Um jornalista investigativo descobriu recentemente duas filiais da rede de restaurantes de luxo “Yi-16” localizadas em parques da cidade de Pequim: uma no Parque Beihai e outra no Parque Santuário da Terra, ambos classificados como patrimônios culturais pelo ministério do turismo da China. Porém, o governo chinês proíbe expressamente “a instalação de empreendimentos privados dentro das dependências dos parques de Pequim”, de modo que a prestação de qualquer tipo de serviço deve ser responsabilidade exclusiva da administração local. Mesmo assim, os restaurantes estão localizados em pontos centrais dos parques, ocupando diretamente um espaço que deveria ter acesso restrito.
O Parque Beihai era originalmente um palácio de verão da família imperial chinesa; construído ainda no século XII e serviu de abrigo para a realeza de cinco dinastias, sendo sucessivamente reformado, integrando variados estilos arquitetônicos. Dessa forma, ele é o resort imperial mais antigo e mais bem preservado que há na China, além de ser um dos símbolos de Pequim. Já o Parque Santuário da Terra, construído em 1530, servia como um local de repouso ao imperador após o ritual anual de oferendas à Terra, realizado no santuário principal, em tributo aos deuses da agricultural. Ele é o único santuário integralmente preservado de sua categoria.
A franquia “Yi-16”, que se autodenomina “clube empresarial”, é conhecido por seu ambiente sofisticado e de acesso restrito, limitado a clientes da elite financeira e política, que têm direito de pagar com o dinheiro do governo. Além da decoração ornamentada, o preço dos pratos é exorbitante – o mais caro custa 14.480 yuanes – além da taxa de serviço de 15%. A própria política de fidelidade do restaurante é reveladora: o cliente precisa desembolsar no mínimo 50 yuanes para se tornar um sócio e ter direito a descontos especiais. Para acessar salões exclusivos e serviços mais luxuosos, a taxa de adesão chega a 500 mil yuanes. Assim, pouquíssimos clientes entram no restaurante por conta própria; a maioria vai acompanhada de amigos já sócios do estabelecimento.
Um funcionário do Parque Beihai que não quis ser identificado revelou que em dias mais movimentados os arredores do restaurante são interditados, barrando o fluxo de turistas para preservar o “ambiente agradável” para os clientes do Yi-16. Ele também contou que frequentemente testemunha clientes chegando ao local por passagens secretas, com medo de serem flagrados, além de ter sido instruído algumas vezes a cobrir a placa dos veículos de alguns clientes. Por fim, o funcionário alertou que, mesmo que algo seja denunciado, “não adiantará nada”.