A fisionomia de José Dirceu ao sair da cadeia para trabalhar não era esperada pelos repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Não havia nada daquela alegria demonstrada por Delúbio Soares, que está sempre com o sorriso estampado no rosto, o que até indica um determinado grau de alienação.
Mas o inesperado abatimento de Dirceu dizia tudo. No início do governo do PT, ele era o político mais importante do país. Lembro de uma frase de Dirceu , em conversa com uma empresária do Rio, que apoiara Lula e montara para ele o maior comitê eleitoral de todo o país. Após a vitória nas urnas, Dirceu disse a ela: “Agora, vou ensinar o Lula a governar”. E lá foi ele para a Casa Civil, cumprir o prometido.
Dirceu mandava e desmandava no governo. O presidente Lula o obedecia cegamente, até que foi aprendendo as manhas e passou a dividir o poder, digamos assim. Veio então o escândalo do mensalão, e Lula deu a sorte de ter sido poupado por Roberto Jefferson e pela própria oposição, que ingenuamente achava que o presidente iria cair de podre. “Vamos deixá-los sangrar”, diziam os oposicionistas, festejando antes da hora.
Lula não perdeu uma gota de sangue, ficou até mais robustecido, enquanto Dirceu sangrava sem parar, até perder o mandato. Mas já estava doutorado em administração pública, abriu sua consultoria em São Paulo e imediatamente atraiu uma romaria de empresários nacionais e estrangeiros.
Tráfico de influência
Dirceu demonstrou uma invulgar capacidade de operar o chamado tráfico de influência e ficou rico numa velocidade impressionante. Sua desenvoltura era tamanha que montou um escritório num hotel de Brasília, onde foi flagrado “despachando” com o então presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, e outras autoridades federais, inclusive ministros.
Nessa incessante e proveitosa atividade, o ex-chefe da Casa Civil fez escola no governo, porque outros influentes petistas também abriram “consultorias” e passaram a faturar no estilo Dirceu. Entre outros, Antonio Palocci, Fernando Pimentel, Erenice Guerra e até Delúbio Soares se tornaram “consultores” bem sucedidos.
Mas o final da história é triste. Dirceu ganhou muito dinheiro, mas perdeu todo o resto: a dignidade, a honradez, o futuro político e própria biografia. Até a mulher que ele amava foi embora. Sua fisionomia abatida e desanimada mostra uma transformação brutal.
Como ensinava Miguel de Cervantes e o poeta Ascenso Ferreira repetia, pode-se dizer que Dirceu também levou a vida em grande disparada. Para quê? Para nada. Se tivesse feito a coisa certa, estaria hoje no eixo Planalto-Alvorada tentando a reeleição. Seria o presidente José Dirceu e nem saberia onde fica a Penitenciária da Papuda.
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