Mais de 140 mil toneladas de material tóxico sem tratamento na “vila do câncer”
Após a revelação na mídia chinesa e internet do despejo irresponsável de mais de 5.000 toneladas de resíduos tóxicos de cromo num importante canal de água e em montanhas próximas à cidade de Qujing, na província chinesa de Yunnan, a sudoeste do país, uma usina química foi fechada e a população se indignou.
Investigações de jornalistas chineses mostram que às margens do Rio Nanpan, onde o despejo ocorreu, a usina, que operava na região há uma década, estocou 148.400 toneladas de resíduos de cromo ainda esperando tratamento, número inconcebível e que já chegou à incrível soma de 280 mil toneladas de resíduos estocados a céu aberto, às margens do maior afluente de um dos maiores rios chineses.
A vila de Xinglong, mais próxima do Rio Nanpan, com pouco mais de 100 famílias, recebeu o nome de “vila da morte”, após pelo menos 11 casos de morte por câncer desde 2000 (habitantes falam de 37 mortes), a maioria deixada à morte devido a dificuldades financeiras com o tratamento.
A atenção pública foi ativada em 13 de agosto, após uma postagem na internet, que afirmava que a água consumida por dezenas de milhões de pessoas estava contaminada, devido à poluição do Rio Nanpan. Logo em seguida, um renomado jornalista chinês, Fu Jifeng, disse em rede social que “37 camponeses já morreram por exposição à poluição tóxica por cromo na cidade de Qujing, em Yunnan”.
Em 14 de agosto, um repórter visitou Xinglong e descobriu 140 mil toneladas de resíduos de cromo não tratados, e a esse fato foram associados às estranhas mortes de pessoas e gado no vilarejo.
Em 16 de agosto, a agência de notícias online NetEase relatou que, segundo moradores do vilarejo, pelo menos seis ou sete pessoas dali morrem de câncer todos os anos. Acompanhando a notícia estava a foto de Wang Jianyou, um homem em estado terminal de câncer de pulmão. Ele estava segurando insetos, os quais come mais de 50 diariamente, uma receita popular para aliviar as dores.
Qian Jin, um oficial local de controle e prevenção de doenças, disse ao Caixun que, entre 2002 e 2010, 14 pessoas em Xinglong foram diagnosticadas com neoplasma maligno, 11 das quais morreram.
A população local acredita que oficiais do governo estiveram protegendo a usina. Um camponês de uma vila vizinha a Xinglong disse ao Epoch Times: “Essa usina esteve aqui por 10 anos; nós sabíamos que estava poluindo, mas como ela tem sido aprovada na inspeção anual pela agência de proteção ambiental?” (Agência esta que se recusou a falar com o Epoch Times.)
A CCTV continuou com uma reportagem em 16 de agosto, que citava um morador local afirmando que 30-40 pessoas contraíram câncer durante o ano.
A mídia oficial chinesa, controlada diretamente pelo governo, admitiu o despejo de resíduos e a morte do gado, mas negou a morte de pessoas e deu enfáticas garantias sobre a segurança da água consumida por milhões. Essas declarações são seriamente questionadas na internet.
Habitantes do vilarejo já haviam informado os problemas às autoridades, de acordo com relatos online. Numa ocasião, os habitantes chegaram a se encontrar com o secretário do comitê local do Partido, que despachou pessoalmente a equipe da agência de proteção ambiental para cuidar do caso.
Porém, de acordo com um habitante, “a agência de proteção ambiental realizou algum tipo de investigação e concluiu que não havia poluição”. Ele disse que era a resposta padrão, “Toda vez que recorríamos às autoridades, a agência dizia sempre o mesmo.”
Em outras ocasiões, autoridades e operários da usina química exigiram dos camponeses a apresentação de um documento médico oficial comprovando que os casos de câncer eram consequência dos resíduos de cromo. Nenhum dos pacientes de câncer teve condições de conseguir o documento.
O fenômeno das “vilas do câncer” ficou conhecido anos atrás na China. Em agosto de 2009, um blogueiro denominado “freeyq2009” publicou em rede social uma lista de “vilas do câncer” na China causadas por poluição ambiental, detalhando 189 locais previamente expostos pela mídia.