A Dinastia Kim da Coreia do Note é conhecida pelo grau quase cômico em que o totalitarismo moldou os pronunciamentos oficiais e registros públicos. Um grupo de estudantes chineses, que fez intercâmbio para aprender o idioma coreano anos atrás, foi entrevistado recentemente pela mídia chinesa.
Bai Xiaoyi, uma pós-graduada no Departamento de Língua Coreana da Universidade de Pequim, foi uma deles. Ela contou sua vida escolar na Coreia do Norte ao Diário Metropolitano Chutian em 17 de janeiro.
Ela lembra que sua colega de quarto norte-coreana Ji Xuejing contou-lhe uma vez um “sonho feliz” após acordar certa manhã. Ji Xuejing disse que seu “grande líder”, o general Kim, tinha dado orientações a ela no sonho, dizendo que eles superariam as dificuldades em suas pesquisas.
“A sensação é como ver uma luz numa noite escura!”, disse Ji Xuejing.
Bai Xiaoyi ficou bastante surpresa com o entusiasmo da colega, cujo pai era um cientista, e ela mesma estava engajada numa pesquisa de física nuclear. Poucos meses depois desse incidente, em outubro de 2006, a Coreia do Note realizou seu primeiro teste nuclear.
Há duas universidades na Coreia do Note que recebem estudantes chineses, a Universidade Kim Il-Sung e a Universidade Kim Hyong-Jik. Kim Hyong-Jik é o nome do pai de Kim Il-Sung. As universidades organizam os estudantes norte-coreanos para serem colegas de quarto dos estudantes chineses.
Zhao Song (pseudônimo) era um estudante do Departamento de Língua Coreana numa faculdade em Pequim. Ele estudou na Coreia do Norte de abril a outubro de 2011.
“Esses colegas norte-coreanos não eram pessoas comuns. A maioria deles era de famílias comunistas ortodoxas”, disse Zhao.
Muitos estudantes chineses só conversavam sobre problemas de linguagem com seus colegas, mas Zhao muitas vezes tentou explorar outros temas, como suas visões do mundo exterior. Mas seus colegas norte-coreano evitavam tais discussões.
A maneira como elee evitavam “era engraçado”, lembra ele. “Eles costumavam dizer que queriam fazer uma ligação telefônica fora do quarto, mas não voltavam.”
Na memória dos estudantes chineses, a maioria dos colegas de quarto norte-coreanos eram orgulhosos, confiantes e educados. Zhao disse que frequentemente seu colega de quarto dizia a ele orgulhosamente que graças ao grande líder e general Kim, o povo coreano tinha uma vida feliz.
Os estudantes norte-coreanos nas universidades costumam acreditar que seu líder tinha criado toda a felicidade na Coreia do Norte. E quando algo não se encaixava no modelo, como, por exemplo, a escassez de bens, os estudantes norte-coreanos simplesmente diziam a seus colegas chineses que a razão era o “dano infligido pelo imperialismo norte-americano”.
Bai Xiaoyi lembrou que seus livros de história diziam, “A humanidade teve origem na península coreana.”
A lição sobre o “Nascimento do grande líder” alega fenômenos sobrenaturais antes do nascimento de Kim Il-Sung.
Quando Zhao estudou na Coreia do Norte, um estudante chinês que estudou na Universidade Kim Hyong-Jik fotografou uma idosa esfarrapada no mercado. Ele foi imediatamente levado pela guarda de segurança e sua câmera foi confiscada. O estudante foi liberado somente depois que a embaixada chinesa interveio.
O grupo de visitantes chineses retornou a Pequim em 19 de outubro de 2011. Dois meses depois, o líder norte-coreano Kim Jong-Il faleceu.
Após a morte de Kim Jong-Il, a Agência Central de Notícias da Coreia do Norte (KCNA) informou em 16 de janeiro que, “Uma mãe ursa e dois filhotes, que deveriam estar hibernando, saíram da floresta. Eles choraram tristemente na estrada que Kim Jong-Il caminhou tantas vezes.”
O artigo continuava dizendo, “Um pássaro morreu congelado nos galhos perto do local onde Kim Jong-Il tirou fotos com os guias quando inspecionava a área.”