Conversas francas sobre os problemas entre Taiwan e o autoritarismo na China são raras nos círculos políticos canadenses, mas as centenas de pessoas que se reuniram no luxuoso hotel Fairmont Château Laurier para comemorar 102º Dia Nacional de Taiwan ouviram exatamente isso na terça-feira.
Isso ocorreu quando o embaixador de Taiwan – ou representante, como ele é propriamente intitulado devido ao Canadá não reconhecer formalmente a soberania de Taiwan – estabeleceu o contraste gritante entre as duas Chinas nos lados apostos do Estreito de Taiwan. C.K. Liu observou que Taiwan, formalmente conhecida como a República da China, é um bastião da democracia que oferece esperança aos 1,3 bilhão de chineses que ainda vivem sob um governo autocrático e totalitário comunista.
Liu fez um breve resumo da história da República da China, que começou como o governo nacional da China em 1912 e continuou na ilha de Taiwan depois que o Partido Comunista Chinês (PCC) tomou o poder em 1949. Ele também resumiu o crescimento econômico do país e a transição bem sucedida para a democracia. Depois, ele fez um dos discursos mais francos, que vários participantes no evento anual afirmaram jamais terem ouvido antes.
“O crescimento sustentável da China continental não começou até o final dos anos 70, após um quarto de século de campanhas maoistas desastrosas”, afirmou Liu. “E seu boom econômico levou a um ressurgimento do controle autoritário e da repressão das forças democráticas.” A democracia deu a Taiwan uma dignidade internacional que a China ainda não pode alegar, afirmou ele.
Liu recebeu aplausos, quando observou que Taiwan mostrou que a democracia pode prosperar na sociedade chinesa. “Taiwan exporta valores democráticos para a China continental, além de seu povo e capital.” Ele disse que a experiência de Taiwan com a democracia tem sido benéfica para a China e poderia ser uma inspiração para a própria transformação no continente.
E, embora ele não tenha mencionado as tensões militares entre os dois países, ele sugeriu a questão no final de sua fala, quando agradeceu ao governo canadense e as pessoas pela “contínua preocupação e apoio pelo bem-estar das 23 milhões de pessoas em Taiwan”.
Canadá, “um país de princípio”
“O Canadá é um país de princípios, posicionando-se pelo que é justo e correto, independentemente de ser popular, conveniente ou oportuno”, disse ele.
“Nosso Dia Nacional é um dia de celebração para todos os que acreditam na liberdade e na democracia. Sua presença hoje à noite mostra que vocês apoiam solidariamente e abraçam a liberdade e a democracia pela qual temos trabalhado tão duro para alcançar em Taiwan.”
O peso dos comentários do Liu enfatizaram as diferenças entre as duas Chinas, mas ele também observou que a relação entre Taiwan e a China continental melhorou, assim como o comércio.
Numa entrevista mais tarde, ele reconheceu que muitos empresários de Taiwan têm enfrentado problemas investindo na China, mas ele disse que os taiwaneses têm aprendido com essas experiências. Essas lições difíceis agora fazem os taiwaneses parceiros ideais de negócios para investidores canadenses que procuram ingressar no mercado da China continental, disse ele.
Porém, enquanto Liu focou fortemente no contraste entre Taiwan e a China, os oficiais canadenses que falaram depois dele evitaram esses temas polêmicos. Esses oficiais incluíram Tony Clement, presidente do Conselho do Tesouro, e o senador conservador Jean-Guy Dagenais.
Em vez disso, as autoridades canadenses destacaram números do comércio e chavões econômicos. Clement se focou no desenvolvimento econômico de Taiwan, nas marcas emergentes e na logística da cadeia de abastecimento global de eletrônicos, assim como na relação comercial entre Taiwan e o Canadá.
Ele se recusou a comentar sobre a substância dos comentários de Liu, quando solicitado pelo Epoch Times em sua saída do evento. Outros conservadores no evento expressaram surpresa com a franqueza dos comentários de Liu.