Resiliência: o que é e como desenvolvê-la

08/11/2013 11:13 Atualizado: 08/11/2013 11:13

Aprendendo a ser

A resiliência psicológica caracteriza a nossa capacidade de enfrentar problemas, superar obstáculos e resistir à pressão de situações adversas sem que haja abatimento significativo de nosso ânimo ou mesmo dano permanente à nossa psicologia, de forma que possamos restituir integralmente nosso estado de equilíbrio emocional original.

Vimos também que a resiliência é apontada pelos especialistas como uma competência – tanto de indivíduos quanto de organizações – e como tal, pode ser ensinada e aprimorada. Assim cabem duas perguntas determinantes: Como faço para tornar-me mais resiliente? Como aprimorar minha resiliência para uma resposta mais rápida?

Vamos à primeira pergunta:

É consenso entre especialistas que existem características comuns entre os indivíduos com ampla capacidade de enfrentamento das adversidades, denominados, por esta razão, fatores de resiliência tais como: vontade de viver, autoestima, amor próprio, respeito próprio, esperança, crença, autonomia, iniciativa pessoal, autodeterminação, busca de significado para a vida, autoafirmação, preservação da identidade, curiosidade e capacidade de estabelecer bons relacionamentos.

Se eu quiser me tornar mais resiliente, devo procurar incrementar cada um desses fatores. Evidentemente é um processo que se inicia na infância e avança muitas vezes de forma natural, reunindo consciência, atitudes e habilidades ativadas nos processos de enfrentamento de situações em todos os campos da vida.

Na vida adulta a resiliência se comporta como uma tomada de decisão quando alguém se depara com um contexto entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer. Essas decisões propiciam desenvolvimento de forças no indivíduo, forças essas arregimentadas com o objetivo claro de se efetuar o enfrentamento das adversidades.

Numa analogia grosseira, poderia se dizer que o indivíduo arregimenta valores morais durante a vida, como alguém que organiza um kit de sobrevivência na selva. No momento de emergência pode fazer uso desses componentes para resolver as contingências.

Cabe também salientar que apenas o fato de possuir tal kit já atua como um elemento tranquilizador no momento em que ocorrem as tensões. Daí o sangue frio de um indivíduo resiliente no momento de enfrentamento das adversidades.

Num outro exemplo, o motorista que, ao efetuar uma viagem de carro, prepara-se com antecedência efetuando a revisão no veículo, conferindo o kit de segurança, etc., viaja com maior tranquilidade. Assim entendido, pode-se considerar que a resiliência é uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades.

Daí, no instante do enfrentamento não faltarem “soluções” em seu “kit de sobrevivência”. É fácil entender também o porquê de muitos indivíduos resilientes não ficarem “destroçados psicologicamente” antes, durante ou depois do enfrentamento de um grande problema:

•    Primeiro: confiam em si mesmos e em sua capacidade de resolver problemas.
•    Segundo: sempre dão o melhor de si nesse enfrentamento da adversidade (não cabendo, a posteriori, nenhuma forma de arrependimento ou remorso).
•    Terceiro: possuem a consciência de seu verdadeiro tamanho.

Nessa constatação fica evidente que existem problemas cuja solução é coletiva e/ou depende de habilidades muito além de sua capacidade, daí a necessidade de capacitação e do trabalho em equipe.

Fórmulas mágicas  x  aprendizado

Também é evidente que não existem fórmulas mágicas ou receitas milagrosas para que um indivíduo se torne resiliente da noite para o dia. Aliás, a maioria das pessoas peca exatamente nesse quesito:

– Procura por uma chave mestra capaz de resolver todos os problemas da vida.

Muitos descobrem às duras penas que isso não existe, e assim perdem as esperanças, tornando-se amargos, pessimistas e derrotados. Outros, atemorizados perante a vida,  se entregam a toda sorte de crendices e superstições, tentando delegar a outros aquilo que é unicamente de sua responsabilidade.O determinante, a meu ver, é buscar o esclarecimento, como diz Immanuel Kant em seu idealismo transcendente. Algo como aprender a fabricar chaves.

O esclarecimento, nesse viés, é aprender a fazer uso de seu próprio entendimento. De sua própria capacidade de resolver problemas. Afinal, essa é uma das razões de nossa razão. Resolver problemas. Afinal, para que serve nossa inteligência?

Para Kant, os maiores problemas nesse enfrentamento, no desenvolvimento dessa capacidade do ser humano de “caminhar com as próprias pernas” é a preguiça e a covardia. Para a maioria dos seres humanos é bastante cômodo permanecer na área de conforto e delegar a outros que pensem, que decidam e que façam por ele aquilo que nega a si mesmo. (Eis aí o método de fabricar chaves: pensar, decidir e fazer – enquanto muitos usam o: delegar, postergar e fugir).

Preparar-se para a vida e enfrentar as adversidades exige esforço – por isso muitos se perguntam:  para quê se esforçar?  Porquanto ainda existam outros a quem se possa delegar a solução de nossos problemas? Ou, senão, pelo menos inferir a culpa de nossas desgraças.

Segundo Kant, os seres humanos quando permanecem nessa “menoridade”, são incapazes de tomar suas próprias decisões e de fazer suas próprias escolhas. Daí serem derrotados e destroçados perante a menor dificuldade.

É importante frisar que o direito de tomar suas próprias decisões denomina-se liberdade – essa capacidade de ser causa e não apenas efeito. Assim, se alguém me pede uma dica de como nos tornarmos mais resilientes eu respondo que o primeiro passo é refletir sobre esse questionamento Kantiano e colocar, a cada dia, mais coragem e mais vontade em nossa caminhada pela vida.

E como reza a sabedoria popular, toda grande caminhada se inicia com um primeiro e decisivo passo. E os demais passos que se sucedem e que sustenta a caminhada? Bem, esse já é um assunto para um próximo artigo. Não perca!

Mustafá Ali Kanso é escritor, professor, engenheiro químico, empresário da mídia educacional e divulgador científico em programas culturais da TV

Esse conteúdo foi originalmente publicado no site Hype Science