Seguindo o rastro de um gerente de investimentos altamente considerado, muitos investidores chineses começaram a reduzir sua exposição à economia da China e transferir sua riqueza para o exterior.
James Chanos previu numa entrevista recente a Opalesco TV, um serviço de notícias para a indústria de fundos de cobertura, que a economia da China enfrentará o desastre, porque dívidas ruins em toda a economia, especialmente no setor imobiliário, estão programadas para se desdobrarem. A China tem sido testemunha de “mau crédito e concessão de crédito que fazem a Grécia, a Espanha e os EUA parecerem brincadeira de criança”, disse ele.
Chanos gerencia o fundo de cobertura Kynikos Associates, especializado em encontrar investimentos supervalorizados e fazer dinheiro quando o valor dos títulos declina. Chanos tem sido um pessimista, conhecido como um “urso” no setor de investimentos, sobre a China há anos.
Os chineses do continente também parecem compartilhar a visão negativa de Chanos sobre a economia chinesa; segundo dados do Ministério do Comércio, o investimento de capital está deixando o país.
De janeiro a junho de 2012, a China investiu 35,42 bilhões de dólares em 116 países diferentes e 2.163 projetos diferentes, um aumento de 48% em comparação ao mesmo período do ano passado. O que aparece no dado agregado também é confirmado por relatórios de campo.
Quem quer ações na China?
O Economic Observer, uma publicação chinesa, relatou a experiência de um investidor chamado Liu Yun (pseudônimo) que voltou para a China no final de 2009 do Canadá. Incapaz de encontrar um bom projeto para investir, ele comprou oito diferentes propriedades imobiliárias em Pequim.
“Embora a renda e o lucro dessas propriedades sejam decentes”, disse ele, “eu ainda venderei algumas delas.” Ele disse que não se sente seguro tendo ações na China e, finalmente, deseja manter apenas uma propriedade, dizendo, “Muitos chineses do continente que eu conheço estão transferindo sua riqueza para o exterior, sentindo que propriedades em Yuan não são muito seguras e que o futuro parece sombrio.”
No mesmo artigo, um comerciante de moeda foi citado dizendo que o Yuan chinês deverá enfraquecer.
Uma mudança para o dólar
Do outro lado da mesa do Banco Popular da China (BPC), do outro lado do comércio, estão muitos cidadãos e empresas. Um funcionário de uma agência do Banco de Construção da China em Pequim disse recentemente, “Atualmente, o dólar está em alta demanda, pelos últimos dias, qualquer operação cambial superior a 2 mil dólares precisa fazer reserva prévia.”
“No ano passado, tentamos vender produtos de seguros com taxas oferecidas em RMB, isso foi muito popular, este ano as vendas não estão indo bem.”
Um gerente de produto numa empresa de seguros disse, “Algumas pessoas num banco estrangeiro me disseram, os produtos financeiros em dólares norte-americanos estão vendendo bem.”
Esta tendência de abandonar o RMB pelo dólar é ainda mais evidente entre as empresas.
Empresas movimentam dinheiro para fora da China através de fusões e aquisições no exterior, também como uma forma de contornar os controles rígidos de capital na China. Financistas chineses desenvolveram outros truques do ramo para moverem o dinheiro dos ricos para fora do país.
Saídas de capital
Esses movimentos também aparecem nos dados do BPC. Alguns analistas estão começando a se preocupar, porque durante o segundo trimestre de 2012 o superávit comercial da China diminuiu um total de 68,7 bilhões de dólares.
Fan Wei, analista-chefe da Hongyuan Securities, alertou num relatório de pesquisa que, “flutuações de moeda afetarão seriamente os valores dos ativos na China”.
“Adicionando aquela redução do superávit comercial aos 30 bilhões de dólares de investimento estrangeiro direto para fora da China encontra-se uma saída de capital de mais de 100 bilhões de dólares”, escreveu Fan. “Isso forçará a alocação de ativos domésticos a levar em consideração o fluxo de capital e as mudanças nas taxas de câmbio.”
Aqueles 100 bilhões de dólares podem ser apenas o começo. Victor Shih, um professor-associado de Ciência Política da Universidade do Noroeste, estima que o 1% mais rico das famílias chinesas têm entre 2 e 5 trilhões de dólares em riqueza e que se uma parcela significativa dessas pessoas começar a transferir seu yuanes para dólares, a China poderia ter graves problemas. Shih apontou numa entrevista com o INETeconomics em abril de 2011 que a reservas estrangeiras do país de 3,2 trilhões de dólares não seriam grandes o suficiente para cobrirem movimentos de moeda dessa ordem.