Sancionar a Rússia põe em risco economia mundial

06/03/2014 11:26 Atualizado: 06/03/2014 11:26

Enquanto os chefes de Estado da União Europeia se reúnem na quinta-feira para considerar sanções econômicas contra a Rússia, eles enfrentam a perspectiva de aumentar os preços do petróleo, reduzir as exportações e sofrer contrassanções. A situação está deixando o Ocidente com menos opções para combater a presença militar da Rússia na Ucrânia.

Petróleo e gás

Nem a Rússia nem o Ocidente tem interesse em interromper o fluxo do petróleo. A Rússia perderia receita e reputação, enquanto o Ocidente, especialmente a Europa, teria de lidar com preços do petróleo mais elevados. “A Europa não pode realmente se dar ao luxo de recair numa terceira recessão em seis anos”, escreveu o Bank of America numa nota a clientes. “Como nada significativo em termos de sanções surgiu devido aos conflitos da Rússia na Ossétia do Sul e Abcásia em 2008, também é improvável que nada ocorra agora.”

A Europa Ocidental também depende da Rússia para a maioria de suas importações de gás natural. Joe Kaeser, CEO da indústria alemã Siemens AG, disse a repórteres numa conferência em Houston na quarta-feira: “Talvez o povo americano, o governo ou quem quer que levante as sobrancelhas possa questionar como podem os europeus ser tão moderados no debate sobre sanções. Adivinhem? Você não quer sancionar alguém de quem você depende.” Ele acrescentou que o governo dos EUA está em melhor posição para pedir sanções.

Economia alemã

Isto é especialmente verdadeiro para a Alemanha. Não só a maior economia da Europa importa a maioria do seu gás e grande quantidade do petróleo da Rússia, como também exporta automóveis, produtos químicos e máquinas para a Rússia, que é seu terceiro maior parceiro comercial. “A economia alemã e russa são tão entrelaçadas que as sanções com certeza desencadearão contrassanções”, disse Rainer Lindner, um executivo que supervisiona a incorporação da economia alemã oriental, à revista Der Spiegel.

Ações das multinacionais alemãs como BMW Group, Volkswagen AG, Metro AG e Daimler AG têm vendido acentuadamente desde o começou das primeiras conversações de sanções contra a Rússia há poucos dias. Lindner acrescentou que mais de 6 mil empresas alemãs operam na Rússia, mais do que o total de todos os outros membros da UE juntos. A chanceler alemã Angela Merkel desempenha um papel fundamental na tomada de decisões na UE. Ela terá de enfrentar ventos contrários severos de seu eleitorado local se ela concordar em sancionar a Rússia.

Contrassanções russas

Como Lindner temia, a Câmara Alta do Parlamento russo já começou a discutir possíveis contrassanções na quarta-feira, segundo a agência de notícias russa RIA Novosti. O debate centrou-se no confisco de bens de empresas norte-americanas e europeias e se isso está em conformidade com a Constituição russa.

O chefe do comitê legislativo constitucional da Rússia, Andrei Klishas, disse a RIA na quarta-feira: “Mas não temos dúvidas que isso corresponde claramente aos padrões europeus. Os recentes acontecimentos no Chipre vêm à mente, onde o confisco de ativos foi a principal exigência feita pela União Europeia em troca de ajuda econômica.”

Ucrânia

O país é totalmente dependente da Rússia para abastecer com gás barato para alimentar sua economia. Desde já, a Ucrânia não será capaz de pagar cerca de US$ 2 bilhões em dívida contraída pelas entregas de gás em fevereiro, segundo a empresa russa Gazprom, a maior produtora de gás natural do mundo.

“Nossos colegas ucranianos nos informaram que não seriam capazes de pagar na íntegra o fornecimento de gás de fevereiro”, disse Alexei Miller, o CEO da Gazprom. A Gazprom também parará de fornecer um desconto para as entregas à Ucrânia em abril, elevando os preços em 49%.

Além disso, parece que a Rússia também é mais capaz de fornecer ajuda financeira à Ucrânia. O primeiro-ministro Dmitry Medvedev disse que a Rússia poderia disponibilizar imediatamente US$ 2-3 bilhões. O US$ 1 bilhão prometido pelo secretário de Estado americano John Kerry não é suficiente para pagar sequer o gás que já foi entregue. Os US$ 15 bilhões prometidos pela União Europeia não estarão disponíveis de imediato, porque precisam da aprovação de alguns estados-membros individuais e seriam desembolsados ao longo de vários anos.