Regime comunista chinês afirma que doença semelhante à AIDS é apenas uma fobia

23/04/2011 00:00 Atualizado: 23/04/2011 00:00

Uma mulher que contraiu HIV através de sangue contaminado participa de uma demonstração de conscientização sobre a AIDS no Dia Mundial da AIDS na rodovia sul de Pequim em 2009. (AFP/Getty Images)

A propaganda oficial está espalhando que se trata de problema psicológico e que não existe o “vírus AIDS-HIV negativo”

A mídia estatal chinesa diz que doença semelhante à AIDS está “na cabeça”

Durante a semana passada, os meios de comunicação chineses têm estado ocupados falando de uma doença desconhecida, semelhante à AIDS e altamente contagiosa, chamada de “AIDS-HIV negativo”, que supostamente tem se alastrado por toda a China há vários anos e infectado muitas pessoas. Agora, os meios de comunicação oficiais intervieram para diminuir a importância da questão, dizendo que não existe tal doença e que as pessoas que afirmam que a contraíram e estão doentes precisam de ajuda psicológica. Em comunicado divulgado amplamente, o porta-voz do Ministério da Saúde chinês, Deng Haihua, anunciou em 4 de abril que a “AIDS-HIV negativo” é apenas uma “fobia da AIDS”.

Em 11 de abril, detalhou que “não existe a AIDS-HIV negativo” e que não existe o tal “vírus da AIDS-HIV negativo”. Uma enxurrada de propaganda oficial aconteceu no mesmo instante: 10 a 12 programas de 1 minuto divulgados pela agência Xinhua e pelo Diário do Povo a fim de desacreditar as queixas, uma série de relatórios e avisos contra a “Fobia da AIDS”, e um grupo de especialistas, alguns dos quais eram apenas funcionários do Partido, avisando as pessoas com a doença que parassem de dar ouvidos às notícias da imprensa de Hong Kong e procurassem ajuda para seus problemas psicológicos. As pessoas que sofrem do que eles consideram como doença não identificada com sintomas debilitantes como a AIDS se manifestaram contra as declarações oficiais e buscaram esclarecimentos junto ao Ministério da Saúde. Elas também recorreram aos meios de comunicação e especialistas em saúde para obter ajuda. Entre os sintomas da suposta doença estão a inflamação dos gânglios linfáticos, sangue sob a pele, fungos na língua, dores nas articulações e outras mais.

O Diário Oriental de Hong Kong e o Ming Pao produziram extensos relatórios sobre os doentes e suas enfermidades, e afirmaram que milhares de pessoas foram infectadas em seis províncias. Os pacientes relatam que foram intimidados por agentes de saúde que lhes disseram para ficarem calados sobre o assunto e, devido às suas queixas, alguns foram diagnosticados como “doentes mentais”. Um paciente na China continental deixou mensagem num fórum online chinês do Epoch Times, dizendo: “Esta doença existe e é altamente contagiosa. Minha família e meus amigos foram infectados por mim. Eu vivo em dor e miséria todos os dias e mal posso andar. Os funcionários do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDCP, sigla para o nome em inglês) me advertiram para não espalhar boatos ou teria de enfrentar as consequências. Fizeram ameaças dizendo que se eu continuasse falando, ninguém mais me ouviria e as pessoas me tratariam como louco”, escreveu ele. O Epoch Times não pôde averiguar as denúncias, mas a descrição está de acordo com as ações geralmente adotadas pelas autoridades chinesas quando se trata de controlar informações.

Uma mulher declarou ao Epoch Times que acredita ter se infectado há cinco anos quando fez uma tatuagem nas sobrancelhas. Depois da tatuagem, ela apresentou erupção cutânea, urticária e infecção oral com fungos. Com o passar dos anos, os sintomas pioraram. Além da infecção pulmonar e osteoporose, ela sente dores nas articulações e seus ossos estalam. Seu filho de 17 anos também está infectado e agora ambos apresentam sintomas muito graves. A mulher disse ainda que nunca pensou no HIV antes de ficar doente. “Tenho formação universitária e sou perfeitamente capaz de fazer meu próprio julgamento a respeito da doença. Não estou fazendo uma suposição cega. Os meus exames podem atestar que meu sistema imunológico está muito fraco”, disse ela. Explicou que havia levado seu filho até os médicos em Pequim e que eles admitiram que havia um problema, mas devido ao tom definido por altos funcionários, não havia nada que pudessem fazer. Disse que um especialista afirmou que o assunto era muito sensível e que ele perderia seu emprego se falasse sobre isso, mas que falaria se os altos funcionários viessem para investigar a doença.

Em 6 de abril, o porta-voz do Ministério da Saúde, Deng Haihua, declarou à imprensa chinesa que, entre setembro de 2009 e janeiro de 2010, o CDCP recrutou através do QQ (serviço de internet na China) 59 voluntários vítimas da nova doença que apresentavam os sintomas para participar de um estudo sobre o HIV e outros vírus desconhecidos. Nos pacientes que participaram do estudo foram feitos testes de HIV, exames físicos de rotina e preenchimento de um questionário psicológico. Em 21 de fevereiro de 2010, foram diagnosticados como normais em todos os testes, exceto no questionário psicológico, no qual foram classificados como “inferiores às pessoas comuns”. O Pequim News informou que “38 das pessoas estudadas tomaram medidas preventivas imaturas… diante da pressão de suspeitarem serem portadoras do vírus HIV, não foram maduras nem tranquilas na adoção de medidas preventivas”. Em fevereiro de 2011, o CDCP informou que amostras de sangue dos 59 pacientes haviam sido enviadas a um laboratório nos EUA especializado em testes de vírus, mas não quis revelar o nome do laboratório. Um jornalista do Epoch Times entrou em contato com um funcionário do CDCP que informou que o laboratório era da Universidade da Califórnia em São Francisco. Em 15 de março, o Epoch Times contatou o Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade, mas o professor responsável não estava disponível.

Segundo relatos online, durante as duas últimas sessões anuais dos dirigentes do Partido Comunista em Pequim, a equipe do CDCP disse aos pacientes que se preparavam para apelar que isto não era necessário porque as amostras de sangue haviam sido enviadas aos EUA para análise. As vítimas suspeitam que as autoridades simplesmente não queriam uma crise na saúde pública. Em entrevista telefônica ao Epoch Times, um homem da província de Fujian que se identificou como “Esperança”, disse estar seguro de não ter “Fobia da AIDS”. “Minha esposa e eu temos sintomas que nos dizem claramente que estamos infectados com um vírus.” Acrescentou que alguém com informação privilegiada lhe disse por simpatia que a doença é uma variação da AIDS, e que as autoridades não querem reconhecer isto. “Eles tentam me convencer a comprar remédios para AIDS e declaram que algumas pessoas se curaram tomando estes medicamentos”, disse Esperança.

Segundo um internauta de Xiangtan na província de Hunan, em dezembro de 2009 o Instituto Pasteur de Shanghai examinou o sangue de cinco pacientes de AIDS-HIV negativo. O pessoal encarregado do exame disse a um dos pacientes que o mesmo tipo de vírus foi encontrado nos cinco pacientes. A equipe inclusive perguntou se tomar remédios contra AIDS havia surtido algum efeito. Disseram que os resultados dos testes seriam divulgados em 28 de dezembro. Porém, não se soube mais nada a respeito. Quando o paciente perguntou novamente, o Instituto Pasteur de Shanghai negou as declarações.