A partir de março de 2012, a liderança do Partido Comunista Chinês começou a reduzir as dimensões do poder do enorme aparato de segurança interna do regime, o Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), com centenas de funcionários detidos numa operação que ainda continua.
O clímax da campanha ocorreu em dezembro de 2013. Em meados do mês, fontes em Pequim confirmaram que Zhou Yongkang, o ex-chefe do CAPL, foi colocado em “shuanggui”, uma forma abusiva de interrogatório do Partido Comunista Chinês (PCC) usada com seus próprios membros.
Então, em 20 de dezembro, um anúncio de uma única frase num website do PCC indicou que Li Dongsheng, o chefe da notória Agência 610, encontrou o mesmo destino.
Por mais de uma década, o CAPL foi um segundo centro de poder no aparato do PCC, controlando a polícia civil e militar, os tribunais e a Procuradoria – quase tudo relacionado à aplicação da lei.
De 2007 a 2012, Zhou foi chefe do CAPL e também membro do Comitê Permanente do Politburo, a organização de elite no topo do PCC. Ele era um dos homens mais poderosos da China. Pelos cinco anos anteriores, Zhou foi chefe do Ministério da Segurança Pública, vice-chefe do CAPL e membro do Politburo.
Em 2009, Li Dongsheng foi nomeado para chefiar a Agência 610, o órgão do PCC encarregado de erradicar a prática espiritual do Falun Gong, onde ele serviu como vice-diretor desde a criação da agência de inteligência em 1999. Poucos anos depois de sua formação, a Agência 610 foi colocada sob o comando do CAPL. No momento de sua prisão, Li também atuava como vice-ministro da segurança pública.
Tanto Zhou Yongkang como Li Dongsheng são criaturas do ex-líder chinês Jiang Zemin, e o movimento contra eles e seus asseclas também visa a desmantelar a facção subordinada a Jiang.
Movimentos agressivos
O primeiro golpe contra Zhou Yongkang e o poder do CAPL foi desferido em março 2012. Bo Xilai, o sucessor de Zhou escolhido a dedo para chefiar o CAPL, foi colocado em prisão domiciliar pelo Escritório da Guarda Central, o órgão responsável pela segurança dos principais líderes do PCC. Em setembro de 2013, ele foi condenado à prisão perpétua por suborno, corrupção e abuso de poder.
Quando o novo Comitê Permanente do Politburo foi anunciado em novembro de 2012, nenhum membro do aparato de segurança estava nele, evitando a repetição de alguém que combinasse a autoridade sobre a segurança nacional com um assento no órgão mais poderoso do PCC, como Zhou Yongkang havia feito.
Movimentos agressivos e rápidos foram feitos contra ex-associados e asseclas de Zhou no início de 2013.
De acordo com um relatório apresentado à liderança do PCC em março de 2013 pelo ex-funcionário de alto escalão do CAPL; nos últimos três meses, 452 funcionários do CAPL foram submetidos à shuanggui ou presos, incluindo 392 da Secretaria de Segurança Pública, 19 da Procuradoria, 27 do sistema judicial, 5 do Departamento de Justiça e 10 dos serviços de segurança não-públicos. Um adicional de 12 altos funcionários tiraram as próprias vidas.
O relatório afirma que, enquanto Zhou Yongkang foi diretor do CAPL, chefes de polícia em diferentes partes da China também foram muitas vezes secretários do CAPL locais e membros das Assembleias locais e dos Comitês Permanentes locais do PCC.
Sem separação entre a autoridade sobre a Segurança Pública, o Ministério Público e os tribunais; o poder da polícia ficou irrestrito e os policiais se tornaram arrogantes e despóticos, segundo o relatório. Isto resultou em muitos oficiais da Segurança Pública violando a lei e cometendo crimes graves, segundo o relatório.
Embora o ritmo alucinante do início de 2013 não tenha se mantido, houve uma sucessão de movimentos que continuam a enfraquecer o CAPL.
Entre as prisões mais significativas está a de Cao Jianming. No início de setembro, o jornal The Australian informou que o procurador-geral da Suprema Procuradoria Popular da República Popular da China estava sob investigação. Cao era um dos funcionários mais importantes do CAPL durante o mandato de Zhou Yongkang e desempenhou um papel de liderança na perseguição ao Falun Gong.
Em 4 de outubro, a mídia Apple Daily de Hong Kong, citando informações da revista Wind, afirmou que Wang Lequan, o ex-chefe do Partido Comunista na província de Xinjiang, no Oeste da China, estava sob investigação do Comitê Central de Inspeção Disciplinar por corrupção. Quando Zhou Yongkang foi ministro da Segurança Pública, Wang e Zhou eram amigos íntimos e, quando Zhou foi promovido ao Comitê Permanente do Politburo, Wang se mostrou um aliado confiável.
Em 18 de novembro de 2013, a mídia chinesa informou que Xiao Shuangsheng, o chefe do CAPL na cidade de Langfang, província de Hebei, foi colocado sob shuanggui.
Em 21 de novembro, o Supremo Tribunal chinês emitiu “Sugestões para a criação de um mecanismo para evitar a injustiça jurídica”, que afirmava que o CAPL não deveria tomar parte em qualquer caso judicial, a menos que implicasse relações internacionais, defesa nacional e outras áreas especiais. A influência política do CAPL, que anteriormente não tinha limites na supervisão dos processos judiciais, foi assim restringida ainda mais.
O Epoch Times já havia informado que os crimes fundamentais de Bo Xilai e Zhou Yongkang, e o gatilho da campanha contra o CAPL, envolveriam o planejamento de um golpe contra a suprema liderança do PCC e prosseguir com a extração sistemática e forçada de órgãos dos praticantes do Falun Gong.
Até agora, o PCC encobriu esses crimes, embora as centenas de funcionários do regime varridos na campanha para enfraquecer o CAPL estejam implicadas em um ou nos dois crimes.