Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz, reflete sobre os acontecimentos atuais no Irã

14/06/2011 03:00 Atualizado: 14/06/2011 03:00

“A violação dos direitos humanos no Irã cresce dia a dia”, disse ela e afirmou que Lula não deve conhecer a situação real, se referindo a sua amizade com Ahmadinejad

PORTO ALEGRE – A advogada e ativista dos direitos humanos iraniana Shirin Ebadi foi a primeira mulher a ser nomeada juíza e presidir o tribunal legislativo de seu país. Ela foi a primeira muçulmana a ser agraciada com o Prêmio Nobel da Paz (2003), por seus esforços pela democracia e os direitos humanos.

Embora seja lembrada por seu discurso contraditório sobre o direito do Irã de desenvolver um programa nuclear, Shirin Ebadi, que agora vive no exílio na Europa, sem dúvida, desempenha um papel importante na luta pelos direitos humanos do povo iraniano.

Na conferência de imprensa na segunda-feira feita no encontro “Fronteiras do Pensamento” em Porto Alegre, Ebadi contou alguns detalhes da situação do Irã.

Shirin Ebadi começou agradecendo o Brasil por mudar seu voto na ONU e resumiu a situação política em seu país.

“Eu agradeço ao povo brasileiro, pelo voto nas Nações Unidas pelo povo do Irã e contra o governo. Desde 2009, eu moro fora do meu país, eu viajo o mundo inteiro para denunciar a situação de repressão e dizer por que estou insatisfeita com o governo. A violação dos direitos humanos no Irã cresce dia a dia”, disse ela.

“No Irã, o número de presos políticos é muito grande, a maioria são da esquerda, muitos deles são estudantes universitários. No Irã, quem se opõe o governo é preso. Muitos dos meus amigos estão na prisão. Os movimentos no Irã são pacíficos, mas há relatos de assassinatos de prisioneiros políticos.”

“Após as eleições fraudulentas em 2009, as pessoas tomaram as ruas, mas o líder supremo do Irã disse que quem se opõe ao governo será preso.”

“Recentemente houve uma controvérsia entre o Presidente Ahmadinejad e o parlamento sobre 2,6 bilhões de dólares de gastos do governo que não foram justificados. Sua luta é pelo poder político e as pessoas continuam protestando e sendo presas.”

Ebadi também se referiu aos conflitos nas eleições de 2009 e a repressão de esquerdistas.

“A polícia invadiu uma casa e matou cinco estudantes do movimento de oposição. Eu não defendo qualquer partido político na luta pelos direitos humanos. O governo não se mostra em ações, somente na luta”, disse Ebani.

Referindo-se à situação dos jovens e das minorias, ela disse que, “A liberdade da juventude no Irã é muito limitada. Se um casal anda de mãos dadas, se beija na rua, qualquer coisa, são condenados a 60 chicotadas.”

A situação das mulheres e das minorias é ainda pior, “Qualquer mulher muçulmana que não usa o véu sofrerá a pena de 80 chicotadas. Independente da idade, pode ter quarenta ou mais anos. As mulheres têm de pedir permissão para casar; reduziu-se a idade para o casamento, a menina pode se casar com 13 anos de idade. Para os homossexuais, a punição é a execução.”

Sobre a reunião de Lula com Ahmadinejad e o discurso político da Presidente Dilma Rousseff, Shirin Ebadi disse, “Ficamos surpresos quando vimos Lula abraçando Ahmadinejad. Acreditamos que Lula não conheça a real situação no Irã. Alguns movimentos no Brasil estão começando a esclarecer o que realmente acontece no país. Quanto a Dilma, eu posso passar meu discurso de paz e vocês mesmos informem a situação a ela.”

Shirin Ebadi participa da edição das Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre e São Paulo, uma série de conferências de referências culturais e sociais que pretende dar um novo olhar nos desafios atuais da sociedade.