Em 23 de fevereiro, na cidade de Dongguan, na província de Guangdong, sul da China, um Sr. Shu apareceu no hospital local com a seguinte história. Ele disse a um médico na sala de emergência que tinha despertado em seu quarto de hotel, encontrou um rim faltando e 20.000 yuanes (3,151 dólares) deixados sobre a mesa ao lado de sua cama.
De acordo com artigos da mídia chinesa, a polícia investigou e descobriu que o homem de fato vendeu seu rim. O médico de transplante e sete outros suspeitos envolvidos na compra do rim e no subsequente transplante foram julgados em 31 de agosto em Dongguan.
O artigo sobre o julgamento, que apareceu no jornal local Diário de Guangzhou, foi pego pela mídia estatal porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC), o Diário do Povo, um sinal de que o regime chinês quer que a história deste processo seja amplamente conhecida.
O caso de Dongguan é o mais recente numa série de processos por tráfico de órgãos. Esses casos, que atacam um mal associado com o transplante de órgãos na China, estão fazendo os hospitais chineses ainda mais dependentes de órgãos retirados de prisioneiros da consciência.
Um caso de tráfico de órgão envolveu uma rede de 16 pessoas na província de Jiangsu, no leste da China, que foi acusada de ganhar milhões de yuanes pelo transplante de 51 rins entre março e dezembro de 2010.
No início de agosto, a mídia estatal chinesa informou que desde abril a polícia prendeu 28 grupos envolvidos no tráfico de órgãos em 18 províncias.
David Matas é coautor com David Kilgour do livro ‘Colheita Sangrenta’, uma investigação sobre a atrocidade da colheita forçada de órgãos de pessoas vivas na China. Ele diz que a repressão atual sobre o tráfico de órgãos não deve ser confundida com qualquer supressão da captação forçada de órgãos de pessoas vivas que ainda continua.
“A atual lei [chinesa] permite que parentes vivos sejam fonte de doação”, escreveu Matas num e-mail. “Tem havido fraude na utilização dessa exceção, que as autoridades têm tentado controlar.”
O comentarista político Zhang Tianliang disse à NTDTV que a China transplanta dezenas de milhares de órgãos por ano e que hospitais dependem de um grande banco de órgãos, não de uma dúzia de organizações criminosas, para um volume tão grande.
“O doador e o órgão tem de corresponder”, disse Zhang. “Nenhum hospital pode garantir esta correspondência. Isto significa que qualquer hospital que faz uma grande quantidade de transplante deve ter uma fonte doadora sistemática.”
Os investigadores que analisaram o transplante de órgão na China acreditam que a grande maioria dos órgãos vem de praticantes do Falun Gong detidos, que são mortos no processo de retirada de seus órgãos.
De acordo com Matas, a recente repressão fez com que a dependência dos hospitais de órgãos retirados de praticantes do Falun Gong e outros prisioneiros se tornasse ainda mais aguda.
“A repressão da fonte de doadores vivos aumenta a dependência da fonte de doadores falecidos”, escreveu Matas. “Há também uma diminuição na pena de morte.”
“A diminuição do abastecimento de doadores vivos e da fonte de doadores falecidos de prisioneiros condenados à morte, combinados com um programa falido de doação voluntária que produz resultados estatisticamente insignificantes, têm levado a um aumento das fontes de doadores falecidos de prisioneiros da consciência, especialmente o Falun Gong.”
O médico processado na semana passada em Dongguan, Zhou Kaizhang, realizou 1.000 transplantes de rim, segundo a Associação Médica Chinesa.
De acordo com a análise da indústria chinesa de transplante de órgãos em ‘Colheita Sangrenta’, muito poucos desses 1.000 rins são susceptíveis de terem vindo de doações voluntárias de qualquer tipo.
Quando o Dr. Zhou enfrentará punição por comprar um rim e transplantá-lo ainda não foi anunciado pelo tribunal.