Sacos de lixo revelam segredos de espionagem da Stasi

28/08/2012 00:00 Atualizado: 30/08/2012 05:48
Uma funcionária na antiga sede da Stasi (Antiga polícia secreta comunista da Alemanha Oriental) separa centenas de milhares de documentos rasgados e despedaçados da Stasi destinados à destruição após a queda do Muro de Berlim em 1989, em Berlim, 12 de janeiro.

O conteúdo reconstruído de 500 sacos de lixo oferece novos insights sobre a extensão de atividades de espionagem pela polícia secreta da Alemanha Oriental, ou Stasi, na Alemanha Ocidental.

A Stasi realizou um extenso programa de roubo de identidades de dezenas de milhares de cidadãos da Alemanha Ocidental para possibilitar que seus espiões operassem livremente no Ocidente, segundo a RBB.

Durante a Guerra Fria, Berlim Ocidental existiu como um enclave no meio Alemanha Oriental comunista. Se os alemães ocidentais quisessem viajar de e para Berlim, sua maior cidade, por terra, eles precisariam passar pela Alemanha Oriental para chegar lá. Nesses postos de controle, a polícia de fronteira da Alemanha Oriental copiava passaportes rotineiramente, um total de 60.000 na época em que o Muro de Berlim caiu.

Enquanto seus agentes viajam com identidades falsas para espionagem no ocidente, a Stasi monitorava os donos legítimos dos passaportes para garantir que o roubo de identidade nunca fosse detectado.

A enorme fraude veio à tona quando a agência do Comissário Federal para os registros da Stasi concluiu a restauração de cerca de um milhão de documentos destruídos, ou o conteúdo de cerca de 500 sacos de lixo. A restauração foi realizada, na maior parte, por meio de um minucioso trabalho manual.

Durante seus últimos dias a agência de espionagem tentou, mas somente conseguiu destruir parcialmente as evidências de seus crimes de quatro décadas, deixando cerca de 16.000 sacos de documentos rasgados e despedaçados. Levou 20 anos para passar pelos primeiros 500 sacos.

O Ministério de Segurança de Estado da Alemanha Oriental comunista, comumente chamado de Stasi (abreviatura alemã para Staatssicherheit), é considerado como uma das mais repressivas polícias secretas e agências de inteligência do século XX.

Os comunistas usaram a Stasi como uma ferramenta para garantir a sua regra de haver somente um partido, até que Alemães Orientais, protestando, ocuparam a sua sede em Berlim Oriental no início de 1990, no processo de reunificação.

“Com poderes de longo alcance, o correio sistematicamente controlado da Stasi, interceptou cidadãos críticos do regime, invadiu suas casas secretamente, intimidou dissidentes, e desintegrou grupos de oposição”, disse o Comissário Federal para os registros da Stasi.

A Stasi dirigiu uma extensa rede de informantes que espionou seus cidadãos para ajudar a criar arquivos sobre os 6 milhões de alemães orientais, um terço da população.

A fim de penetrar todos os setores da sociedade, a Stasi recrutou um grande número de informantes, também chamados de funcionários não oficiais (inoffizielle Mitarbeiter), abreviado como IMs. Em 1988, havia 189.000 IMs ativos na Alemanha Oriental, cerca de 1,13% da população. Comportando-se como cidadãos comuns, eles espionaram seus colegas, amigos e cônjuges.

Operações no Ocidente

A Stasi não era ativa somente por trás da cortina de ferro, mas também na Alemanha Ocidental, a qual o regime comunista considerou um inimigo.

Além de plantar agentes no Ocidente, a Stasi também contratou informantes lá.

A antiga sede do governo em Bonn foi naturalmente uma área nobre de operação para o serviço secreto. Os registros mostram que mais de 110 cidadãos alemães ocidentais, na pequena cidade às margens do rio Reno, sozinhos, trabalharam como informantes.

O caso mais conhecido é o de Gunther Guillaume, um agente adormecido que trabalhou como assessor do chanceler Willy Brandt, até que ele foi exposto em 1974. O escândalo levou à queda de Brandt.

A Stasi também espionou extensivamente críticos do regime comunista no Ocidente, como o dissidente Roland Jahn, hoje Comissário Federal dos registros Stasi.

Depois de ser forçosamente expatriado do Oriente, ele ajudou a contrabandear câmeras e outros equipamentos para Berlim Oriental, para ajudar a oposição lá. A Stasi manteve um controle rígido sobre ele como um esforço para preparar um sequestro e possível assassinato.

“É assustador… mesmo em Berlim Ocidental, como eles estavam perto de você… A cada momento eles tinham a chance de destruir a sua vida”, disse Jahn em um documentário de 2006 feito pela Agência Federal para Educação Cívica.

Para recrutar IMs, a Stasi mirou especialmente em secretários que trabalhavam nos ministérios federais e outras instituições-chave na Alemanha Ocidental – e com bastante sucesso. Um total de 58 secretários foram expostos durante a Guerra Fria e, até a queda do regime comunista em 1989, a Stasi sempre teve um secretário IM na chancelaria, a principal sede de poder da Alemanha Ocidental.

A Stasi via os secretários como valiosos, uma vez que tinham acesso direto a informações sensíveis e geralmente permaneciam no emprego mesmo quando seu chefe mudava.

Uma estratégia comum para transformar secretários em informantes era usar agentes alemães orientais, às vezes chamados de Romeos, para atraí-los para uma relação de confiança, incluindo até casamentos falsos.

“Provou-se que o desenvolvimento de amizades e relacionamentos amorosos foi, e continua sendo, uma base estável e de sucesso para trabalhar com os secretários IM”, afirmou um documento interno da Stasi.

No total, para a sua atividade de espionagem, a Stasi recrutou com sucesso cerca de 3.000 IMs na Alemanha Ocidental.

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