Repressão chinesa em Xinjiang persiste 3 anos depois de agitação social

10/07/2012 03:00 Atualizado: 10/07/2012 03:00

Um uigur observa policiais chineses bloqueando uma rua em 9 de julho de 2009, em Urumqi, capital da Região Autônoma Uigur de Xinjiang, China. (Guang Niu/Getty Images)Oficiais prometem responder com “punho de ferro”

O oficial maior do Partido Comunista Chinês (PCC) que supervisiona a região de Xinjiang prometeu recentemente usar “punho de ferro” para reprimir uma potencial agitação três anos após a violência étnica que abalou a área. Grupos de direitos humanos criticaram as autoridades chinesas pelos abusos de direitos humanos e desaparecimentos.

Tumultos étnicos que envolvem a minoria uigur e a maioria chinesa han deixaram cerca de 200 mortos em 2009 e levaram o PCC a instalar um forte esquema de segurança na região noroeste.

Os comentários de Zhang Chunxian, o secretário do Comitê do PCC de Xinjiang, ameaçando uma repressão rigorosa, foram acompanhados por um exercício especial conduzido pelas forças especiais chinesas, disseram artigos da mídia estatal. Além disso, postos de controle foram criados ao longo das principais vias de tráfego e o exército foi colocado em alerta máximo, com franco-atiradores posicionados, segundo relatos.

Revistas corporais também foram intensificadas nos aeroportos, com uma mulher reclamando em seu microblogue de ter sido forçada a tirar sua roupa e ser tocada na bunda e nos seios por um guarda de segurança do aeroporto. A mulher, que se identificou como “Zohre-M” no website Weibo, um serviço popular similar ao Twitter, disse que chorou devido ao tratamento durante seu voo de uma hora. Até mesmo muitas mulheres geralmente encontradas no serviço de bordo em aviões foram substituídas por homens corpulentos, segundo a NTDTV.

Uigures que vivem na região há muito tempo acusam Pequim de perseguição política e religiosa. O Congresso Mundial Uigur disse num comunicado que os uigures em Xinjiang “organizarão protestos no 3º aniversário” da repressão e reiterou que “muitos uigures foram arbitrariamente detidos, condenados à morte ou a longas sentenças após julgamentos impregnados com politicagem e obstáculos ao devido processo legal.”

Repressão se agrava

Segundo alguns relatos, os distúrbios inicialmente começaram como protestos pacíficos na capital de Urumqi em Xinjiang, mas se tornaram violentos. Após o incidente, milhares de uigures foram presos pelas autoridades chinesas. A mídia estatal chinesa atribuiu a violência a “bandidos portando facas” que saquearam lojas.

Durante a agitação, testemunhas disseram ao grupo de direitos Anistia Internacional que a história oficial chinesa era incorreta, com as forças de segurança dispensando espancamentos desenfreadamente, usando gás lacrimogêneo e atirando diretamente contra a multidão.

Rebiya Kadeer, a chefe do Congresso Mundial Uigur, num editorial publicado no Wall Street Journal, disse que cerca de 43 homens e meninos desapareceram e nunca se soube mais a respeito deles após os tumultos. Ela opinou, “A responsabilidade pela violência recai sobre as políticas das autoridades chinesas.”

“Pequim tem deliberadamente atacado a identidade uigur de nossa região estimulando milhões da etnia chinesa Han a se estabelecerem na área e, ao mesmo tempo, forçando os uigures a se deslocarem para outras partes do país, citando a falta de trabalhadores como a justificação”, acrescentou Kadeer. Na época, os oficiais culparam grupos estrangeiros por instigarem os tumultos.

A Anistia Internacional ecoou as declarações de Kadeer, dizendo que dezenas de uigures desapareceram na sequência dos tumultos. As autoridades chinesas foram de casa em casa em busca de membros da minoria étnica, com centenas ou possivelmente milhares de pessoas detidas. “Por quase três anos, eu não sei onde meu filho está, ou mesmo se ele está vivo ou morto”, disse Patigul Eli, a mãe de um estudante uigur desaparecido após a agitação, conforme citada pela Anistia.

Três anos depois, a repressão dos uigures ainda ocorre e as autoridades procuram silenciar as pessoas que tentaram denunciar os abusos, disse Catherine Baber, que dirige o programa Ásia-Pacífico da Anistia Internacional. As famílias que têm tentado saber mais sobre seus entes queridos enfrentaram detenção ou foram ameaçados pelas autoridades locais. “As autoridades chinesas devem revelar o paradeiro dessas pessoas sujeitas ao desaparecimento forçado e acabar com a perseguição de seus familiares que buscam respostas”, disse ela.