A ocupação do plenário da Câmara dos Deputados na última terça-feira, 20 de agosto, e a tentativa de invasão do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, no dia 13 de agosto, têm um ponto em comum. Os dois episódios reforçaram o questionamento sobre os limites das manifestações populares.
O professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Roberto DaMatta aprova que a população se mobilize para garantir o cumprimento de seus direitos. No entanto, argumenta que é preciso reconhecer os limites para a ação dos manifestantes. DaMatta estabelece um paralelo: ser contra a Igreja não justifica a depredação de templos e imagens católicas.
Segundo o professor e especialista do Instituto Millenium, o que está em jogo não é o direito à crítica e sim a forma de criticar: “É legítimo protestar contra o parlamento e denunciá-lo, mas invadi-lo e destruí-lo é inadmissível”, pondera ele.
A falta de questionamento desses atos pela sociedade é preocupante, na concepção de DaMatta. A máxima de que os fins justificam os meios não deve se aplicar a esses casos. “O risco da democracia, como disse Alexis de Tocqueville [historiador e escritor francês], é que ela se suicide”, opina DaMatta.
O antropólogo diz ainda que a greve não é a melhor opção de protesto para determinadas categorias profissionais, como os professores e os médicos, cuja paralisação prejudica uma parcela da sociedade que já sofre com a má qualidade desses serviços. “Sou professor e não concordo com a greve. Protestaria por uma série de razões, como os salários baixos e as condições de trabalho, mas jamais faria greve”, afirma DaMatta.
A crise de autoridade
As manifestações populares evidenciam a falta de credibilidade dos políticos, que DaMatta define como os atores escalados para desempenhar o papel de autoridade na política nacional. “A ausência de uma maior responsabilidade relativa aos cargos públicos e às suas obrigações para com a sociedade é uma das principais causas da insatisfação dos manifestantes”, enfatiza ele.
O antropólogo observa que as novas tecnologias contribuem para que a sociedade passe a exigir maior transparência por parte do governo. “Atualmente, é muito difícil manter essa falta de transparência instaurada no Brasil e tentar protelar decisões no julgamento do mensalão e as intervenções na economia. Não se pode governar pensando exclusivamente na manutenção do poder”, conclui ele.
Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Millenium