Restauração de afresco chinês provoca repulsa

28/10/2013 09:21 Atualizado: 07/11/2013 21:56

Quando uma avó espanhola tentou restaurar o afresco Ecce Homo pendurado numa igreja da Espanha – transformando uma imagem pouco conhecida de Jesus com uma coroa de espinhos num símio borrado – o espetacular fracasso se tornou um fenômeno global na internet. Autoridades locais chinesas, responsáveis pela restauração do templo Chaoyang, na província de Liaoning, esperavam que o mesmo não ocorresse com eles.

Mas restauração de um afresco num pagode local, datado da Dinastia Qing (1644-1912), tem enfurecido e divertido os internautas e provocou à demissão de dois funcionários na cidade, segundo o Global Times, uma mídia porta-voz do regime chinês.

Funcionários culturais permitiram que a pintura de uma procissão em estilo revista em quadrinhos e com cores fortes fosse feita sobre o delicado mural budista, que se desvanecia depois de séculos em exposição.

O internauta Wu Jiao Feng chamou a atenção para a mudança numa postagem intitulada “A detestável restauração de Chaoyang Yunjie”, o nome do templo, que é um destino turístico popular na Montanha Fênix, na província de Liaoning. O local fica a cerca de 300 km a nordeste de Pequim.

“Eu fui ao pagode do Templo Chaoyang Yunjie em 2011 e o visitei de novo recentemente”, escreveu ele. “Fiquei espantado com o pequeno templo da Dinastia Qing sob o pagode. Mas ele foi renovado e as relíquias históricas que costumavam estar lá foram totalmente destruídas. Isso me enfureceu.”

Outro disse: “O afresco original é de uma beleza simples e sem adornos, com linhas bastante suaves e fluidas. O espírito das figuras era tão sutil. Agora, a pintura ostenta cores fortes em verde e vermelho, isso é extremamente desolador.”

Os funcionários do templo disseram ao jornal local Liaoshen Evening News que o trabalho foi realizado por um pintor profissional que se baseou no afresco original e que eles estavam satisfeitos com o trabalho.

O Liaoshen Evening News informou, no entanto, que os responsáveis por ordenar o trabalho de renovação não tinham qualificações para fazê-lo. O que era para ser uma pintura de retoque se tornou uma nova pintura que foi feita diretamente sobre o original.

“É absolutamente proibido pintar sobre uma pintura original. Podemos apenas fazer pequenas alterações nas áreas danificadas e limpar a poeira”, disse Zhao Xu, um especialista em restauração de afrescos da Academia Central de Belas Artes da China, em declarações citadas pelo Liaoshen Evening News.

A AFP citou um internauta que escreveu: “Como morador de Chaoyang, eu sinceramente sinto que o cérebro de algumas pessoas recebeu o coice de um burro.”