Regime chinês, um ‘órfão internacional’, tenta justificar seu crescente poder militar

17/06/2012 03:00 Atualizado: 17/06/2012 03:00

Marinheiros norte-americanos no convés do USS Makin Island, em Hong Kong, em 25 de maio. (Dale de la Rey/AFP/Getty Images)Um recente relatório de um grupo que reivindica ser um instituto de pesquisa independente na China é o mais recente esforço do Partido Comunista Chinês (PCC) para convencer o povo chinês de que os Estados Unidos querem interferir arrogantemente com os assuntos internos da China e impedir o progresso do país.

O PCC está correto em apontar para o poder norte-americano como algo que os chineses precisam entender, mas o PCC, não é de surpreender, tira a lição errada disso.

O Conselho Chinês para a Promoção da Cultura Estratégica lançou em 9 de junho “Uma avaliação da força militar dos EUA”. Embora o Conselho diga que não tem nenhuma ligação com o Estado chinês, seu relatório estava coberto principalmente com referências a jornais controlados pelo Estado, incluindo o Diário do Povo e a Agência de Notícias Xinhua, mídias porta-vozes do regime comunista chinês.

No relatório, um major-general levantou 10 questões sobre o poder militar norte-americano, como “Quem possui a maior e melhor equipada força armada? Quem tem o maior arsenal nuclear? Que país que se engaja em guerras mais frequentemente?”

O ponto maior era que o poderio militar sem controle dos EUA é perigoso para o mundo. Sua mensagem escondida era que a expansão militar do regime chinês fornece o contrapeso necessário aos Estados Unidos e por isso é bom para a paz mundial.

Uma revisão rápida dos países economicamente poderosos mostra os Estados Unidos desempenham o papel de líder mundial porque outros países confiam nele.

Por exemplo, o Canadá faz fronteira com os EUA e é um aliado incondicional dos EUA. O Canadá não tem necessidade de construir uma grande força de defesa desde que os EUA têm uma poderosa força militar capaz de defender tanto o Atlântico como o Pacífico.

Ele é inteligente para aproveitar a sombra de uma grande árvore. O Canadá precisa manter apenas uma força militar simples e eficiente (o exército canadense tem 35 mil membros no serviço ativo e sua marinha tem 8.500) para defender de forma adequada o país que tem o segundo maior território do mundo.

Outro exemplo é a Inglaterra, que era há muito conhecida por sua poderosa marinha. Devido à forte presença militar dos EUA e ao acordo de segurança da OTAN, a ex-poderosa Marinha Real já não precisa manter tão grande escala.

A Marinha Real tem hoje 36 mil membros ativos e cerca de 80 navios de guerra, com uma tonelagem total de 340 mil toneladas, em comparação com sua tonelagem total de 2,71 milhões de toneladas em 1914, antes da 1ª Guerra Mundial.

O Japão possui uma força de defesa restrita e de pequena escala, embora tenha a terceira maior economia nacional do mundo. A Força Marítima de Autodefesa do Japão tem cerca de 45 mil componentes ativos e uma tonelagem de cerca de 430 toneladas. Mas antes que a guerra estourasse no Pacífico em 1941, a Marinha Imperial Japonesa tinha uma tonelagem de 1,2 milhões de toneladas.

Outro exemplo da confiança de outras nações nos EUA é a ausência de proliferação nuclear na Europa. Devido à proteção nuclear dos EUA, nem uma única nação no âmbito da OTAN, exceto o Reino Unido e a França tem a necessidade de desenvolver suas próprias armas nucleares.

Se os EUA fossem vistos como uma ameaça à paz mundial, outros países industrializados poderiam se tornar grandes potências militares durante a noite.

Em vez disso, os EUA forneceram as forças e os fundos necessários para manter a estabilidade internacional e outras nações industrializadas têm se beneficiado por serem capazes de terem menores gastos com defesa.

O PCC sempre diz, “O povo da China tem olhos abertos.” A comunidade internacional deve ter os olhos ainda mais abertos.

Se os EUA tivessem seguido o exemplo das autoridades chinesas, trapaceando e ignorando a lei, teria havido de imediato uma série de nações se militarizando e aliando em oposição aos EUA.

O sistema mais prático de balancear os EUA é que cada nação siga naturalmente seus próprios interesses.

Se os EUA desempenham bem seu papel de estabilização do sistema internacional, nações aceitarão sua liderança. Se os EUA falham, então, outras nações se apressarão em desenvolver seu poderio militar.

Em qualquer caso, a utilização de forças militares é um fenômeno superficial. As principais questões envolvem por que a força foi usada, qual foi a motivação e que princípios foram seguidos.

O Imperador Tang (1675-1646 a.C.), o primeiro imperador da Dinastia Shang, recebeu um grande número de reclamações quando começou a conquistar outras nações. Quando o exército de Shang estava no Oriente, o Ocidente reclamava, quando o exército de Shang estava no Sul, o Norte reclamava.

Em vez de reclamar sobre o Imperador Tang interferir nos assuntos internos dos outros, os vizinhos reclamavam, “Por que você me deixou para trás? Você deve vir me resgatar primeiro!”

Ao contrário dos EUA, o PCC não esteve envolvido em guerras por décadas, mas seus vizinhos não o julgam amigável. Eles preferem sair de seu caminho e fazer exercícios militares conjuntos com as forças do “imperialismo norte-americano” do outro lado do oceano do que com os chamados “amantes-da-paz” de Pequim.

O destacado economista He Qinglian escreveu recentemente, “Distanciando-se de valores universais, o regime chinês transformou-se num órfão internacional.”

O grande general chinês preocupado com a avaliação da força militar dos EUA tem estado desnecessariamente preocupado com as pessoas do mundo. Talvez ele investisse seu tempo de forma mais proveitosa pensando em como a antiga China, anterior ao PCC, ganhou o respeito de seus vizinhos e como a China de hoje tornou-se um órfão internacional.

Wen Zhao escreve regularmente sobre a política chinesa e atualmente vive no Canadá.