Regime comunista chinês pede dicas aos internautas e depois os prende

25/10/2013 16:02 Atualizado: 07/11/2013 22:13

Oficiais do Partido Comunista Chinês (PCC) lançaram uma nova tentativa de censurar a internet sob o pretexto de “combater a corrupção”. Internautas são incentivados a enviar informações para um novo site de denúncias, mas aqueles que fazem isso podem ser presos. No entanto, os chineses estão revidando enquanto continuam a usar a internet para expor oficiais corruptos e dizer o que pensam.

O site de denúncias foi iniciado pelo Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID) do PCC, a fim de receber reclamações do público como “uma importante fonte de pistas na luta contra a corrupção”, segundo a Xinhua, uma mídia estatal porta-voz do PCC.

O site abriu em 2 de setembro e recebeu 377.450 relatos no mesmo dia, segundo a edição de setembro da revista Trend de Hong Kong. O grande número de acesso sobrecarregou o site e ele parou de funcionar cinco vezes na inauguração, o maior blecaute foi de 31 minutos. Nos dois dias seguintes, o site recebeu 257.420 e 313.821 denúncias de corrupção, respectivamente.

Na internet da China há 500 milhões de internautas e 200 milhões de contas do Weibo, uma versão chinesa do Twitter. Nos últimos meses, a polícia em várias áreas prendeu dezenas de internautas conhecidos que revelaram oficiais corruptos, resultando em prisões por “perturbar a ordem pública” e “fabricar boatos”.

Por exemplo, a polícia prendeu Duan Xiaowen da província de Hunan, no Centro da China, por “suspeita de criar tumulto”, segundo um artigo do Diário Metropolitano do Sul. Duan é bem conhecido por questionar porque uma vencedora de concurso de beleza local rapidamente se tornou uma funcionária do governo da cidade e por expor quem era o dono de uma casa construída ilegalmente no topo de um edifício de cinco andares, informou o Diário.

A polícia de Pequim confirmou em 28 de setembro a prisão do renomado ativista ambiental Dong Liangjie por “criar problemas”, informou a Xinhua. Dong tem mais de 300 mil seguidores no Weibo e expôs questões como anticoncepcionais na água da torneira e o alto teor de chumbo na carne de porco na cidade de Nanjing. O regime afirmou que Dong fez estas afirmações para aumentar sua reputação.

“Verdade sem censura

O comentarista Chen Simin disse acreditar que a repressão do regime não será eficaz e que mesmo com essa máquina de propaganda massiva o regime não pode derrotar o Weibo. Chen disse que o Weibo está espalhando a verdade sem censura que as pessoas querem saber. Ele acredita que os internautas chineses são os que realmente controlam a disseminação da informação na internet.

Pei Minxin, professor de política governamental no Claremont McKenna College, comentou sobre a situação atual do PCC num artigo no New Straits Times. “Na última década, uma série de escândalos e crises – envolvendo a segurança pública, alimentos e medicamentos adulterados e a poluição ambiental – destruíram completamente a pouca credibilidade [do PCC]”, escreveu Pei.

Ele acrescentou que muitas pessoas influentes e bem sucedidas surgiram na internet. “Aproveitando-se da internet e do Weibo, elas se tornaram campeões da justiça social. Sua coragem moral e estatura social têm ajudado a construir o apoio em massa (medido por dezenas de milhões de seus seguidores no Weibo). Suas vozes, frequentemente reformulam os termos do debate da política social e colocam o PCC na defensiva.”

“Mas várias tendências emergentes, não observadas ou assinaladas apenas em isolamento, têm alterado significativamente o equilíbrio de poder entre o PCC e a sociedade chinesa, com o primeiro perdendo credibilidade e controle e o último ganhando força e confiança”, acrescentou Pei.