Quando Wei Qiang telefonou para casa no dia 15 de março e ninguém respondeu, ele não ficou muito preocupado. Mas quando ninguém atendeu o telefone três dias depois, Wei soube que algo estava errado e pediu para que os vizinhos fossem à sua casa, onde sua mãe de 44 anos e sua filha de um ano viviam sozinhas.
Foi quando a tragédia na casa de Wei foi revelada na cidade Suzhou, da Província de Anhui, situada a oeste da China: A mãe de Wei tinha falecido e a sua filha estava quase morrendo, relatou a media estatal Chinesa “Notícias de Guangdong”, em 25 de março. Depois de tratada na emergência do hospital, a criança sobreviveu.
Assim como Wei e sua esposa, milhões de chineses das zonas rurais são trabalhadores migrantes. Eles trabalham nas cidades e deixam as suas crianças nas aldeias rurais, onde familiares idosos tomam conta delas. Diz-se que estas crianças são “deixadas para trás” e, de acordo uma matéria da media estatal do regime chinês Xinhua, publicada em 13 de março, existem cerca de 60 milhões de crianças chinesas nestas condições.
“Na China, a lei de apoio às crianças crianças nunca será totalmente aplicada devido à corrupção, à ineficácia Estado de Direito, e às práticas antidemocráticas do regime chinês”, disse Gao Guangjun, advogado chinês exilado de direitos humanos.
Estas crianças estão vulneráveis. Em 2014, 49.2% delas sofreu algum tipo de acidente, e as meninas deixadas nas aldeias foram vítimas de 18.6% de todos os casos de agressão sexual envolvendo mulheres jovens, de acordo com o Xinhua.
Uma menina de 12 anos de Guang’an, na Província de Sichuan, ateou fogo na casa de um vizinho em março de 2014, pois ela pensava que sua mãe regressaria para casa se algum caso de emergência ocorresse.
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O problema principal deve-se ao sistema de registro de residência na China. Um registro oficial identifica as pessoas pelo nome, pelos pais, esposa, data de nascimento, e área de residência. Uma pessoa só tem permissão para viver na área em que está registrada.
Wei e outros trabalhadores migrantes vêm-se numa situação na qual, para trabalharem, eles precisam se mudar para cidades que não têm um estatuto legal. Nas cidades, os trabalhadores migrantes não têm direito de usufruir de serviços sociais, e as suas crianças não têm permissão para serem inscritas nas escolas. Por isso os trabalhadores são obrigados a deixar suas crianças para trás.
Praticamente órfãos
O sistema de registro de residência criou outros problemas sociais. De acordo com um relatório de 23 de março do People’s Net, um website estatal controlado pela mídia do regime chinês People’s Daily, existem cerca de 580 mil crianças na China em situação idêntica à de um órfão. São crianças que não recebem cuidados adequados, pois seu único parente (pai ou mãe) se encontra ausente, com incapacidade mental, preso, ou severamente incapacitado.
Normalmente, os órfãos chineses recebem um subsídio mensal das autoridades locais na província de Shaanxi, porém estes que são “praticamente órfãos” não recebem nada, pois não possuem provas de que ambos os seus pais estão mortos, de acordo com o People’s Net.
Uma pesquisa demonstra que 17.7% destes órfãos se encontram ocasionalmente com fome ou sempre com fome, de acordo com o People’s Net. Ainda segundo a pesquisa, 69.8% destes órfãos na escola primária compram roupas novas apenas durante o Ano Novo Chinês ou não compram roupas novas o ano todo.
Jiang Yuanmin, um ativista de direitos humanos na China, em entrevista ao Epoch Times expressou dúvidas sobre o número destas crianças praticamente órfãs publicado pela mídia do regime.
“Existem pelo menos 100 milhões de crianças praticamente órfãs na China, porque existem 300 milhões de trabalhadores migrantes de áreas rurais,” diz Jiang
Jiang sugeriu que o sistema de registro de residência fosse eliminado rapidamente, de forma a solucionar os problemas destas crianças que são praticamente órfãs.
“O registro de residência limita a liberdade do povo chinês, pois eles não podem viajar livremente. E o regime chinês adota tal sistema para controlar melhor os seus cidadãos sob o pretexto de manter a estabilidade social”, afirmou Li Yexiong, um orador da Universidade de Guangzhou na capital da província de Guangdong, em uma entrevista ao Epoch Times.
“Na Europa e nos Estados Unidos, não existe uma política desse tipo, porque as crianças sempre ficam com os seus pais”, disse Li Yexiong.
Gao Guangjun, um advogado de direitos humanos exilado que vive atualmente na Europa, em uma entrevista ao Epoch Times, também questionou o número destas crianças praticamente órfãs publicado pela mídia do regime, enquanto fazia uma comparação entre a China e os Estados Unidos.
“Nos Estados Unidos, existe uma lei que requer que os pais tomem conta de suas crianças”, disse Gao. “Se elas não podem tomar conta ou são incapazes, o governo dos EUA intervém e cuida destas crianças. Elas nunca passarão fome ou serão impedidas ir à escola.”
“Na China, a lei de apoio às crianças crianças nunca será totalmente aplicada devido à corrupção, à ineficácia Estado de Direito, e às práticas antidemocráticas do regime chinês”, acrescentou Gao.