Repórter de Hong Kong se disfarça em ‘tour de lavagem cerebral’ no continente

25/08/2012 21:19 Atualizado: 25/08/2012 21:19
Um médico chinês na entrada da mina de carvão de Wangjialing, onde mais de 110 trabalhadores foram retirados com vida da mina inundada que era construída na província de Shanxi, no norte da China, em 5 de abril de 2010. (Peter Parks/AFP/Getty Images)

Um repórter do jornal Apple Daily de Hong Kong disfarçou-se recentemente como um estudante universitário para participar de um tour na China continental organizado por grupos jovens de Hong Kong. Em seu artigo do Apple Daily, o repórter relata o que chamou de um “tour de lavagem cerebral”, revelando um itinerário repleto de atividades destinadas a incentivar o fervor nacionalista e promover a propaganda do regime chinês.

A excursão foi organizada por 10 organizações locais, incluindo grupos jovens, como a Associação Unida para a Promoção do Intercâmbio de Hong Kong e a Associação Jovem de Hong Kong-Taiwan para a Promoção do Intercâmbio. Wang Zhimin, que é diretor-adjunto do escritório intermediário em Hong Kong, serve como conselheiro honorário. O escritório intermediário equivale a uma embaixada e é um órgão do regime comunista chinês em Hong Kong.

O passeio de sete dias, chamado ‘Amo minha China’, contou com 400 jovens de Hong Kong, Taiwan, Macau e participantes da China continental.

O repórter do Apple Daily, cujo nome não foi revelado, contou que os participantes eram frequentemente orientados a gritar o slogan ‘Amo minha China’. Em sua primeira parada na cidade de Taiyuan, capital da região centro-norte da China, na província de Shanxi, os participantes se sentaram para um banquete com oficiais comunistas locais, incluindo dois representantes do Congresso Nacional Popular.

Quando o líder da turnê começava com o slogan ‘Amo minha …’ e os participantes do passeio respondiam com ‘China!’, o repórter não queria participar, mas um líder de equipe nas proximidades sinalizou para ele gritar junto.

De acordo com o líder da turnê, ‘Amo minha China’ já é uma marca e durante os últimos 11 anos houve muitas de tais visitas de intercâmbio para nutrir o amor dos estudantes de Hong Kong pela pátria.

O grupo também visitou quatro fábricas estatais modelo. Eles primeiro visitaram uma fábrica de aço e ferro em Taiyuan. O guia da fábrica elogiou as realizações do Partido Comunista depois que as políticas de “abertura e reforma” começaram.

O grupo de passeio também visitou um museu de carvão. O guia do museu disse aos participantes do passeio que as minas de carvão da China eram muito seguras, sem mencionar uma palavra sobre os acidentes em minas de carvão frequentemente vistos em manchetes de notícias.

As minas chinesas são geralmente consideradas as mais mortais do mundo, apesar de haver grande discrepância entre a contabilidade oficial e não oficial do número de mortos. Em 2007, o ativista de direitos humanos Robin Munro, trabalhando para o Boletim do Trabalho da China, estimou que ocorram 20 mil mortes por ano na mineração de carvão da China. Um artigo de 2012 da mídia porta-voz do regime chinês, a Xinhua, informou que no primeiro semestre de 2011 houve 1.973 mortes na mineração de carvão em 2011 na China.

O repórter foi capaz de gravar imagens das atividades do grupo, que foram compiladas num vídeo de notícias pelo Apple Daily. Um participante companheiro do passeio disse no vídeo, “As fábricas de carvão e minas foram descritas como muito poderosas, mas não mencionaram explosões ou trabalhadores feridos. Meu sentimento é que eles nos tratam como se tivéssemos pensamento atrasado, que pode ser facilmente submetido à lavagem cerebral.”

Cento e vinte estudantes universitários da cidade de Xian, incluindo jovens membros do Partido Comunista Chinês (PCC), também foram convidados a fazer “intercâmbio” com estudantes de Hong Kong. O repórter lembrou que um membro do PCC lhe disse que o regime de partido único é a única maneira de manter a estabilidade em longo prazo.

“O poder do PCC vem do cano de uma arma. Eles não podem simplesmente entregar o Estado a outros”, disse o membro do PCC.

Os membros do PCC também afirmaram que o povo de Hong Kong não sabe a verdade sobre o massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) de 1989. Um membro do PCC disse ao repórter que a polícia foi obrigada a reprimir os estudantes, porque muitos deles mataram policiais.

“Eles [os alunos] esfolaram policiais e os penduraram na entrada da cidade. Então, os soldados foram forçados a tomar medidas”, disse o membro do PCC.

A turnê também providenciou que os participantes tirassem fotos com o secretário do PCC na província de Shanxi. Quando o secretário do PCC chegou, os jovens foram obrigados a gritar o slogan ‘Amo minha China’.

Há apenas três semanas, em 29 de julho, 90 mil residentes de Hong Kong foram às ruas protestar contra a crescente influência comunista chinesa em seus assuntos. Anteriormente, o governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong anunciou a adição de um “curso de educação moral e nacional” no currículo do ensino primário, que visa ensinar aos alunos a ideologia comunista.