Sofrimento de professor inspira conterrâneos a apelarem por sua libertação
Um praticante do Falun Gong cuja prisão provocou um ato marcante de resistência ao regime comunista chinês foi condenado a três anos de prisão em 13 de agosto num julgamento cheio de irregularidades.
Wang Xiaodong, um professor altamente respeitado na vila de Zhouguantun, na província de Hebei, foi preso em 25 de fevereiro pelas forças de segurança pública da cidade de Botou. Ele foi acusado de criar DVDs que contam sobre a perseguição ao Falun Gong na China.
A disciplina espiritual do Falun Gong, que Wang Xiaodong pratica, foi apoiada pelo regime no início da década de 1990, antes que o ex-líder chinês Jiang Zemin lançasse uma campanha nacional em 1999 para erradicá-la. A prática tinha entre 70 e 100 milhões de adeptos, mais do que os membros do Partido Comunista Chinês (PCC). Os praticantes do Falun Gong foram atraídos pelos cinco exercícios de meditação da disciplina e por seu forte foco moral, baseado nos princípios da verdade, compaixão e tolerância.
A prisão de Wang deixou seu filho de 6 anos e sua mãe de 77 por conta própria, o que deixou sua vila enfurecida.
Um membro de cada uma das 300 famílias da aldeia assinou e colocou sua impressão digital numa petição que exigia a libertação de Wang. A impressão digital em cera vermelha é uma forma tradicional de assinar um documento que indica a solenidade da assinatura.
Com sua petição, os aldeões mostraram que não acreditavam na propaganda de 13 anos do PCC que tem tentado demonizar o Falun Gong e deixaram claro que não concordavam com a campanha de perseguição.
Segundo uma fonte em Pequim, a petição circulou entre os membros do Comitê Permanente do Politburo, o grupo de nove que dirige o PCC, o que os deixou chocados.
Os peticionários foram apelidados de “300 Bravos”. Estudiosos e ativistas da democracia na China acrescentaram seu apoio ao deles. Em outras aldeias na China, onde praticantes do Falun Gong também enfrentam perseguição, os peticionários de Zhouguantun foram imitados.
Em maio, no nordeste da província de Heilongjiang, 15 mil pessoas assinaram e colocaram suas impressões digitais numa petição pedindo a investigação do homicídio de um praticante do Falun Gong e a libertação de sua esposa e filha que foram presas por pedirem uma investigação da morte.
No início de junho, na vila de Donganfeng, na província de Hebei, os moradores primeiro agiram como um escudo humano impedindo a polícia de prender um praticante do Falun Gong e então 703 deles assinaram e colocaram suas impressões digitais numa petição pedindo sua libertação, depois que ele foi preso.
O julgamento de Wang ocorreu neste contexto de resistência pacífica à perseguição do PCC ao Falun Gong.
Cheng Hai e Li Changmin, dois advogados de Pequim enviados pela família de Wang Xiaodong, foram rejeitados quando tentaram visitá-lo no Centro de Detenção de Botou. Suas reclamações à Secretaria de Segurança Pública não foram respondidas.
O primeiro julgamento de Wang Xiaodong foi conduzido em segredo pelo tribunal de Botou em 18 de julho. Antes da abertura da sessão do tribunal, dois advogados contratados pela família foram forçados a sair e substituídos por um advogado designado pelo regime chinês. A família de Wang não foi informada do julgamento.
Um advogado sênior da China continental que está familiarizado com o caso de Wang disse que ele foi despojado dos direitos legais no primeiro julgamento e, portanto, o veredito é inconstitucional e ilegal.
O julgamento foi concluído numa sessão em 13 de agosto, quando a sentença foi anunciada pelo Tribunal Popular Intermediário de Cangzhou. A família de Wang não foi informada sobre o veredito do julgamento até 14 de agosto, quando o vice-diretor do Centro de Detenção de Botou os contatou. O interlocutor disse que Wang pediu para apelar e ver um advogado.
A mãe e a irmã de Wang foram ao tribunal de Botou e exigiram um veredito por escrito, mas não o receberam até 20 de agosto.
Depois de muito suplicarem, os familiares de Wang foram autorizados a visitá-lo em 18 de agosto. A reunião foi acompanhada por agentes de segurança e policiais e durou apenas 15 minutos. Wang disse a sua família que o tribunal ameaçou estender sua sentença se ele não assinar o veredito.
Wang e sua família recorreram à sentença na província de Hebei e esperam um segundo julgamento.
Os atos de resistência em nome de Wang não foram sem custo. Wang Xiaomei, a imã de Wang Xiaodong, ajudou a organizar o abaixo-assinado. Em 29 de maio, ela foi condenada a um ano num campo de trabalho forçado.
Quando o irmão mais velho de Wang visitou-o no centro de detenção em meados de maio, Wang apresentava sinais de tortura. A Anistia Internacional emitiu um alerta de ação urgente para Wang Xiaomei e seu irmão Wang Xiaodong em 31 de maio.
Os aldeões de Zhouguantun foram ameaçados e forçados a assinarem declarações denunciando o Falun Gong e a aldeia teria sido coberta com slogans denunciando a prática espiritual.
“Esta é uma batalha entre o bem e o mal; na linguagem da política, a busca da liberdade e da democracia”, disse Tang Jinglin, um advogado de direitos humanos da província de Guandong, “Os reprimidos devem se levantar para si mesmos e pela justiça.”
Tang Jinglin disse que os chineses agora resistem abertamente porque não podem mais conter sua raiva e desprezo pelas violações dos direitos humanos cometidas pelo regime comunista chinês. Ele elogiou a coragem do povo chinês e vê o período atual, em que as pessoas estão muito mais conscientes de seus direitos e dispostas a defendê-los, como um “despertar” e uma “nova era para o povo da China”.