Sem teste público, como confiar em nosso sistema de votação?

07/06/2014 10:10 Atualizado: 07/06/2014 10:31

A urna eletrônica brasileira é realmente segura e à prova de hackear? Como garantir que os votos foram contabilizados de forma correta? Isso é fundamental para eleições justas e que reflitam a vontade popular.

No entanto, este ano, antes das eleições, o Tribunal Superior Eleitoral não testará publicamente as urnas. Segundo o jornal o Globo, o TSE não expõe seu sistema de votos para testes de técnicos independentes desde as últimas eleições, quando um hacker afirmou ter fraudado as eleições sem invadir as urnas.

O TSE realizou dois testes públicos de segurança, um em 2009 e outro em 2012. No teste de 2009, ninguém conseguiu violar a urna, no entanto, apenas alguns programas para hackear o sistema puderam ser utilizados. Apesar do baixo nível de exigência do teste, o Tribunal Superior Eleitoral considerou que o sistema era seguro.

No teste de 2012, uma equipe da Universidade de Brasília conseguiu reordenar votos. Na urna eletrônica, os votos são embaralhados para dificultar a descoberta da relação de vinculação entre o votante e o candidatos. Mas, acessando ao código-fonte, a equipe da Universidade descobriu o algoritmo usado no embaralhamento e pode desembaralhar os votos. No entanto, o TSE considerou o sistema seguro porque o sigilo do voto não foi quebrado, pois os nomes dos eleitores não foram relacionado com os votos digitados na urna. O problema foi corrigido?

“Eu aguardava ansiosamente os testes de 2014 para poder verificar se pelo menos os problemas de segurança que descobrimos (em 2012) haviam sido corrigidos. Mas isso não vai acontecer e lamento por isso. Eu realmente acredito que as urnas eletrônicas brasileiras seriam viradas pelo avesso se pudéssemos fazer testes realistas e sem restrições nelas. Mas o TSE nos impede”.

Diego Aranha, um dos membros da equipe da Universidade de Brasília.

Em 2014, o TSE formou uma equipe de 12 pessoas para testar a segurança do sistema de votação, sendo que só uma delas não é empregado da Justiça Eleitoral. Alegar que o teste público é caro e demorado para ser feito todo os anos não parece razoável diante do que representa uma eleição, além disso, a tecnologia que possibilita a invasão de sistemas evolui a cada ano.

EUA, Holanda, Paraguai e Índia realizaram testes de urnas de primeira geração – o sistema usado no Brasil: registro do voto digitalmente e desmaterialização do voto da urna -, e, em todos, os especialistas quebraram a segurança, por isso, esses países não usam esse tipo de sistema votação. Imprimir o voto é fundamental porque, mesmo que o processo de controle dos votos na sala de votação seja seguro, os dados podem ser alterados posteriormente.

Agora, caminhamos para solucionar esse problema. A Câmara dos Deputados aprovou o voto impresso. Agora isso caminha no Senado. No entanto, provavelmente não será implantado já para as eleições deste ano.