Reinventando o mundo do plástico

07/02/2013 20:24 Atualizado: 08/02/2013 12:06
A companhia italiana Bio-on promete fazer plástico a partir de restos alimentares (Cortesia da Bio-on)

Plástico proveniente de resíduos de alimentos – essa é a promessa notável da empresa italiana Bio-on, que alega que seu produto superverde revolucionará o mundo dos plásticos.

Marco Astorri e seu parceiro Guy Cicognani fundaram a Bio-on em 2007. A centelha veio um ano antes, quando os dois estavam produzindo componentes eletrônicos para passes de esqui. Vendo esses pequenos cartões abandonados no vale, condenados a permanecerem indefinidamente sem se decomporem, Astorri se questionou se eles poderiam derreter, como a neve ao sol.

Sem qualquer experiência na indústria química, os dois começaram do zero. “Passamos meses estudando bioplásticos – fazendo uma lista do que tinha sido feito até então e do que não gostávamos e queríamos melhorar”, diz Astorri. “A ideia era fazer um novo material, semelhante aos plásticos tradicionais.”

Os bioplásticos não são nada novo, produzidos desde o início de 1990. Feitos de culturas, os bioplásticos são completamente biodegradáveis em poucos meses, ao contrário do plástico tradicional de policarbonato que é derivado do petróleo e requer cerca de mil anos para se degradar. Mas bioplásticos, como biocombustíveis, sempre foram criticados por seu uso de recursos e por sua baixa qualidade. A Bio-on tentou mudar tudo isso.

Astorri e seus colaboradores decidiram desde o início adotar uma abordagem completamente verde, não utilizar recursos alimentares, mas sim resíduos ou restos de alimentos e recusaram as possibilidades oferecidas pela engenharia genética e a química clássica, tais como solventes. A solução chegou na forma do polímero PHA, que é sintetizado por bactérias que “comem”, de forma natural, os resíduos de alimentos.

Depois de comprar patentes internacionais, os cientistas da Bio-on começaram a dirigir seus esforços na direção de uma determinada bactéria que “cresce” com os resíduos de produtos do açúcar da beterraba. Astorri diz que essa é uma fonte quase inesgotável de PHA. Ele enfatiza a colaboração com uma cooperativa agrícola local que fornecerá o resíduo necessário, além de contatos com países produtores de cana-de-açúcar, como o Brasil e o Egito. Mas ele é cauteloso sobre os detalhes – cuidadoso em guardar o projeto da interferência ampla da maior produção comercial.

Atualmente, os bioplásticos desempenham apenas um papel marginal na indústria de plásticos: cerca de 1,1 milhão de toneladas em cada 275,58 milhões de toneladas de plástico, segundo a Assobioplastiche. Este status é baixo, parcialmente porque os bioplásticos não conseguem igualar a qualidade do produto tradicional de policarbonato. Mas Astorri está confiante que seu novo plástico mudará tudo isso.

“A maioria dos objetos que usamos diariamente e que contém plástico poderiam mudar para PHA. Seu valor é tão amplo quanto suas aplicações: desde brinquedos a telefones, de cartões de crédito a embalagens, o novo material está pronto para entrar em nossas vidas”, diz ele.

Paola Fabbri, PhD em engenharia de materiais da Bio-on, explica num vídeo divulgado pela empresa que todo o processo é gerenciado por bactérias. “Usar resíduos de alimentos significa que não há competição com coisas comestíveis. Na verdade, em vez de gastar dinheiro para tratar todos os resíduos, agora isso pode se tornar matéria-prima.”

Seu produto é chamado Minerv-PHA – um nome que homenageia a figura mitológica Minerva (equivalente romana da deusa grega Atenas), patrona, entre outras coisas, da sabedoria e do comércio.

Após ser granjeado com a certificação ‘OK Água Biodegradável’ em julho de 2012, o Minerv-PHA passou no teste final: mostrando que, em relação à flexibilidade, resistência e funcionalidade para objetos cotidianos, pode ser tão bom quanto o policarbonato.

Piero Gandini, presidente da Flos, uma das principais empresas do mundo de produtos de iluminação, desafiou a Bio-on. Fascinado pelo projeto, ele pediu que reproduzissem com o Minerv-PHA um símbolo dos plásticos dos anos 90: a lâmpada chamada Miss Sissi, desenhada por Philippe Stark. Seis meses depois, a “nova” lâmpada estava na mesa Gandini.

Com o sigilo que permeia as fases industriais do projeto (parceiros e fornecedores não podem ser divulgados), é difícil obter detalhes precisos, mas a Bio-on aparece perto de introduzir sua “verdadeira revolução verde” no mundo.

Astorri ainda está jogando suas cartas perto do peito, mas está confiante em sua mão. Pressionado para revelar detalhes, ele diz: “Só posso dizer que até meados de 2013, haverá uma grande notícia.”

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