A representação da vaidade nas pinturas de retrato

07/08/2014 12:22 Atualizado: 07/08/2014 12:22

Desde que a pintura passou a ser considerada a linguagem e técnica mais importante na arte, o gênero pictórico do retrato sempre teve posição privilegiada em relação a outros gêneros. Porém, essa classificação nem sempre existiu na história da arte ocidental: até o século XIV, todas as pinturas eram narrativas (cenas históricas, especificamente) ou religiosas.

Somente a partir dos séculos XIV a XVI que os gêneros surgiram como forma de classificar as temáticas, como a natureza morta, a paisagem e a pintura de gênero (que apresentava cenas do cotidiano).

Apesar de muitos pintores poderem se dedicar a diversos gêneros, o surgimento dessa classificação fez com que muitos artistas se especializassem em gêneros específicos. Exemplo disso é Rembrandt (século XVII), que se tornou um grande retratista, ainda que se dedicasse também à pintura de algumas cenas religiosas.

Pintados a partir de modelos vivos, documentos, ou até mesmo de memória, geralmente, os retratos eram encomendas feitas pela realeza e nobreza; e após uma série de transformações sociais e econômicas – principalmente após a Revolução Francesa – passaram a ser feitas pela elite burguesa.

Ter sua própria imagem representada em uma pintura era e continua sendo uma maneira de ostentar prestígio social e tornar sua imagem eterna. Exemplo disso é a obra literária O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.

A beleza do jovem permanece com o passar dos anos, e, em contraposição, a imagem de seu retrato, escondido de todos, envelhece e se desfigura. Vemos então, que o retrato está diretamente relacionado à vaidade dos retratados.

Na história da pintura, essa concepção de vanitas (vaidade, em latim, significa a futilidade e vacuidade) era representada por determinados elementos nos retratos (individuais ou coletivos) como uma estratégia utilizada pelos pintores, uma forma de ‘lembrete’ da efemeridade da vida.

Os elementos principais que representam o vanitas são caveiras, ampulhetas, frutas, flores, borboletas. Todos esses objetos simbolizam a decadência do envelhecimento, a brevidade e a fragilidade da vida. A principal representante da vaidade, a caveira, é apresentada na pintura Os embaixadores, de Hans Holbein (1533, óleo sobre tela).

Representada de forma distorcida, no centro da composição, a caveira se opõe aos objetos representados ao fundo, como o globo, o instrumento musical, a luneta e o livro (símbolos do conhecimento e da cultura, que após a morte, não teria pertinência no mundo espiritual).

Esse tipo de representação não está preso aos séculos XV e XVI. Na contemporaneidade também existem artistas que trabalham com esta temática. Vemos o retrato Deslenguada, de Fernando Vicente (sem data), em que a bela moça aparece com suas vísceras expostas. Afinal, tudo é passageiro.

Maryella Sobrinho é graduada em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília e mestranda de Teoria e História da Arte pela mesma Universidade. Cursou Metodologia da História da Arte no Instituto Superior del Arte Madrid em 2012