Um homem alto, de cabelos grisalhos, está prestes a atravessar o cruzamento entre a avenida Amsterdam com a rua 74, em Nova York, enquanto os táxis amarelos e os carros passam rapidamente. O sinal de “atravesse” se acendeu. Ele colocou sua bengala na rua e começou a atravessar. Ele era um homem forte, seu corpo indicava anos de trabalho físico. Mas o trabalho, ou talvez as doenças que vêm com a idade, ou reviravoltas do destino, quase o paralisaram. Em quatro segundos ele percorreu menos de dois metros da travessia.
A avenida Amsterdam tem 25 metros de comprimento e o semáforo detém os carros no cruzamento por 40 segundos. Naquele ritmo, o homem ainda estava a sete metros da calçada quando os carros começaram a acelerar. O sinal ficou verde e os motores rugiram quando os motoristas pisaram no acelerador. O homem apertou o passo. O dilema deste homem levanta questões importantes. Nós podemos projetar cidades para acomodar aqueles que são mais lentos e vulneráveis?
Ele deveria saber de antemão que, no seu ritmo, não iria atravessar a tempo, mesmo que aquele cruzamento seja um dos mais generosos do bairro em termos de tempo de passagem de pedestres? Você é obrigado a ficar em casa se as ruas são muito perigosas? As pessoas com mais de 65 anos constituem 12% da população da cidade de Nova York, mas representam 36% dos pedestres atropelados por automóveis, de acordo com relatório do Departamento de Trânsito (DOT, da sigla em inglês) em 2013.
Gene Aronowitz, que observava o homem a partir do Josie’s Cafe and Bakery, que fica do outro lado da avenida Amsterdam, sabia que o homem não iria atravessar a tempo. Aronowitz, de 75 anos, realizava um curso sobre segurança viária para idosos em uma casa de repouso nas proximidades. No final do seu discurso, sugeriu um teste de velocidade. Ele amarrou um laço de 20 metros entre duas cadeiras e determinou um tempo para que cada um percorresse aquela distância. Todos, exceto um, conseguiram percorrer a distância a tempo. O homem grisalho foi o mais lento. (Os idosos nesta história não são identificados pelo nome, a pedido da instituição).
Há dois anos atrás, Aronowitz mal conseguia andar. Ele realizou uma mudança em seu estilo de vida e começou a exercitar-se diariamente e andar de bicicleta. Hoje caminha com facilidade, mas se lembra bem do tempo em que não podia fazê-lo. “Eu sabia o quanto alguém pode ser vulnerável. É por isso que resolvi ajudar os outros”, disse Aronowitz.
Na casa para idosos, ele recomenda não atravessar a rua imediatamente ao chegar ao cruzamento com sinal fechado para os veículos. Não há maneira de prever por quanto tempo o sinal esteve fechado (exceto nos casos de semáforos para pedestres com temporizador), então é mais seguro esperar até que o sinal feche novamente. Aronowitz lembra de ficar alerta para os ciclistas que vêm em direção contrária, poças d’água e outras ameaças que podem se tornar fatais.
“Quando dizem que as ruas são perigosas, eu concordo. Já fiquei com muito medo. Os motoristas são agressivos. Eles avançam imediatamente quando o sinal abre. Não esperam”, disse uma mulher de 72 anos que usa um andador. Ela teve um dos melhores tempos no teste de velocidade de Aronowitz. Os demais concordavam com a cabeça, enquanto Aronowitz continuava. Quanto ao teste de velocidade, disse que os resultados não eram precisos, porque todos os participantes forçaram um pouco o ritmo porque estavam competindo uns com os outros.
Em 2008, o DOT identificou 25 locais com os maiores índices de acidentes e mortes de pedestres idosos e os reportou para que fossem realizadas melhorias. Desde então, o Departamento acrescentou itens de segurança, tais como temporizadores, ilhas de pedestres e extensões de freio. As mortes de pedestres idosos passaram de uma média de 62 por ano entre 2000 e 2007 a 50 por ano desde 2008, quando o departamento começou a implementar as mudanças.
Mas Aronowitz acha insuficiente. Ele tem esperança de ver chegar o momento em que o número de mortos e feridos será zero. Ele dá suas aulas de segurança para pedestres idosos através da Transportation Alternatives, organização sem fins lucrativos que defende a criação de ciclovias e outras formas alternativas de transporte mais seguro por toda a cidade.
Há dois anos, quando Aronowitz começou a andar de bicicleta, escreveu para um vereador do Brooklyn pedindo uma ciclovia em seu bairro. Este passo se converteu em uma campanha de dois anos que trouxe uma ciclovia à Quinta Avenida, no Brooklyn. Desde então, ele tem se engajado cada vez mais. Ele visitou cerca de dez asilos no último ano e meio. “Eu acho que todos nós nos sentimos inseguros. Na verdade, se você não se sente inseguro, está delirando”, disse Aronowitz.
À medida que os carros se aproximavam, o homem de cabelos grisalhos – do início da nossa história – deixou a faixa de pedestres e encontrou segurança atrás de uma barreira policial. “Se eu conseguir salvar uma única vida, já terá valido a pena”, disse Aronowitz recostando-se em sua cadeira no Josie’s.
Dez dicas de segurança para idosos:
1. Ao fazer compras, considere o uso de um carrinho. Será útil para o equilíbrio. Não carregue muitos itens de uma só vez, em vez disso, faça várias viagens ou utilize o serviço de entrega em domicílio.
2. Evite o uso de fones de ouvido ou telefone celular.
3. À noite, use roupas brilhantes, caminhe por áreas bem iluminadas e considere a possibilidade de levar uma lanterna.
4. Siga os sinais de pedestres, mas de qualquer maneira olhe antes de atravessar.
5. Se o sinal de pedestre não tem contagem regressiva, espere até o próximo sinal de “avançar” antes de atravessar.
6. Ao atravessar, olhe para a esquerda, a direita, depois para a esquerda novamente e continue prestando atenção enquanto atravessa. Cuidado com as bicicletas, elas podem vir da direção errada.
7. Faça contato visual com os motoristas mais próximos.
8. Fique atento aos carros que estejam manobrando ou pegando o retorno.
9. Use sempre a faixa para atravessar. Às vezes, as linhas são apagadas ou ausentes, de qualquer maneira atravesse sempre na esquina, e não na metade da via.
10. Se você ainda estiver na faixa de pedestres no momento da mudança de sinal, estenda o braço para chamar a atenção do motorista.
(Cortesía de Gene Aronowitz)