A semana passada terminou com a divulgação pelo IBGE do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) ligeiramente melhor no segundo trimestre que no primeiro. Há de se convir, no entanto, que se trata um resultado inexpressivo, que evidentemente ainda não dá razão para comemoração. Fatores como baixo investimento, crescimento estagnado da indústria e queda das exportações estão entre os principais responsáveis por tão tímido resultado.
A pesquisa do IBGE apontou um aumento de 0,4% em relação ao primeiro trimestre chegando a 1,1 trilhão de reais, o que representa 0,5% na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo os dados divulgados, paralelamente à queda drástica da indústria e do recuo dos investimentos públicos, o desempenho foi segurado pela agropecuária e serviços, que já superam o consumo das famílias.
O economista Mauro Rochlin, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Rio de Janeiro (Ibmec-RJ), falou sobre o resultado do PIB com a colunista Miriam Leitão, do jornal O Globo, na sexta-feira. Ele acredita que a política do Governo de estimular apenas o crédito e o consumo se mostrou insuficiente e ineficaz. “O número mostra que o Governo tem uma missão a cumprir por meio de aumento em investimentos públicos, que ficaram estancados no segundo trimestre por problemas de gestão em ministérios e falta de projetos”, avalia Rochlin.
Segundo o especialista, a queda dos investimentos, que recuaram 0,7% em relação ao primeiro trimestre e 3,7% na comparação com o mesmo período de 2011, é muito preocupante. “É um tombo, que aponta uma perspectiva ruim para o crescimento de médio e longo prazo.”
O desequilíbrio da balança comercial foi um dos fatores que também contribuiu fortemente para o reduzido crescimento do PIB no segundo trimestre. O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, em entrevista concedida ao Estadão na sexta-feira, ressaltou a diminuição das exportações (-3,9% ante o primeiro trimestre), em especial bens manufaturados para os argentinos. “Esta questão vem sendo minimizada, mas agora ficou claro que está havendo um vazamento externo do PIB”, analisa Leal.
Também ao Estadão na sexta-feira, Mauro Rochlin afirmou que negócios que vêm sendo perdidos com a redução da competitividade levam tempo para ser restabelecidos. “Apesar da desvalorização importante (do real) em relação ao nível do dólar no início do ano, as exportações não reagem rapidamente.”
Segundo Rochlin, o protecionismo argentino exerceu influência negativa no PIB brasileiro, embora de forma mais modesta que o cenário internacional. “Conta mais a desaceleração global da demanda gerada pela crise na Europa e nos Estados Unidos”, disse ao jornal.
Em entrevista coletiva em São Paulo nesta sexta-feira para comentar o resultado do desempenho da economia no segundo trimestre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o país passou pela pior fase, isso é, o primeiro trimestre de 2012. Mantega sustenta que a economia tende a crescer mais nos próximos trimestres. “O terceiro e quarto trimestres serão melhores”, declarou o ministro. “O resultado do PIB hoje é de retrovisor. O pior ficou para trás.”
O Governo se antecipou ao anunciar na última quarta-feira, dois dias antes da divulgação do PIB do segundo trimestre, um amplo programa de renúncia fiscal para estimular a economia. Um pacote de 5,5 bilhões de reais em desonerações e reduções de custos para investimentos, entre elas a prorrogação do IPI reduzido para automóveis, eletrodomésticos e materiais de construção, e o corte de juros do BNDES. Os desafios são grandes. A inércia do sistema público também. Mas o Governo parece ter entendido a gravidade da situação respondendo da maneira como pode. Resta saber se estas medidas serão suficientes ou se será preciso uma ousadia maior. O tempo dirá.