Principais representantes da cadeia têxtil brasileira se reunem para inovar o setor e, assim, enfrentar a concorrência dos países asiáticos
Os representantes do setor têxtil brasileiro em São Paulo reuniram-se na segunda-feira 5 de dezembro na Universidade de São Paulo para discutir estratégias de inovação, desenvolvimento do setor e para se preparar para a invasão de produtos chineses.
O setor está entre as cinco maiores indústrias integradas do mundo e é um dos setores que mais empregam pessoas no Brasil.
O setor têxtil brasileiro “enfrenta a concorrência da Ásia há mais de 20 anos, com todos os subsídios, as mudanças e negligência ambiental, etc.”, disse Fernando Pimentel, diretor superintendente da ABIT.
Pimentel elogiou a dedicação dos profissionais reunidos no encontro. Se não fosse por estes jogadores, “Não teríamos superado a competição que enfrentamos há 20 anos com vários países. Eu conheço todas as formas até mesmo aquelas que são menos corretas e leais”, disse Pimentel.
José Jorge Boueri Filho, diretor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) disse com certeza que a união da universidade e da indústria têxtil reescreverá a história têxtil e do design do modo de vestir. Assim, parte da Europa está reagindo à concorrência asiática. “Temos de lavrar esse caminho”, disse ele.
“Se tivéssemos uma meta, um caminho a seguir, não reclamaríamos mais dos chineses, mas os agradeceríamos e aproveitaríamos o que estão fazendo, até teríamos uma melhor base de conhecimento do assunto”, disse Boueri.
Em relação ao aspecto das leis ambientais e sociais, o Brasil é um dos poucos países entre os grandes produtores que mantém uma das mais rigorosas leis de produção, tanto ambiental como em termos sociais.
“Infelizmente, esta não é a regra nos países asiáticos. Os interesses asiáticos sempre se sobrepõem ao ambiental e social”, afirmou Alfredo Emilio Bonduki, presidente do Sinditêxtil.
Entre as propostas para enfrentar a concorrência da China, “tem-se que mostrar que podemos inovar, crescer, respeitando as melhores práticas ambientais e sociais”, disse Emilio Bonduki.
O programa “Tecendo a inovação”
Vanderlei Salvador Bagnato, coordenador da Agência USP de Inovação, disse que há setores que necessitam de maior empenho na área da inovação. O setor têxtil é conhecido por ser o setor que mais emprega pessoas no Brasil, mas vive uma realidade muito dura, e um quilo de algodão brasileiro custa o mesmo que um quilo de toalha chinesa.
“Temos de mudar nosso negócio competitivo tanto quanto possível.” Para isso se identificarão os problemas que podem ser pesquisados, desenvolvidos e, assim, sensibilizar as agências de fomento, FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) para melhorar a indústria têxtil.
Boueri disse que não é um sonho, é uma obra que reúne dois segmentos muito fortes, indústria e universidade.
“A teoria sem a prática não inova. Prática sem teoria não avança. Ao juntar os dois é inovação”, disse Boueri e acrescentou que, “Este é o retorno que vamos dar à sociedade.”
Pimentel entende que este projeto acolherá empresas de outros estados do Brasil e outros lugares, e afirmou que a inclusão da ABIT significa que é um projeto de grande importância para o setor.
Alfredo Emílio Bonduki, presidente do Sinditêxtil, disse que o trabalho pode fazer a diferença para a indústria têxtil que no passado representou 30% do PIB nacional, e hoje representa apenas 17%.
“Louvável, importante e patriótico é o trabalho que estamos fazendo para nossa indústria”, disse Boduki.
A indústria têxtil brasileira num contexto global
A indústria têxtil no Brasil é a segunda maior indústria de transformação no país. Representa 3,3% do PIB do Brasil e emprega 1,7 milhões de trabalhadores, disse Alfredo Emilio Bonduki, presidente do Sinditêxtil.
De uma perspectiva global, é a quinta maior indústria têxtil integrada do mundo, e é a única fora da Ásia, disse Bonduki.
A competência da indústria têxtil brasileira não está entre os estados, mas entre países, disse Bonduki.
A Índia tem o Ministério da Indústria Têxtil. Por sua vez, a China, nos últimos 5 anos, através de investimentos nas províncias, quadruplicou a produção de poliéster.
Hoje, eles têm 70% da produção de poliéster, mesmo não sendo autossuficientes em petróleo.
O Brasil mesmo, com o programa Pré-Sal, é um dos maiores importadores de poliéster em todo o mundo. “Alguma coisa está invertida”, diz Bonduki.
O Brasil está se tornando um importador. “Exporta matérias-primas e importa mercadorias, inovação tecnológica e design.” Ele acrescentou, “isso não combina com a essência do nosso povo.”
Estiveram presentes os representantes da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), o Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do estado de São Paulo (Sinditêxtil), principal parceiro da ABIT, e professores da Faculdade de Ciências, Artes e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo.