O mundo do vinho foi abalado em 2013 pelas notícias sobre Robert Parker, o mais famoso crítico de vinhos do mundo.
Em dezembro, Parker anunciou a venda de uma porcentagem considerável da Wine Advocate, influente revista fundada por ele em 1978, a um grupo de investidores com sede em Singapura e que também tinha cedido o controle editorial. Em fevereiro, Antonio Galloni, um dos principais críticos que trabalhava com Parker, disse que havia deixado a publicação para iniciar uma empresa online.
Parker, o crítico que popularizou a escala de 100 pontos para a crítica de vinhos, tem hoje quase 66 anos. Então não se pode culpá-lo por querer estar um pouco menos ocupado. Porém, graças a essas duas histórias, os enófilos finalmente parecem dispostos a admitir que a crítica de vinhos está mudando.
Os consumidores não precisam – ou não querem – porteiros centralizados dizendo-lhes o que devem ou não devem beber. Claro, ainda necessitam de assessoria, no entanto, quando os consumidores de hoje querem informações, estão dispostos a buscá-las junto a seus amigos e redes de confiança.
No que se refere a viagens, restaurantes, filmes e muito mais, esta tendência dificilmente seria digna de destaque.
Com o vinho, certamente esta mudança vai contra o sagrado. Tudo sobre o vinho – os rituais de degustação, o conhecimento de regiões e variedades e a identificação dos bons valores – é algo transmitido de maneira quase divina. Então, espera-se que os consumidores decidam o que beber baseados em opiniões de críticos de vinhos proeminentes, não em mero aficionados.
Porém é óbvio que os consumidores estão cada vez mais cômodos e dispensando os “porteiros”.
Observem o Cellar Tracker. Há dez anos, Eric Le Vine, executivo da Microsoft, desenvolveu um programa de gestão de dados para sua adega. Quando ele mostrou o programa a alguns amigos, eles pediram que o compartilhasse. Então ele colocou o programa online para que os amigos pudessem classificar seus estoques pessoais e compartilhar notas de degustação. Le Vine então decidiu colocar seu programa ao alcance de todos e de forma gratuita.
Atualmente o site é visitado mensalmente por cerca de 800.000 pessoas e mais de 2.200 vinhos são analisados todos os dias. Isto significa que os usuários do Cellar Tracker fazem mais críticas de vinhos em apenas seis dias do que Robert Parker em todo um ano.
O site não é utilizado somente por fanáticos de vinho, cerca de 90% de seus visitantes não estão registrados. Tal como disse o escritor de vinho Jeff Siegel: “Isto significa que as pessoas não acessam o Cellar Tracker para colocar sua avaliação de um vinho após bebê-lo, e sim para ler os comentários escritos por aficionados”.
Assim como o Cellar Tracker se torna cada vez mais popular, as pontuações são cada vez menos importantes.
Agora estão surgindo butiques de vinhos. Muitas não publicam as pontuações, pois os proprietários veem as pontuações como um obstáculo à interação dos consumidores. Não faz muito tempo, nos restaurantes de bom nível não era raro ver as qualificações em uma carta de vinhos. Hoje em dia este conceito é ridículo. Os melhores restaurantes empregam sommeliers dispostos a ajudar seus clientes.
A imprensa de vinhos também está mudando. Embora os consumidores possam se inscrever para receber publicações como a Wine Advocate ou a Wine Spectator, também podem recorrer aos blogs.
O Facebook tem um bilhão de usuários ativos. O twitter tem quase metade disso. No início deste ano, o Instagram anunciou que tem mais de 100 milhões de usuários.
As pessoas estão utilizando essa plataforma para compartilhar tudo, e uma dessas coisas é o vinho. Inclusive há uma aplicativo para o Iphone, o Delectable, que permite aos usuários recordar, compartilhar, descobrir e inclusive comprar vinhos com apenas uma foto. Isto está se tornando muito popular entre os aficionados por vinho.
Os apreciadores de vinho de hoje são um grupo aventureiro, que confia em seu próprio paladar e está disposto a confiar no conselho de suas redes de confiança. Com Parker se afastando, esta tendência só tende a acelerar.