Show de calouros e louvores a oficiais é a reposta do governo chinês aos escândalos de corrupção

19/06/2013 17:12 Atualizado: 20/06/2013 14:08
Imagem de tela do novo programa “Em busca do oficial mais belo”, inaugurado em 13 de junho na televisão estatal chinesa. Wang Guilan (esquerda), uma oficial da província de Liaoning reconhecida por seu trabalho com órfãos, explica que, segundo seu coração, o oficial mais belo deve melhorar as condições de vida e o meio ambiente (Epoch Times)

Enquanto o desafortunado ex-ministro chinês das ferrovias Liu Zhijun aguarda seu veredito – após aceitar subornos de pelo menos US$ 10,5 milhões, acumular pelo menos 374 casas e ter relações sexuais impróprias com dezenas de jovens ao longo de sua carreira – a mídia estatal chinesa está tentando melhorar a opinião pública sobre os oficiais do Partido Comunista Chinês (PCC). Uma série de novas colunas joviais na imprensa e na mídia online, além de programas de televisão, foi lançada exaltando a “beleza” dos oficiais comunistas.

Uma oficial “lendária” chamada Li Han, de 49 anos, por exemplo, foi recentemente destaque no jornal estatal Diário dos Trabalhadores. Li Han teria ido de porta em porta para emprestar dinheiro aos camponeses e lhes aconselhar sobre a agricultura.

A mídia porta-voz estatal Xinhua embelezou sua série de quatro colunas com relatos de oficiais dignos de emulação, com títulos como “oficiais-modelo para todas as cidades” e “o oficial local mais amável”.

Reforçando a intensa propaganda midiática, a China Central de Televisão (CCTV) estreou um reality show em 13 de junho chamado “Em busca do oficial mais belo”, em que os dez melhores trabalhadores comunistas populares serão selecionados dentre 320 e julgados por uma comissão na rodada final.

Essa enxurrada de propaganda acontece meses após o líder chinês Xi Jinping lançar o que ele chamou de campanha para reprimir a corrupção entre oficiais do PCC. Apesar do fechamento de notáveis restaurantes dedicados a servir regularmente esses oficiais e de outras medidas contra gastos ostensivos, os escândalos continuam a perturbar o PCC e a reputação de seus oficiais nunca foi pior.

Li Xuehui, um internauta de Pequim, criticou os artigos laudatórios recentes: “Os oficiais estão sempre dizendo boas palavras em público enquanto cometem atos malignos nos bastidores. Como eles podem esperar que os cidadãos os elogiem?”

O ex-ministro das ferrovias Liu Zhijun, por exemplo, teria usado sua influência para ajudar associados a serem promovidos e mobilizou seus subordinados para conseguir encontros com vinte atrizes que atuaram numa adaptação da obra “Sonho da Câmara Vermelha”, um romance chinês famoso da Dinastia Qing.

“Se as pessoas dizem que você é bom ou não, isso não é importante”, disse o internauta Li Xuehui. “Mais importante é vocês saberem como se comportar.”

O programa “Em busca do oficial mais belo” foi criado para “satisfazer o espírito do 18º Congresso Nacional do PCC e para demonstrar as virtudes de seus oficiais”, segundo o site da emissora CCTV.

O desafortunado ex-ministro das ferrovias Liu Zhijun espera o veredito de seu julgamento por corrupção, após aceitar subornos e usar sua influência para ajudar comparsas a adquirirem poder e licitações em troca de promover suas atividades ilícitas e perversas (CCTV)

Os participantes serão julgados de acordo com cinco critérios: atender o padrão comum de moralidade, não ser corrupto, melhorar o meio ambiente, ser inovador e, finalmente, seguir a atual ideologia socioeconômica comunista.

O Diário do Povo, uma mídia estatal porta-voz do regime, publicou três artigos em série no fim de fevereiro louvando os oficiais de aldeia por serem “a fundação que suporta todo o regime e por determinarem a prosperidade civil”.

Os oficiais de aldeia –  nível mais baixo na hierarquia do PCC –  têm sido historicamente usados como modelos para os cidadãos chineses. Uma de suas muitas funções na era Mao Tsé-tung era realizar sessões de leitura de jornal para as grandes massas de camponeses analfabetos, para garantir que eles fossem devidamente inculcados com a ideologia comunista e aquiescessem com as últimas políticas do PCC. Em troca, o PCC louvaria esses oficiais em sua propaganda.

No entanto, oficiais locais frequentemente têm reputação ainda pior de corrupção e abuso de poder. Em 2006, a obra factual “Uma investigação sobre os camponeses chineses”, que foi proibida na China, dá os exemplos vivos de dois chefes de aldeia que enviaram bandidos para matar camponeses que tentaram auditar as finanças da vila. Em ambos os casos, os assassinatos não foram punidos.

A corrupção também permeia o oficialismo nas províncias, a administração entre o centro e as localidades. Em junho do ano passado, Huang Kangsheng, um oficial da província de Guangdong, teria levado 50 delegados do Congresso Nacional Popular numa viagem para a Tailândia, financiada com dinheiro do contribuinte, envolvendo jogo e programas sexuais.

A revelação constante de casos dessa natureza tem levado grandes faixas do público chinês a verem o PCC com desconfiança e desprezo. Tendo em vista que muitos eventos são acobertados e a informação na China é estritamente monitorada e censurada, muitos assumem instintivamente o pior e que os oficiais seriam uma classe amplamente corrupta.

Zhu Jianguo, um escritor independente na China, argumentou que, apesar dos esforços do PCC para melhorar a imagem dos oficiais por meio de propaganda, a corrupção no PCC é “uma doença incurável”.

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