso movimento conservador. Desde 2009, quando o Partido Democrata começou a nacionalizar secretamente o sistema de saúde americano, o nosso movimento conservador não fez nada além de chorar e lamentar e esperar por Deus no céu e pela Suprema Corte na Terra para salvar os EUA de tamanha calamidade.

Chegou a hora de assumirmos as rédeas da situação. As primeiras três palavras da Constituição americana são “We the people”. Por isso, “nós, o povo” somos quem deve decidir qual o tipo de sistema de saúde queremos, pois ele é financiado com o dinheiro dos nossos impostos. Para tomar a decisão correta na eleição de novembro, “nós, o povo” precisamos conhecer a verdade: os Estados Unidos são hoje o primeiro país do mundo quando se fala em sensibilidade médica e qualidade do sistema de saúde, e não há razão para correr e mudar o nosso sistema da noite para o dia.

Nos Estados Unidos, quem manda é o médico. Isto é crucial para salvar vidas. Se o médico percebe algum problema, pode iniciar logo todos os tipos de exames, ter os resultados o mais rápido possível e iniciar imediatamente o tratamento. Já na Grã-Bretanha, onde o sistema de saúde nacionalizado é administrado por burocratas, um paciente precisa esperar cerca de 18 semanas por uma ressonância magnética.

Nos EUA, uma cirurgia pode ser agendada para o dia seguinte, mas, no sistema de saúde nacionalizado do Canadá, o paciente precisa esperar meses por uma operação. Nos EUA, a capacidade do médico de agir rapidamente sem precisar esperar aprovações burocráticas pode fazer a diferença entre a vida e a morte.

O Prêmio Nobel de Medicina conta o resto da história. No século passado, o sistema de saúde de mercado aberto dos EUA foi premiado com 72 prêmios Nobel. A União Soviética, inventora do sistema de saúde nacionalizado, não ganhou nenhum. (A Rússia dos Czares conseguiu um Nobel de Medicina em 1904 pela teoria do reflexo condicionado de Pavlov.)

Mais uma verdade: o sistema de saúde dos Estados Unidos pode e deve ser melhorado, mas em 2008 e 2009 o país estava passando pela segunda pior crise econômica da sua história, e melhorar a economia deveria ter sido a tarefa mais urgente. Quando o Partido Democrata chegou ao poder, entretanto, estava tão infectado pelo marxismo que iniciou o reinado nacionalizando o nosso sistema de saúde. Os ditadores marxistas sempre têm feito isto onde quer que cheguem ao poder.

O sistema de saúde é vital para todos e os marxistas, onde quer que tenham conseguido tomar o controle político, começaram por consolidar o regime nacionalizando o sistema de saúde. Em 1948, os líderes marxistas romenos, após terem montado o primeiro governo marxista daquele país, anunciaram orgulhosamente que estavam se livrando do velho sistema de saúde “capitalista” destinado somente aos ricos, e o estavam substituindo por um “sistema socialista” para “levar a assistência médica a cada um dos romenos”. Ninguém sabia como seria esse “sistema socialista”, mas o seu apelo populista soava bem, e a maior parte dos romenos aplaudiu. Eu também aplaudi, e paguei um alto preço por isso.

Mais uma verdade: os Estados Unidos gradualmente passaram de um país de trabalho escravo negro para um país que elegeu livremente um americano negro para presidente. O “Affordable Health Care for America Act”, entretanto, foi imposto ao país da noite para o dia, da mesma forma que o sistema de saúde marxista foi imposto na Romênia. O diabo sempre está com pressa. De acordo com dados do Senado americano (do U.S. Senate Historical Office), o Affordable Health Care for America Act foi o segundo projeto de lei na história aprovado pelo Senado na véspera do Natal. O primeiro foi em 1895, quando o Senado aprovou um projeto sobre o emprego de soldados confederados aposentados. Aquele sim foi um verdadeiro presente de Natal. O projeto de lei de 2009 foi um presente do demônio, aprovado secretamente, na hora das bruxas, meia-noite.

O sistema de saúde dos Estados Unidos representa um sexto do valor total da economia. O produto interno bruto americano é de 14,1 trilhões de dólares, e um sexto significa algo em torno de 2,35 trilhões de dólares. Como uma nota de dólar mede pouco mais de 16 cm, um trilhão de dólares enfileirados cobriria uma distância de 155.956.000 quilômetros – ultrapassando em mais de 6 milhões de quilômetros a distância entre a Terra e o Sol. [iii] Esta inimaginável quantia de dinheiro de impostos foi paga por “nós, o povo”, que devíamos pelo menos ter dado uma palavra sobre como ele devia ser gasto.

“Temos que aprovar o projeto para que vocês possam descobrir o que há nele”, disse Nancy Pelosi, na época porta-voz da U.S. House of Representatives controlada pelos democratas, falando em 2010 na Legislative Conference for the National Association of Counties. Foi a primeira vez que isto ocorreu na história americana. Esta era a norma no Leste Europeu, onde os regimes marxistas se cobriam de segredo.

Poucos anos após a Romênia ter sido abençoada com um sistema de saúde nacionalizado administrado por burocratas no lugar de médicos, os hospitais estavam tão degradados que havia casos frequentes de dois pacientes ocupando o mesmo leito. Sauve qui peut (salve-se quem puder) tornou-se o lema da privilegiada nomenklatura marxista, que tirou o seu próprio sistema de saúde das mãos dos hospitais destinados a servir “os idiotas”, denominação dada pelo presidente romeno Nicolae Ceausescu ao seu próprio povo. O Partido Comunista apoderou-se do Helias, um hospital construído por uma fundação ocidental, e o destinou para servir exclusivamente às necessidades da nomenklatura do partido. A Securitate, versão romena da KGB, tomou posse de um hospital particular (chamado Dr. Dimitrie Gerota) e o transformou em um centro médico (renomeado Dr. Victor Babes) destinado só para o seu pessoal. O mesmo fez o Ministério da Defesa. Na década de 1970, eu mesmo construí um hospital para o meu serviço de inteligência estrangeiro, o DIE. O hospital não tinha nome e estava escondido na Floresta Băneasa perto de Bucareste, para ficar protegida dos olhos dos “idiotas”.

Os nossos funcionários políticos americanos, que aprovaram sem pensar o Affordable Health Care for America Act de mais de 2000 páginas, também lutaram para se proteger. Todos, dos funcionários do Congresso aos funcionários da Casa Branca, outorgaram a si mesmos versões americanas do Helias e do Gerota. Nenhum deles quis colocar a sua vida nas mãos de um sistema de saúde nacionalizado administrado por burocratas. Cerca de 1200 companhias doadoras do Partido Democrata e sindicatos representando 543.812 trabalhadores também receberam renúncia da parte da lei de reforma do sistema de saúde.

Já escrevi uma vez – mas é bom repetir – a respeito de outra desastrosa consequência dos sistemas de saúde administrados por burocratas: a caixinha. As pessoas nos Estados Unidos não estão acostumadas a subornar para conseguir as coisas. Na Romênia comunista, entretanto, a caixinha era o único jeito de conseguir uma consulta com um médico confiável ou uma cama limpa no hospital. Em 2008, The Lancet informou que na Rússia cada médico e cada enfermeira ainda tinham “o seu pequeno imposto” e que “todos eles preferem dinheiro colocado num envelope, é claro”. As enfermeiras cobravam 50 rublos para esvaziar um urinol e 200 rublos para fazer uma lavagem intestinal. As cirurgias começavam em 300 rublos, mas “o céu é o limite”. [iv] Nos Estados Unidos, a caixinha pode não começar de forma tão ostensiva, mas o suborno com certeza logo vai virar regra, de um jeito ou de outro. Na França, por exemplo, a burocracia governamental introduziu recentemente uma franquia de €1 em cada consulta médica, descrita como uma contribution au remboursement de la dette sociale (contribuição para reembolso da dívida social). Isto foi seguido por uma franquia de €18 nos procedimentos médicos “dispendiosos”. Agora, os pacientes franceses estão aprendendo que, se colocarem discretamente um envelope com dinheiro no bolso do avental de laboratório branco do médico pendurado no seu consultório, eles terão mais “atenção”. Uma pequena atenção extra pode ser vital neste tipo de sistema de saúde administrado pelo governo, onde os médicos são obrigados por lei a examinar de sessenta e setenta pacientes por dia.

Um dos maiores mitos sobre o marxismo é a suposta virtude de igualdade para todos. Se todos pudessem ter o mesmo de tudo, o mundo seria um paraíso na Terra. Todos os marxistas acreditam que só o Estado pode criar tal paraíso. Este ideal utópico agora capturou a imaginação das pessoas nos Estados Unidos também. Eu vivi muitos anos no círculo mais íntimo de um governo marxista pregador deste ideal utópico de igualdade, e é fato que isto não passa de ficção científica. Mentiras. Areia nos olhos do povo. Escrevi, como coautor, um livro inteiro sobre isto, a ser lançado em breve. Mas imagens costumam ser melhores do que palavras. Os meus compatriotas romenos, que pagaram com 1.104 vidas para se libertar do paraíso marxista, nos deram algumas imagens dolorosamente vívidas: um filme de 2007 chamado The Death of Mr. Lazarescu, ganhador de mais de vinte prêmios internacionais.

Para ver o desastre que um sistema de saúde nacionalizado pode gerar, nada melhor do que assistir The Death of Mr. Lazarescu. Este filme foi inspirado na história real de sofrimento de Constantin Nica, engenheiro romeno aposentado que teve o azar de envelhecer em um país que, vinte anos após o seu último ditador comunista ter sido metralhado pelo próprio povo, ainda mantinha um apavorante sistema de saúde governamental e burocratizado.

O roteiro do filme acompanha o fictício paciente Sr. Lazarescu, colocado em uma ambulância do governo romeno que fica perambulando entre diversos hospitais públicos. Nos primeiros três hospitais, apesar dos médicos determinarem a necessidade de uma operação, a burocracia governamental recusa a cirurgia porque ele é muito velho e não tem dinheiro suficiente para a caixinha da equipe hospitalar. O Sr. Lazarescu resolutamente recusa-se a desistir, mas, no quarto hospital, os maléficos burocratas vencem – ele morre após uma cirurgia tardia e malfeita. (O verdadeiro Sr. Nica foi despejado por uma ambulância em um banco de praça e deixado lá para morrer.) O inimigo real do Sr. Lazarescu não era a sua doença, mas a atitude autoritária e fria tão profundamente arraigada na prática burocrática. Ante o realismo do filme, até mesmo o jornal The New York Times – forte apoiador do sistema de saúde administrado pelo governo – foi obrigado a admitir que a película “envolve o espectador no mundo que retrata”. [v]

Sugiro fortemente ao nosso movimento conservador o uso deste filme como instrumento de campanha eleitoral. Vamos exibi-lo em todo país, nas convenções conservadoras, nas maiores reuniões de campanha. Pode ser uma proposta cara, mas custará infinitamente menos do que o prejuízo de longo prazo eventualmente gerado por mais quatro anos de esforços do Partido Democrata em “socializar” os Estados Unidos. Este filme ilustra perfeitamente o efeito de longo alcance de um país administrado por burocratas e não por “nós, o povo”.

O cineasta americano Michael Moore glorificou o sistema de saúde britânico nacionalizado em seu documentário Sicko, de 2007, premiado no Festival de Cinema de Cannes e recebedor de uma ovação de pé de 15 minutos por 2 mil pessoas. Em fevereiro de 2012, entretanto, o primeiro ministro britânico, David Cameron, anunciou que o seu governo privatizaria novamente o sistema de saúde nacionalizado do país. Por mais de 40 anos o povo da Grã-Bretanha assistiu repetidamente o seu próprio The Death of Mr. Lazarescu. Funcionou lá. Deve funcionar aqui.

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[i] “Romania: Health Care System in Transition,” European Observatory on Health Care System, 2000, p.4.
[ii] Helen Womak, “Russia’s next president needs to tackle health care reforms,” The Lancet, Volume 371, Issue 9614, pages 711-714, March 1, 2008.
[iii] Ross Kaminsky, “What Will Obama’s Plans Cost the Nation?” Human Events, March 17, 2008, p. 1.
[iv] Helen Womack, “Russia’s next president needs to tackle health care reforms,” The Lancet, Volume 371, Issue 9614, Pages 711-714, March 1, 2008.
[v] Stephen Holden, “The Death of Mr. Lazarescu,” The New York Times, January 2, 2008.

Este artigo foi publicado no PJ Media, escrito por Ion Mihai Pacepa, o oficial de mais alta patente que desertou do bloco comunista. Traduzido por Ricardo Hashimoto