É um tipo de história que aparece constantemente nas redes sociais chinesas, mas que, na maioria das vezes, é impossível de ser verificada. Tudo o que pode ser dito é: “Oh, nossa!”.
Em janeiro, foi postado na Internet: “5.000 palavras de um ex-guarda de prisão que expõem a extração de órgãos”.
Lentamente, esse post ganhou a atenção de um número crescente de internautas chineses. Com detalhes perturbadores, o post revela o esquema que liga um presídio ao lucro, à corrupção e à violência que impulsionam o mercado de órgãos na China.
E nomes foram revelados: o indivíduo que postou se identificou como Liu Shuo, um ex-guarda do Presídio Sihui, na cidade de Zhaoqing, província de Guangdong, no sul da China. E a maioria das acusações vai contra Luo Zubiao, ex-diretor do Presídio.
Os detalhes da história e a repercussão online que isso gerou chegaram a um ponto em que o Departamento de Administração dos Presídios de Guangdong precisou publicar uma nota em seu site “negando” as denúncias (o que, para muitos cidadãos chineses desconfiados, foi a confirmação que eles precisavam).
Ocorre que as identidades dos protagonistas da história são, no mínimo, verificáveis. Um chinês refugiado no exterior conheceu pessoalmente Liu Shuo , o ex-guarda que diz ter postado a história. E o outro indivíduo – alvo das acusações -, segundo investigadores de direitos humanos internacionais, realmente existe.
Liu Shuo, o ex-guarda da prisão que supostamente escreveu o post, afirma que o motivo que o levou a fazer essas revelações foi porque ele ficou paralítico após ter sido severamente espancado por Luo Zubiao, ex-diretor do presídio, a quem ele acusa de matar prisioneiros para obter lucro por meio da venda de seus órgãos.
Vítimas do presídio
“O maior problema com esses transplantes de órgãos não é de ordem técnica, mas de quem os órgãos vieram”, escreveu Liu. “Em 2000, Luo Zubiao, ex-diretor assistente do Presídio Sihui, percebeu que ele poderia ganhar muito dinheiro no mercado negro de órgãos humanos”.
Nessa época, um rim era vendido por 350.000 yuan (aproximadamente US$ 56.000), um coração por mais de $ 960.000 yuan, um fígado por mais de $ 560.000, e uma córnea por cerca de $ 20.000 yuan, de acordo com o relato de Liu. Entre 2001 e 2006, o número de mortes no Presídio Sihui, incluindo os que morreram de causa natural, foi entre quatro e seis prisioneiros ao ano, disse Liu. Ele disse que ele próprio sabe da extração de órgãos de 16 pessoas, todos as quais foram mortas para venda de seus órgãos.
Tendo como alvo os pobres e sem estudo
Todos os presos passam por verificações de saúde quando chegam – é um procedimento padrão em prisões do mundo todo –, mas isso foi utilizado para identificar potenciais candidatos à doadores de órgãos (compatibilidade), escreveu Liu.
“Chen Weiquan, um guarda do presídio, era a primeira pessoa a conhecer os resultados desses exames de saúde. Então, sem levantar suspeitas, ele calmamente identificava quais presos seriam mortos para a extração de seus órgãos: deviam ser pessoas saudáveis, mas sem estudo, pobres, moradores de áreas remotas e não receber visitas”.
“Esses presos identificados como potenciais doadores eram, então, colocados em locais do presídio onde Luo Zubiao tinha controle total. Eles eram isolados”.
Um velho conhecido
Ocorre que Huang Kui, um ex-prisioneiro chinês de consciência, que hoje vive nos Estados Unidos, passou três anos (2002-2005) no Presídio Sihui. Ele conheceu Liu Shuo, o ex-diretor do presídio.
Huang é praticante do Falun Gong, uma prática espiritual que desde 1999 é perseguida na China. Ele disse que ficou chocado ao saber da história, em particular, porque ele foi perseguido por Luo Zubiao.
“Liu Shuo foi um guarda de um presídio distrital onde eu fiquei preso”, disse Huang a New Tang Dynasty Television. “Lembro-me que Liu não era uma pessoa correta, mas eu não percebi que ele era tão mau assim”.
Nem o Epoch Times nem Huang Kui puderam confirmar se foi realmente Liu Shuo que escreveu a história, e não foi possível contatá-lo. No entanto, quem escreveu, sabia muito bem de detalhes da vida dentro Presídio Sihui, inclusive episódios e nomes de pessoas específicas.
“Por exemplo, sobre o fato citado no post de o diretor Feng Guofei ter, em 2 de janeiro de 2005, ter espancado um outro prisioneiro, Fu Yanhua, e lesionado seu pâncreas, eu sei muito bem que isso aconteceu, porque eu também estava preso no presídio onde isso aconteceu”, disse Huang.
Além disso, as atividades da Luo Zubiao já lhe rendeu reputação entre os investigadores de direitos humanos fora da China. O grupo de investigação sem fins lucrativos World Organization to Investigate the Persecution of Falun Gong já havia citado Luo por suas atividades de perseguição ao Falun Gong.