Autoridades judiciais e de propaganda chinesas liberaram dez transcrições sobre o segundo dia do julgamento-show contra o ex-membro do Politburo, Bo Xilai, na sexta-feira; a maior parte do conteúdo detalhava como este teria aceitado e utilizado propina de empresários com os quais ele se associou no início da carreira. Uma cara vila francesa em Cannes, comprada com dinheiro sujo, destacou-se fortemente. O depoimento do ex-capanga de Bo Xilai, Wang Lijun, também foi apresentado, juntamente com um vídeo-testemunho da esposa de Bo Xilai, Gu Kailai.
Em resposta a este vídeo, Bo Xilai continuou a insistir em sua inocência e disse que sua esposa estava num “estado mental instável” e sob pressão das autoridades judiciais.
Ele teria aceitado subornos no valor de 3,5 milhões de dólares do empresário Xu Ming, que dirigia um império de negócios em expansão. Xu Ming envolveu-se em transações fraudulentas, disse o tribunal, compactuando com um francês e com a família Bo para comprar uma casa em Cannes que Bo Xilai e a esposa usufruíam. Gu Kailai está atualmente na prisão após receber uma sentença de morte suspensa pelo envenenamento de Neil Heywood, um empresário britânico e outro ex-associado.
Também foi apresentado o testemunho escrito de Wang Lijun, o chefe de polícia de Chongqing, onde Bo Xilai era secretário do Partido Comunista Chinês (PCC) antes de sua queda. Wang Lijun está agora na prisão, condenado a 15 anos por abuso de poder, corrupção e tentativa de deserção para os Estados Unidos. Foi a tentativa de deserção de Wang Lijun que desencadeou o escândalo que destruiu a carreira política de Bo Xilai.
As autoridades têm enviado uma série de diretivas de propaganda destinadas a controlar como os julgamentos são discutidos e relatados nos meios de comunicação chineses. “Quanto à cobertura da audiência de Bo Xilai, as manchetes não podem expressar qualquer coisa que beneficie Bo Xilai, como seus ‘20 questionamentos’ arguindo sobre Xu Ming no tribunal”, disse uma nota oficial, segundo o China Digital Times. Os “20 questionamentos” referem-se a uma longa série de respostas “não” sobre perguntas feitas por Bo Xilai quando autorizado a interrogar uma testemunha na quinta-feira.
A cobertura de agências estatais no segundo dia do julgamento diferiu: transcrições do processo, cuja exatidão não pode ser garantida, continuam a surgir do blogue do Tribunal Popular Intermediário de Jinan, mas um artigo na mídia estatal Xinhua sobre o dia foi eliminado sem explicação. “Desculpe, esta notícia foi apagada”, foi tudo que restou no lugar.