Será que estamos explorando excessivamente nosso futuro?

21/04/2013 18:25 Atualizado: 06/08/2013 17:32
Um tubarão com as barbatanas removidas e abandonado no fundo do oceano (Nancy Boucha)

Recentemente, eu lamentava o estado deplorável dos tubarões galha-branca-oceânicos e mencionei que havia uma Conferência das Partes (CITES) em março em Bangkok para discutir sua proteção. O que há alguns poucos anos era o mais abundante grande predador na Terra agora é pouco mais do que uma memória.

Eu também mencionei o excelente trabalho do Dr. Shelley Clarke, que estima a partir de pesquisas de mercado que entre 26 e 73 milhões de tubarões têm sido colhidos a cada ano no mundo. Sua melhor estimativa era de 38 milhões de tubarões mortos anualmente.

Será que erramos nos números? Em 1º de março de 2013, o estudo “Capturas globais, taxa de exploração e opções de recuperação dos tubarões” foi publicado pelo Dr. Worm e outros três pesquisadores da Universidade Dalhousie, em parceria com cientistas da Universidade de Windsor do Canadá, da Universidade Stony Brook de Nova York, da Universidade Internacional da Flórida (FIU) em Miami e da Universidade de Miami. Uma equipe realmente impressionante.

Suas descobertas chocantes são que a pesca de tubarões é agora globalmente insustentável. Suas estimativas mais recentes colocam a carnificina em 97 milhões em 2010. A faixa de mortalidade seria de 63 e 273 milhões por ano. Isso equivale a algo em torno de 7.200 e 31 mil tubarões por hora.

“Os tubarões são semelhantes às baleias e aos seres humanos, na medida em que amadurecem no final da vida e têm poucos descendentes”, disse Boris Worm num comunicado de imprensa. “Nossa análise mostra que cerca de um em cada 15 tubarões é morto pela pesca a cada ano. Com uma demanda crescente por suas barbatanas, os tubarões são mais vulneráveis hoje do que nunca.”

Por que estou tão triste? Nunca foi divertido nadar em torno de mil metros de água com coisas descritas por Jacques Cousteau como “o mais perigoso de todos os tubarões”. Por que eu deveria me importar se eles se forem?

A pesquisa que eu fazia naquele momento observava a composição da comunidade de peixes marinhos e como esta estaria exposta à pressão da pesca. Especificamente direcionada para a pesca destinada a predadores maiores em recifes de coral. Eu tentava descobrir o quanto os pescadores estavam reduzindo os estoques de peixes alimentares valiosos na Grande Barreira de Corais. Eu descobri que os estoques foram devastados em até 95% em alguns lugares.

Mas eu descobri algo que não era conhecido antes. Eu desenvolvi uma expressão matemática que prevê mudanças em toda a comunidade de peixes e publiquei esse trabalho em 1982.

É isso mesmo! Não eram apenas as espécies que os pescadores estavam pegando; parecia que tudo havia mudado e, mais importante, parecia que nunca voltaria atrás. Infelizmente, essa ideia não pegou e foi enterrada em bibliotecas científicas. Todo mundo acreditava que, se você deixasse as coisas sozinhas por um tempo, elas se reparariam e retornariam a como eram nos “bons e velhos tempos”. Isso surgiu da ideia de “recursos renováveis” e é a maneira como vemos o mundo a nosso redor.

Os anos se passaram e as coisas começaram a ir muito mal no Caribe. Os recifes de lá estavam sendo tomados por algas, os peixes sumiram e os corais estavam morrendo. A partir de 2000, os pesquisadores procuravam uma variedade de causas possíveis. Em março de 2009, eles descobriram que a abundância de peixe que fora estável por décadas havia dado lugar a declínios significativos desde 1995.

Em junho de 2012, o Dr. Roff completou um estudo abordando preocupações sobre o futuro dos recifes de coral do Caribe. Algas floresciam tão rápido que os corais não poderiam se recuperar devido à ausência de peixes suficientes que se alimentam de algas.

Agora, em março de 2013, “Esta é uma grande preocupação, porque a perda dos tubarões pode afetar o ecossistema mais amplo”, disse Mike Heithaus, diretor-executivo da ‘Escola do Meio Ambiente, Artes e Sociedade’ da FIU, num comunicado. “Trabalhando com tubarões-tigre, observamos que, se não temos o suficiente desses predadores, isso provoca alterações em cadeia no ecossistema, que se propagam até as plantas marinhas.” Essas mudanças podem prejudicar outras espécies e afetar negativamente a pesca comercial, explica Heithaus.

A ciência tem pontuado o problema da superexploração dos predadores do topo da cadeia – os tubarões e algumas garoupas. Foi nos últimos dois anos que esta pesquisa fez meu trabalho anterior ser espanado e olhado novamente. Meu conceito de 1982 agora está se tornando uma pedra angular do pensamento contemporâneo na gestão dos recifes de corais.

Simplificando, temos de ter todas as espécies em números razoáveis se quisermos manter a pesca saudável e sustentável. A eliminação de um predador do topo é como retirar alguns ‘chips’ de seu computador. Ele ainda funciona, mas não operará da maneira desejada.

No meu trabalho anterior, eu previ que “o conceito de recursos renováveis não pode ser amplamente aplicável aos recifes de corais e a relação entre a abundância de espécies [do topo]; e que [a mudança] não seria tanto uma ferramenta de gestão, mas a imagem do desaparecimento da comunidade de peixes de recifes como a conhecemos”.

Palavras bonitas? Na verdade não. Quanto à natureza, nós só temos de compreender que na maioria das vezes nós não a entendemos. Não podemos entrar num sistema ecológico que evoluiu por centenas de milhões de anos antes de o homem pisar no planeta e achar que podemos explorá-lo como quer que desejemos e que ele simplesmente lidará com nosso presença.

Se podemos aprender algo com a história natural é que, quando os sistemas começam a entrar em colapso, há um ponto do qual não há retorno. Se você duvida disso, então, pergunte aos dinossauros o que eles acham.

O Dr. Gerry Goeden é um ecologista marinho baseado na Malásia, pesquisador-associado e conselheiro da Universidade Nacional da Malásia e consultor marítimo do Andaman Resort, Langkawi.

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