Responsabilizando as populações locais da Mongólia pela manutenção de suas floresta

20/03/2012 00:00 Atualizado: 05/09/2013 22:27

Pastores mongóis e, ao fundo, o deserto de Gobi (Yaan/Wikimedia Commons)
Pastores mongóis e, ao fundo, o deserto de Gobi (Yaan/Wikimedia Commons)

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) deseja ajudar as comunidades locais da Mongólia a tratarem, elas mesmas, de suas florestas. Esse projeto deve ser uma referência, um modelo para um plano regional maior. Desde a implantação em 2007 da gestão participativa de florestas com a colaboração ativa das comunidades locais, a exploração florestal ilegal e os incêndios florestais não são nada mais que uma lembrança ruim nos quinze distritos do projeto piloto. Outra boa notícia é que esse projeto continua após o término da fase piloto em janeiro de 2012, disse a FAO num comunicado de imprensa.

A gestão florestal participativa na Mongólia foi financiada pelo governo dos Países Baixos. Ele permite aos nativos preservar recursos florestais que são cruciais para seu bem-estar. Durante a 24ª sessão da Comissão Ásia-Pacífico das florestas, de 7 a 11 de novembro de 2011, esses problemas de gestão participativa foram discutidos. As florestas mongóis ocupam 188 mil km² de superfície, isto é, 12% do vasto território do país. Mas essas florestas encolhem a cada ano por diversas razões: devido a uma maior demanda de madeira, a incêndios provocados pelo homem, à exploração mineral e à pressão crescente da pecuária. Assim, encontramos na década de 1990 pelo menos 400 km² de superfície florestal desaparecida a cada ano.

As populações locais sofreram exploração florestal ilegal em suas terras

As populações locais eram frequentemente impotentes diante deste massacre, enfatiza Dashzeveg Tserendeleg, coordenador nacional do projeto de gestão participativa de florestas. “As populações locais, durante muitos anos, sofreram exploração florestal ilegal em suas terras, diversos incêncios florestais e estrangeiros que vinham fazer o que queriam.” Hoje, é uma alegria para as populações locais. Elas descobrem que podem realmente fazer alguma coisa. Dominique Reeb, assessor técnico chefe do projeto, diz: “Nós temos notado em muitos países, e não apenas na Mongólia, que o envolvimento das comunidades locais é um fator-chave para deter a degradação florestal, mas também é um desafio.”

Inspirar na comunidade um sentimento de associação

Um pastor chamado Batjargal ganha sua vida criando algumas centenas de ovelhas, cabras e cavalos no distrito de Bugat, na Mongólia, cerca de 450 km a noroeste de Ulan-Bator. Até recentemente, ele e sua família só podiam assistir como espectadores à pilhagem dos recursos de seu vale. O pastor Batjargal explicou sensibilizado: “Nós vimos que as coisas iam mal quando as árvores eram cortadas ilegalmente e que o curso da água começava a secar.” “As pessoas do local decidiram então criar um grupo de utilizadores da floresta”, uma iniciativa que, segundo Batjargal, inspirou nos membros da comunidade um sentimento de associação.

Então, ao longo dos três anos que seguiram a criação do grupo, a exploração ilegal e os incêndios florestais praticamente cessaram e, nas zonas envolvidas no projeto, as árvores resistem e os pastores dizem que eles não dependem mais de forças externas para proteger seu ambiente e seus meios de subsistência.

Outros meios de subsistência

Além disso, o projeto permite às comunidades rurais a exploração de novas fontes de renda. Os grupos de utilizadores florestais retiram as árvores mortas e vendem a madeira assim obtida para o aquecimento e trabalhos de construção. Eles também vendem nos mercados locais produtos não-lenhosos, incluindo os pinhões e as bagas. A este respeito, o pastor Batjargal acaba de assinar com o governo local um contrato para a venda de seus últimos 1.500m³ de lenha.

“Em nosso distrito, nós temos apenas um único inspetor estadual do ambiente e três guardas rurais nos três subdistritos”, disse Oyumaa, governador do distrito de Bugat. “Os inspetores concedem as autorizações para derrubar árvores, mas eles não podem exercer um controle constante sobre nossas florestas. Assim, a principal vantagem de ter grupos de utilizadores é um melhor controle destes sobre suas próprias florestas.”

A próxima etapa consiste em estender esse dispositivo à escala nacional. Esta é uma tarefa em longo prazo que implica na elaboração de uma política e o aperfeiçoamento do quadro jurídico nacional relativo aos recursos florestais. Mas, de maneira informal, o projeto continua a fazer adeptos, pois os grupos de utilizadores da floresta compartilham as notícias de seus sucessos com outros pastores que, por sua vez, formam novos grupos de utilizadores.

Fonte: FAO